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Eletropaulo corta energia elétrica do Masp
Dívida de R$ 3,47 mi do museu com a empresa, acumulada em 7 anos, "gato" e quebra de acordos levaram à interrupção
Direção do Masp usa geradores para preservar as obras e manter operações básicas, mas não informa se o museu estará aberto hoje
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Museu de Arte de São Paulo, o Masp, teve seu fornecimento de energia elétrica cortado às 7h de ontem pela Eletropaulo devido à falta de pagamento de uma dívida com a
concessionária de energia. Dono do mais importante acervo
de arte moderna da América
Latina, com mais de 7.000
obras de artistas como Vincent
van Gogh, Claude Monet e Pablo Picasso, o Masp passa por
crise financeira que ontem afetou sua infra-estrutura.
Com uma dívida com a Eletropaulo de R$ 3,47 milhões,
acumulados em um período de
sete anos de inadimplência, a
administração e a reserva técnica só funcionaram graças a
geradores de energia movidos a
diesel, segundo nota distribuída pela diretoria do Masp (leia à
direita a íntegra do comunicado). Mesmo com a geração de
emergência, o museu ficou parcialmente fechado ontem
-apenas grupos com visita
agendada puderam percorrer a
exposição "Degas - O Universo
de um Artista", mas não tiveram acesso à coleção permanente. Não há informação se
hoje a instituição estará aberta
ao público.
No final da manhã de ontem,
a direção do museu reuniu-se
com a Eletropaulo para tentar
solucionar a crise, mas não
houve acordo. "O diretor do
museu, Julio Neves, não trouxe
proposta concreta de solução.
Ele só disse que o museu está
numa situação difícil e pediu o
religamento da energia", disse
Ricardo Lima, vice-presidente
comercial da Eletropaulo.
O corte ocorreu por dívidas
anteriores a junho do ano passado, época de um acordo que
reduziu os gastos mensais de
cerca de R$ 95 mil para R$ 80
mil. Desde então, o museu paga
as contas de luz em dia, mas os
R$ 3,47 milhões referem-se às
mensalidades dos anos anteriores e à identificação de uma "ligação irregular", o popular "gato", ocorrido durante dois anos,
no valor de R$ 414 mil. Dois
acordos para o pagamento da
dívida, segundo Lima, já haviam sido rompidos, um de julho de 2000 e outro de fevereiro de 2004, que previa 35 parcelas de R$ 21 mil. "Foi paga
apenas a primeira parcela",
afirmou o vice-presidente.
O museu tem ainda outras
pendências financeiras. Segundo dados do Tribunal de Justiça
de São Paulo, entre falta de pagamento de serviços técnicos,
danos morais, indenizações e
outros, o Masp está sendo cobrado judicialmente em R$
3.998.413,79. Há também uma
dívida, que o museu contesta,
de R$ 3,3 milhões com o INSS.
Apelo
O secretário da Cultura do
Estado de São Paulo, João Batista de Andrade, fez, no fim da
tarde de ontem, um apelo à direção da Eletropaulo solicitando o religamento e o início de
negociações. "Não se pode colocar em risco o patrimônio
cultural do museu."
Segundo Lima, "quem pôs
em risco a situação do museu
foi sua diretoria, pois em 5 de
dezembro de 2005 ela foi comunicada que estava sujeita a
corte. Antes de cortar a energia,
tivemos o cuidado de verificar
se há geradores no local". Em
relação ao apelo do secretário, o
vice-presidente afirmou que
"cabe à direção do museu uma
proposta concreta".
E as obras? Estariam em risco? "Enquanto o gerador estiver garantindo a estabilidade
de energia no museu, não há
risco para seu acervo. Apenas
se os aparelhos que mantêm o
ambiente estável, em sua temperatura e umidade, forem desligados, aí sim as obras podem
sofrer danos", afirma Florence
Maria White de Vera, conservadora e restauradora de pintura aposentada do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Tese oposicionista
Segundo oposicionistas do
diretor do Masp ouvidos pela
Folha, a crise do Masp pode ser
uma estratégia de Júlio Neves
para impor a torre da Vivo que
ele quer construir ao lado do
prédio de Lina Bo Bardi.
Como a obra foi vetada pelo
patrimônio histórico da prefeitura, Neves teria deixado o museu descuidado para mostrar
que a torre é imprescindível e
assim remover os obstáculos
interpostos à sua construção,
acreditam os oposicionistas,
que pediram anonimato.
Colaborou a Reportagem Local
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