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Cantor tentou defender seu patriotismo
DA REPORTAGEM LOCAL
A questão política esteve
presente, sim, na obra de
Wilson Simonal, e não só pelo viés da questão racial. Ressurgem agora, num disco-bônus duplo na caixa da
EMI, momentos delicados
da relação entre a música
popular brasileira e o regime
de direita instalado no Brasil
no início dos anos 70.
Após o sucesso da festiva,
mas aparentemente apolítica "País Tropical" (69), de
Jorge Ben, Simonal passou a
aderir à propaganda ufanista que partia do governo
("Brasil, ame-o ou deixe-o"
era o slogan) e ia atingir a
população, com auge na
campanha vitoriosa pela Copa do Mundo de 70.
Por conta disso, Simonal
gravou em compacto "Aqui
é o País do Futebol" (novembro de 70), de autoria de
Milton Nascimento e Fernando Brant, mais oprimida
que ufanista: "Brasil só é futebol/ 90 minutos de emoção
e alegria/ esqueça a casa e o
trabalho, a vida fica lá fora
(...)/ inferno fica lá fora/ as
dores ficam lá fora".
Pouco antes, em setembro,
lançara "Que Cada um
Cumpra o Seu Dever" de sua
própria autoria, em que tentava defender o próprio patriotismo. E saiu se explicando, como em depoimento ao
jornal "O Globo", transcrito
na caixa: "Sou brasileiro paca, não tenho vergonha de
ser (...). Se os militares estão
aí e você não gosta desse regime de exceção, o que deve
fazer é trabalhar para esse
regime mudar no futuro, e
não ficar tumultuando".
Veio por fim, também de
Jorge Ben, "Brasil, Eu Fico"
(dezembro de 70), de contato evidente com o slogan
"ame-o ou deixe-o". "Essa
de certa forma sempre me
incomodou, não era uma
música que ele poderia ter
gravado", diz hoje Wilson
Simoninha, que no entanto a
integrou ao material.
(PAS)
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