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Cineasta adapta herói das HQs e diz que quis dialogar com "interior agressivo das pessoas"
Ang Lee manda Hulk acordar os nervos do público
Divulgação
![](../images/i2406200301.jpg) |
Cena do filme "Hulk", dirigido por Ang Lee, em que foram utilizadas técnicas de computação gráfica para compor o personagem |
Diretor de "Hulk", Ang Lee diz que herói faz ponte com subconsciente do espectador
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Trauma verde
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
No primeiro plano, um cineasta
sutil, responsável por sucessos de
crítica como "O Tigre e o Dragão", "Tempestade de Gelo" e
"Razão e Sensibilidade".
Mas todo mundo tem lá, em segundo plano, o seu lado bronco. E
o de Ang Lee atende pelo nome de
"Hulk". Esgotado, após meses de
internação nos estúdios de efeitos
especiais da Industrial Light &
Magic, onde ajudou a moldar,
quadro a quadro, os movimentos
do grandalhão dos quadrinhos da
Marvel, o diretor chinês desabafa:
"Se vir uma árvore verde neste verão, eu juro que vou explodir!".
Em entrevista à Folha, Lee, 48,
falou sobre a nova produção, que
chega nesta semana aos cinemas
daqui, mas que já causou estrago
nas bilheterias americanas: US$
62,6 milhões só no final de semana de estréia -maior resultado
para o mês de junho desde 1999.
Folha - Por que Hulk?
Ang Lee - Para mim ele é uma
versão americana de "O Tigre e o
Dragão". "Hulk" é um filme em
que posso lidar com psicodrama,
mas, que, na superfície, é só uma
história em quadrinhos, como
eram as histórias "pulp" de artes
marciais que inspiraram "O Tigre
e o Dragão". São os nossos prazeres secretos (risos).
Folha - Que tipo de relação prévia
você tinha com o herói da Marvel?
Lee - Quem me apresentou de
verdade a ele foi [o roteirista] James Schamus. Até conhecia o personagem da série de televisão dos
anos 70, mas só fui olhar os quadrinhos agora. Cresci em Taiwan
e não tinha acesso a essas revistas.
Folha - E o seu filme acabou emprestando mais influências da série
ou da HQ?
Lee - A maior parte nós tiramos
dos gibis. Da série, acabamos
usando só aquela célebre frase:
"Você não vai gostar de me ver
bravo". Além da sensação de que
ele é sempre um fugitivo, que dá a
idéia de que o filme vai continuar.
Folha - E vai?
Lee - Não sei, estou tão exausto.
Se vir uma única árvore verde
neste verão, eu juro que vou explodir (risos)! Se o filme for um
hit, eles [os estúdios Universal]
vão querer o segundo, mas não sei
se vou estar nele. Sou um cineasta
à moda antiga. Quando algum assunto me interessa, mergulho de
cabeça, mas, se aparecer alguma
outra aventura, acabo indo atrás.
Folha - Fãs de HQs geralmente
são rigorosos com seus personagens favoritos. Você teme sofrer
muitas críticas deles?
Lee - Não me preocupo. Acho
que você pode destruir um livro,
mas fazer dele um bom filme. E
você pode ser leal a ele e fazer um
mau filme. Acho que estou sendo
leal à história e aos visuais originais, mas são 40 anos [desde o
surgimento de Hulk nas HQs],
inúmeros roteiristas e ilustradores que fizeram trabalhos maravilhosos. Peguei tudo o que podia
dos quadrinhos, mas tentei trazer
Hulk para o realismo do cinema.
Folha - E por que decidiu fazer Hulk por computação gráfica?
Lee - Fui educado para buscar
sempre a melhor escolha. Analisamos as tomadas, criamos os
modelos, pensamos no custo e em
quanto tempo levaria. Um mês de
pesquisas e de aprendizado, e a
conclusão foi: tem de ser em CG
[computação gráfica]. O pessoal
dos efeitos especiais esteve lá desde o início, fazendo as modelagens comigo, e o departamento de
arte, até o final das filmagens.
Folha - Você tirou alguma lição
das adaptações de "Homem-Aranha" e "X-Men"?
Lee - Assisti a eles, são bons, mas
não acho que adaptações de quadrinhos sejam em si um gênero
específico, como é o film noir ou a
comédia de costumes, por exemplo, que têm regras e caminhos
bem definidos a seguir. "Hulk"
não é um filme de super-herói,
ainda que seja baseado nos quadrinhos. É um filme de monstro,
como os clássicos da ficção americana ou mesmo "Frankenstein".
Folha - Um prato cheio para a psicologia?
Lee - Vejo Hulk como o nosso
subconsciente primitivo, a agressividade latente que nos mantém
vivos. Bruce Banner [o cientista
que se transforma em Hulk] representa aquilo que contém essa
força primária. E essa força tem
muito a ver conosco. Quero que
Hulk fale ao interior agressivo das
pessoas, ao seu subconsciente, id,
alter ego, como queira chamá-lo.
É um monstro amoral, mas você
se identifica com sua honestidade
e inocência. Ele é só uma criança.
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