|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GASTRONOMIA
Livro apresenta "lemon", mas não diferencia limões
COLUNISTA DA FOLHA
Quantas vezes cozinheiros
amadores e profissionais, no
Brasil, já não se deram mal ao realizar receitas retiradas de livros
traduzidos dos Estados Unidos
ou da Europa, quando um dos ingredientes básicos era o limão?
Quantas vezes a torta ou o molho salgado não ficaram ácidos
demais, ou até mesmo com uma
doçura indesejada, além de fragrâncias que decepcionaram
àqueles que, no exterior, experimentaram o prato em questão?
Isso vem acontecendo com freqüência no Brasil, por um problema de tradução ou, em uma análise mais dura, por um enorme desconhecimento dos ingredientes
utilizados nas receitas.
Quando em inglês se determina
o uso do ingrediente "lemon", o
tradutor apressado coloca ali: limão. Acontece que o limão que
conhecemos por aqui, verdinho
(e em duas variedades mais conhecidas, o taiti e o já rarefeito galego), é chamado, em inglês, "lime" (nome científico, Citrus aurantifolia). E quando as receitas
recomendam o uso do "lemon",
estão se referindo a outro ingrediente, que só agora começa a ser
mais conhecido no Brasil: o limão-siciliano (Citrus limon), fruto mais robusto, cuja casca amarela o diferencia imediatamente
do nosso verdinho produto nacional.
Limão em livro
O limão-siciliano começou a
aparecer nas prateleiras dos brasileiros primeiro como produto importado. Agora já é produzido no
Brasil e vai se tornando mais acessível. Um novo lançamento editorial vai ajudar o público que tem
interesse em adentrar esse universo recém-aberto: o livro "Limão
Siciliano: História, Uso, Receitas",
de Charlô Whately e Stella Espírito Santo (editora Códex, 104 páginas, R$ 50).
Os autores têm ótimas referências para falar do assunto. Charlô
é um gabaritado banqueteiro e
restaurateur, com incontáveis andanças por terras européias e norte-americanas, nas quais o limão é
amarelo. Stella, além de festeira, é
a pioneira na produção dessa variedade, no interior de São Paulo
-não à toa, promoveu a confecção do livro, já que diretamente
interessada em sua disseminação.
Mas, apesar desse background
da dupla de autores, o livro ilumina somente o caminho de quem
quer cozinhar, nem tanto de
quem quer conhecer o produto.
Por exemplo, toda a informação
contida nos primeiros parágrafos
deste artigo inexiste no livro.
Apesar de textos explicativos, a
obra ignora por completo qualquer informação, para o leitor, sobre a existência de diferentes tipos
de limão e sobre as diferenças tanto históricas quanto organolépticas -entre os vários tipos.
Pelo contrário, o texto introdutório refere-se sempre ao "limão",
nome genérico, como uma coisa
só. Ou mais adiante, lista qualidades do limão-siciliano que valem
para qualquer limão. Ou seja, ao
ignorar o assunto, o livro ajuda a
perpetuar a eterna confusão entre
limão e limão-siciliano.
Por outro lado, quando colocam a mão na massa, ao longo de
56 receitas, os autores vão desde a
limonada até pratos delicados e
caros como os cappellini ao caviar. O livro é menos para quem
quer ler, e bem mais para quem
quer cozinhar, mesmo que sem
pensar muito.
(JOSIMAR MELO)
Limão Siciliano: História, Uso, Receitas
Lançamento: 28 de junho, às 19h, na
Sociedade Harmonia de Tênis (r. Canadá,
658, Jardim Europa, zona sul)
Texto Anterior: Música: "João Gilberto de saias" se solta no violão Próximo Texto: Mundo gourmet: Pateo da Luz é alternativa decente em caos de shopping Índice
|