São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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ARMAZÉM

DA REPORTAGEM LOCAL

No melhor espírito amador, aquele que muitos abandonam depois da profissionalização, os integrantes da Armazém Companhia de Teatro deixaram Londrina em 98 e foram conquistar lugar ao sol no Rio de Janeiro, aventura e tanto para um projeto que nascera, em 87, sob o signo da linguagem experimental.
O primeiro ano foi difícil. Atores dividiam a mesma casa. Não havia sede, um barracão como aquele da cidade paranaense que deu origem ao nome da trupe.
Um tanto sem rumo, decidiu-se emblematicamente pela montagem de "Esperando Godot". O texto do irlandês Samuel Beckett como que abriu o caminho. Elenco e o diretor Paulo de Moraes descobriram a Fundição Progresso, espaço da Lapa que, até o final de 98, era utilizado para festas.
Foi ali que a companhia reencontrou seu teto, o Espaço Oito, contribuindo para a revitalização cultural do local, compartilhado hoje por grupos alternativos como Intrépida Trupe e Teatro de Antônimo.
Antes da fase carioca, a Armazém já despertara a atenção do eixo Rio-SP por montagens como "A Ratoeira É o Gato" (93), de Michel de Guelderode, e "A Tempestade" (94), de William Shakespeare, esta com Paulo Autran como ator convidado.
Como o Cemitério de Automóveis, a saída de Londrina foi movida pela ambição do trabalho continuado, que permita à equipe sobreviver de sua arte. "Em nossa cidade, já sabíamos o quanto era difícil o desafio do trabalho de grupo. Chegamos ao Rio com esta consciência", afirma a atriz Patricia Selonk, 31.
Ela acha plausível que a Armazém tenha conquistado seu lugar no Rio por preencher, à época, lacuna de trabalhos experimentais na cidade, um contraponto, por exemplo, à influência da televisão nos palcos.
O núcleo de atores da Armazém é formado ainda por Simone Mazzer, Marcos Martins, Simone Vianna, Fabiano Medeiros, Sergio Medeiros e Ricardo Grings.
"Alice através do Espelho" (99), a remontagem de quatro peças do repertório (2000) e a estréia de "Da Arte de Subir em Telhados" (2001) atraíram o patrocínio fixo da Petrobras, renovado há pouco por três anos.
A estabilidade permite a materialização de alguns sonhos. Transpor "Da Arte de Subir em Telhados" integralmente para o DVD, com lançamento em 10 de julho próximo, é um deles. E coloca a companhia entre as pioneiras na iniciativa que também cativou o Oficina em São Paulo.
O projeto inclui a realização de um documentário sobre a companhia (por Pedro Asbeg).
Para o segundo semestre, estão previstos dois novos espetáculos embrionários. Um pela própria Armazém, baseado nos quadrinhos de Will Eisner, e outro em que alguns atores serão dirigidos por Moacir Chaves, da Péssima Companhia ("Bugiaria").
Espetáculo encenado em espaço cênico que lembra um galpão, sobre a memória dos irmãos Remédios e Das Dores, "Da Arte de Subir em Telhados" tem dramaturgia de Maurício Arruda Mendonça, em parceria com Moraes. Estréia em São Paulo em agosto, no Tendal da Lapa. De cá.(VS)


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