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Crítica
Autor aponta caminhos diferentes
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Paraíso Perdido",
de Cees Nooteboom, trata de
muitos assuntos em suas 160
páginas: de Alma, uma brasileira descendente de alemães que é estuprada em
uma favela de São Paulo, da
relação dela com uma amiga
próxima, da viagem para a
Austrália que ambas fazem,
de viagens e lugares, de anjos, de aborígenes, de um crítico literário holandês que
vai para uma espécie de spa
próximo a Innsbruck em
busca de recuperação, de
amores que destroem e restauram, de derrotas, de literatura, de ficção. Não é um livro fácil de resumir, ainda
que seja aparentemente simples de ler.
Em uma longa resenha sobre a obra, publicada há algumas semanas no suplemento
"The New York Review of
Books", o escritor sul-africano J.M. Coetzee, Nobel de
Literatura de 2003, afirma
gostar mais da segunda parte
do texto, que traz a história
do crítico, e esclarece as conexões entre o que vinha
sendo narrado, do que da primeira. De acordo com o escritor, ali aparece o "tratamento Nooteboom" em sua
plenitude.
Pode ser que, de fato, as
idas e vindas da personagem
Alma precisassem de um
pouco mais de acabamento,
mas a verdade é que, para
quem acompanha com alguma regularidade os lançamentos de narrativas recentes ("Paraíso Perdido" foi
originalmente publicado em
2004) nas prateleiras de nossas livrarias, este é daqueles
livros que redimem as coisas
e que mostram existir ainda
caminhos diferentes do memorialismo piegas, da auto-ajuda disfarçada e da caracterização realista grosseira.
Humor
Talvez isso não signifique
muito, afinal, como nota com
ironia e bom humor o primeiro narrador da obra, traduzida diretamente do holandês por Cristiano Zwiesele do Amaral, a leitura já não
é dos hábitos mais freqüentes: "Tenho mania de querer
saber o que as pessoas lêem,
mas isso equivale a dizer "o
que as mulheres lêem", porque os homens não lêem
mais. E as mulheres, aprendi
nesse meio-tempo, costumam segurar seus livros de
uma maneira a não lhe dar
chance de descobrir o título,
seja no trem, no banco de um
parque ou na praia. Preste
atenção".
Candidato sempre mencionado na época da entrega
do Nobel de Literatura, Nooteboom possui alguns livros
publicados por aqui, entre
eles "Dia de Finados" (Companhia das Letras) e "A Seguinte História" (Nova Fronteira). Para leitoras (e leitores): recomenda-se.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
PARAÍSO PERDIDO
Autor: Cees Nooteboom
Tradução: Cristiano Zwiesele do Amaral
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 32 (160 págs.)
Avaliação: ótimo
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