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MPB Simoninha busca identidade em Ben Jor
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Vou fazer um show do Jorge
sem ser o show do Jorge", diz
o cantor Wilson Simoninha em
certo momento da entrevista que
acompanha seu novo DVD,
"MTV Apresenta - Simoninha
Canta Jorge Ben Jor". "Um show
com a obra do Jorge, mas com a
minha cara", completa. Nesse
sentido, Simoninha foi bem-sucedido. O show é seu. A única questão que surge é: mas que cara é essa, que ele quer que seja a sua?
Simoninha é fruto inegável da
geração Trama -a gravadora
que funciona como mãezona de
todos os filhos. Lá, todos têm seu
espaço e são encorajados a exercer seus talentos. Dentro da Trama, onde todos vêm de berço artístico, parece existir uma idéia
pré-definida do que significa ser
artista. Fãs-clubes, departamento
de moda, o indefectível sorriso no
rosto, os pedidos de "olha o coro,
rapaziada" de cima do palco: a
cartilha gera previsibilidade.
Simoninha sofre problema
maior. Sua voz é quase idêntica à
de seu pai -mas inferior. A sombra vive lá. Simonal, aliás, é um
caso à parte. Talvez o músico/artista mais carismático a já ter aparecido em nosso país tropical, era
politicamente incorreto: seu lema
era o da pilantragem, sua suposta
arrogância, um de seus maiores
charmes. Subiu tão alto que a injusta queda foi dolorosa. Simoninha, naturalmente, aprendeu e
assimilou, lado bom e ruim. Sua
aura de superioridade é evidente,
mas o humor irônico passa longe.
Com sua seriedade, impinge
formalidade avessa à divertida
"Homem da Gravata Florida". Já
"Amante Amado", com sua cafonice simpática, funciona bem
com a participação de Paula Lima. O talento de Simoninha fica
evidente nos detalhes, como ponto de convergência. A seleção musical foge do óbvio, mas não o nega. Os arranjos são o ponto alto:
originais, interessantes, espetaculares. Com sonoridade retrô e
moderna, utilizam-se de pianos
elétricos, guitarras com wah-wah,
naipe de sopros, percussão, baixo
com groove. Samba-funk, samba-jazz, samba-rock.
Gravado em março na casa de
shows paulistana Bourbon Street,
o DVD traz Simoninha cantando
canções de Ben e Ben Jor das décadas de 60, 70 e 80, como "Agora
Ninguém Chora Mais" (65),
"Quem Cochicha o Rabo Espicha" (72), "Santa Clara Clareou"
(81). As participações especiais
abundam: seu irmão Max de Castro, o rapper-sambista Rappin"
Hood, o Cidade Negra Toni Garrido, Marco Mattoli, que já virou
símbolo de resgate de Ben com
seu Clube do Balanço.
Como especial de TV, como
produto para fãs de Simoninha,
tudo funciona. Como atrativo para os que buscam a fórmula da
música brasileira moderna ideal
(e não são poucos hoje em dia),
nem tanto. Como mais um passo
na busca de identidade de Simoninha, provavelmente não.
Seu pai lançou sucessos de Ben,
deixou-os com sua cara. Simoninha busca o mesmo, chega perto,
mas falta algo mais que bons arranjos, boas idéias, reverência.
Falta o que eleva um bom músico,
um bom cantor, um bom artista, a
uma força cultural: o algo mais, a
personalidade, a visão única.
Jorge Ben encontra por sua musicalidade única e genial, mais
certa excentricidade. Simonal encontrava pelo cinismo, pelo humor, pelo carisma gigantesco. Simoninha, até agora, encontra
apenas pela busca.
MTV Apresenta - Simoninha Canta Jorge Ben Jor
Artista: Simoninha
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 49, em média
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