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São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2003

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BALÉ REAL DA DINAMARCA

Programa variado não alcança a qualidade esperada

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Controvérsia e fragilidade marcaram a estréia do Balé Real da Dinamarca, no teatro Alfa, em São Paulo. Em sua quarta temporada brasileira, a companhia trouxe um repertório variado, abrangendo balé clássico e moderno. O programa é diferente a cada noite; no último domingo, foram apresentadas seis coreografias.
Antes de começar: as informações do programa são muito confusas. Entre as várias coreografias que foram apresentadas, por exemplo, não consta "Apollo"; mas há uma nota no programa sobre a coreografia. Já sobre "Triplex" e "Flight to Budapest", não há nenhuma nota, apesar de fazerem parte da noite.
Não há também indicação sobre a música de cada balé, somente o nome do compositor. A ordem do programa foi alterada, para acomodar "Duo Tchaikovsky", de George Balanchine (1904-83). Enfim: um programa desses é um desserviço.
Começando, agora: "Flight to Budapest", de Alexei Ratmansky. Quatro cadeiras de avião, no centro do palco; ao som dos avisos de vôo, uma paródia, exagerada e irônica, do que se passa com os passageiros e tripulantes (à espera da comida, turbulências, conversas, namoros etc.). Os gestos são do balé clássico; os maneirismos e a ingenuidade cômica não acrescentam muito à dança.
Num outro plano, "Duo Tchaikovsky", de George Balanchine, é a expressão suprema da suavidade neoclássica. O duo vive do entrelaçamento apurado de braços, que cria uma relação espacial nova. Composição clássica de "pas-de deux", solo masculino, feminino e coda. Pena que os bailarinos convidados, Caroline Cavallo (London Royal Ballet) e Nikolaj Hubbe (New York City Ballet), não estavam no seu melhor dia. Caroline Cavallo foi crescendo depois em outras peças; já Nikolaj Hubbe, que só dançou essa, ficou devendo nos giros.
Na segunda parte do programa, "Nomade" -com música de Arvo Part, "Fratres"- e "Triplex" -com o "Concerto nš 5 para Piano", de J.S. Bach (1685-1750)-, de Tim Rushton. É uma dança de imagens fortes, conjugando sensualidade e abstração. Seus movimentos partem do clássico em busca de novas formas. Das duas, "Nomade" é a mais elaborada. Mobilidade e imobilidade; movimentos ondulantes se alternam com gestos mais cortados. Não entusiasma, não compromete.
Outra coreografia, "The Wish", de Stanton Welsh, é um duo de sentimentos fortes. A música -recolhida dos "Cantos de Auvergne" de Canteloube (1879-1957)- recria um canto pastoral. Sombras e luzes acentuam a nostalgia dessa dança de encontros e desencontros amorosos.
Caroline Cavallo, aqui, estava suave e precisa; suas linhas redesenharam o espaço ao redor. Por outro lado, alguns exageros "expressivos" marcam o desenho coreográfico de mãos e braços do "partner". Pergunta: quem era ele? (O programa não diz.)
O mais esperado e mais bem elaborado balé da noite foi o terceiro ato de "Napoli", um "divertissent" de August Bournonville (1805-79). Explora os movimentos das pernas, dobrando o tempo da música e criando muitas "baterias". Bailarinos e bailarinas se revezam em pequenos solos, numa riqueza de minúcias.
Se esse é mesmo o Balé Real da Dinamarca, fica muito aquém do que se imaginava. Os desencontros dos grupos foram muitos, com falhas técnicas nos giros e nos equilíbrios. Para um grupo desse porte, não são desculpáveis. Para não falar de certo desleixo chegando ao limite das barbatanas dependuradas da sapatilha de uma bailarina.
Noites assim acontecem. A gente fica à espera de outra visita.


Avaliação:  


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