São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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Crítica

Autor aponta caminhos diferentes

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Paraíso Perdido", de Cees Nooteboom, trata de muitos assuntos em suas 160 páginas: de Alma, uma brasileira descendente de alemães que é estuprada em uma favela de São Paulo, da relação dela com uma amiga próxima, da viagem para a Austrália que ambas fazem, de viagens e lugares, de anjos, de aborígenes, de um crítico literário holandês que vai para uma espécie de spa próximo a Innsbruck em busca de recuperação, de amores que destroem e restauram, de derrotas, de literatura, de ficção. Não é um livro fácil de resumir, ainda que seja aparentemente simples de ler.
Em uma longa resenha sobre a obra, publicada há algumas semanas no suplemento "The New York Review of Books", o escritor sul-africano J.M. Coetzee, Nobel de Literatura de 2003, afirma gostar mais da segunda parte do texto, que traz a história do crítico, e esclarece as conexões entre o que vinha sendo narrado, do que da primeira. De acordo com o escritor, ali aparece o "tratamento Nooteboom" em sua plenitude.
Pode ser que, de fato, as idas e vindas da personagem Alma precisassem de um pouco mais de acabamento, mas a verdade é que, para quem acompanha com alguma regularidade os lançamentos de narrativas recentes ("Paraíso Perdido" foi originalmente publicado em 2004) nas prateleiras de nossas livrarias, este é daqueles livros que redimem as coisas e que mostram existir ainda caminhos diferentes do memorialismo piegas, da auto-ajuda disfarçada e da caracterização realista grosseira.

Humor
Talvez isso não signifique muito, afinal, como nota com ironia e bom humor o primeiro narrador da obra, traduzida diretamente do holandês por Cristiano Zwiesele do Amaral, a leitura já não é dos hábitos mais freqüentes: "Tenho mania de querer saber o que as pessoas lêem, mas isso equivale a dizer "o que as mulheres lêem", porque os homens não lêem mais. E as mulheres, aprendi nesse meio-tempo, costumam segurar seus livros de uma maneira a não lhe dar chance de descobrir o título, seja no trem, no banco de um parque ou na praia. Preste atenção".
Candidato sempre mencionado na época da entrega do Nobel de Literatura, Nooteboom possui alguns livros publicados por aqui, entre eles "Dia de Finados" (Companhia das Letras) e "A Seguinte História" (Nova Fronteira). Para leitoras (e leitores): recomenda-se.


ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

PARAÍSO PERDIDO
Autor:
Cees Nooteboom
Tradução: Cristiano Zwiesele do Amaral
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 32 (160 págs.)
Avaliação: ótimo


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