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BALÉ REAL DA DINAMARCA
Programa variado não alcança a qualidade esperada
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Controvérsia e fragilidade
marcaram a estréia do Balé
Real da Dinamarca, no teatro Alfa, em São Paulo. Em sua quarta
temporada brasileira, a companhia trouxe um repertório variado, abrangendo balé clássico e
moderno. O programa é diferente
a cada noite; no último domingo,
foram apresentadas seis coreografias.
Antes de começar: as informações do programa são muito confusas. Entre as várias coreografias
que foram apresentadas, por
exemplo, não consta "Apollo";
mas há uma nota no programa
sobre a coreografia. Já sobre "Triplex" e "Flight to Budapest", não
há nenhuma nota, apesar de fazerem parte da noite.
Não há também indicação sobre a música de cada balé, somente o nome do compositor. A ordem do programa foi alterada,
para acomodar "Duo Tchaikovsky", de George Balanchine
(1904-83). Enfim: um programa
desses é um desserviço.
Começando, agora: "Flight to
Budapest", de Alexei Ratmansky.
Quatro cadeiras de avião, no centro do palco; ao som dos avisos de
vôo, uma paródia, exagerada e
irônica, do que se passa com os
passageiros e tripulantes (à espera
da comida, turbulências, conversas, namoros etc.). Os gestos são
do balé clássico; os maneirismos e
a ingenuidade cômica não acrescentam muito à dança.
Num outro plano, "Duo Tchaikovsky", de George Balanchine, é
a expressão suprema da suavidade neoclássica. O duo vive do entrelaçamento apurado de braços,
que cria uma relação espacial nova. Composição clássica de "pas-de deux", solo masculino, feminino e coda. Pena que os bailarinos
convidados, Caroline Cavallo
(London Royal Ballet) e Nikolaj
Hubbe (New York City Ballet),
não estavam no seu melhor dia.
Caroline Cavallo foi crescendo
depois em outras peças; já Nikolaj
Hubbe, que só dançou essa, ficou
devendo nos giros.
Na segunda parte do programa,
"Nomade" -com música de Arvo Part, "Fratres"- e "Triplex"
-com o "Concerto nš 5 para Piano", de J.S. Bach (1685-1750)-,
de Tim Rushton. É uma dança de
imagens fortes, conjugando sensualidade e abstração. Seus movimentos partem do clássico em
busca de novas formas. Das duas,
"Nomade" é a mais elaborada.
Mobilidade e imobilidade; movimentos ondulantes se alternam
com gestos mais cortados. Não
entusiasma, não compromete.
Outra coreografia, "The Wish",
de Stanton Welsh, é um duo de
sentimentos fortes. A música
-recolhida dos "Cantos de Auvergne" de Canteloube (1879-1957)- recria um canto pastoral.
Sombras e luzes acentuam a nostalgia dessa dança de encontros e
desencontros amorosos.
Caroline Cavallo, aqui, estava
suave e precisa; suas linhas redesenharam o espaço ao redor. Por
outro lado, alguns exageros "expressivos" marcam o desenho coreográfico de mãos e braços do
"partner". Pergunta: quem era
ele? (O programa não diz.)
O mais esperado e mais bem
elaborado balé da noite foi o terceiro ato de "Napoli", um "divertissent" de August Bournonville
(1805-79). Explora os movimentos das pernas, dobrando o tempo
da música e criando muitas "baterias". Bailarinos e bailarinas se revezam em pequenos solos, numa
riqueza de minúcias.
Se esse é mesmo o Balé Real da
Dinamarca, fica muito aquém do
que se imaginava. Os desencontros dos grupos foram muitos,
com falhas técnicas nos giros e
nos equilíbrios. Para um grupo
desse porte, não são desculpáveis.
Para não falar de certo desleixo
chegando ao limite das barbatanas dependuradas da sapatilha de
uma bailarina.
Noites assim acontecem. A gente fica à espera de outra visita.
Avaliação:
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