São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cantor tentou defender seu patriotismo

DA REPORTAGEM LOCAL

A questão política esteve presente, sim, na obra de Wilson Simonal, e não só pelo viés da questão racial. Ressurgem agora, num disco-bônus duplo na caixa da EMI, momentos delicados da relação entre a música popular brasileira e o regime de direita instalado no Brasil no início dos anos 70.
Após o sucesso da festiva, mas aparentemente apolítica "País Tropical" (69), de Jorge Ben, Simonal passou a aderir à propaganda ufanista que partia do governo ("Brasil, ame-o ou deixe-o" era o slogan) e ia atingir a população, com auge na campanha vitoriosa pela Copa do Mundo de 70.
Por conta disso, Simonal gravou em compacto "Aqui é o País do Futebol" (novembro de 70), de autoria de Milton Nascimento e Fernando Brant, mais oprimida que ufanista: "Brasil só é futebol/ 90 minutos de emoção e alegria/ esqueça a casa e o trabalho, a vida fica lá fora (...)/ inferno fica lá fora/ as dores ficam lá fora".
Pouco antes, em setembro, lançara "Que Cada um Cumpra o Seu Dever" de sua própria autoria, em que tentava defender o próprio patriotismo. E saiu se explicando, como em depoimento ao jornal "O Globo", transcrito na caixa: "Sou brasileiro paca, não tenho vergonha de ser (...). Se os militares estão aí e você não gosta desse regime de exceção, o que deve fazer é trabalhar para esse regime mudar no futuro, e não ficar tumultuando".
Veio por fim, também de Jorge Ben, "Brasil, Eu Fico" (dezembro de 70), de contato evidente com o slogan "ame-o ou deixe-o". "Essa de certa forma sempre me incomodou, não era uma música que ele poderia ter gravado", diz hoje Wilson Simoninha, que no entanto a integrou ao material. (PAS)


Texto Anterior: Música: Wilson Simonal respira em caixa de luxo
Próximo Texto: Cinema: Tarantino nega política em Cannes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.