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CINEMA
Carioca Ennio Torresan assina storyboards de novo filme de animação da DreamWorks, que estréia hoje no Brasil
"Madagascar" traz dedos de brasileiro
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Já está virando rotina: basta rolarem os créditos de uma nova
animação americana qualquer
que lá estão os benditos brasileiros. Primeiro foi Carlos Saldanha,
que aparecia como co-diretor em
"A Era do Gelo" e até indicação
para o Oscar recebeu. Depois,
veio Fabio Lignini, supervisor de
animação em "O Espanta Tubarões". Agora, é a vez de Ennio
Torresan, que está por trás de
"Madagascar", nova animação da
DreamWorks, que estréia hoje.
É de Torresan, que trabalha há
dois anos e meio no estúdio de
Jeffrey Katzenberg, parte dos desenhos de storyboard da produção 3D, que conta a história de
quatro animais que escapam do
zoológico e vão parar acidentalmente na ilha de Madagascar.
Com o script em mãos, Torresan traça uma espécie de história
em quadrinhos do filme, sem os
balões. Pelo storyboard, definirá
os traços principais das atuações
dos personagens, ângulos e os
movimentos de câmera.
"Tentamos fazer uma coisa menos hiperrealista. Embora os animais sejam antropomorfizados,
eles são bem estilizados. Queríamos voltar àquela animação emborrachada dos anos 50, tipo "Tex
Avery'", contou à Folha, por telefone, de Los Angeles, o brasileiro.
A reação vem em um período
em que os computadores avançaram tanto que já começa a ficar
difícil distinguir a linha entre o
que é animação e o que é filme,
não somente em termos de cenários mas também em relação aos
próprios personagens -vide
produções como "Final Fantasy"
e o recente "O Expresso Polar".
Apesar de seus 41 anos, Torresan ainda se recorda da "velha escola". "Eu demorei oito anos para
fazer um filme que, hoje, qualquer
um que tivesse vontade conseguiria fazer em um ano", afirma, em
referência ao curta de animação
tradicional em papel "El Macho",
que exibiu em 1992 na primeira
edição do Anima Mundi e que
ajudou a catapultá-lo para o mercado internacional.
Premiado em Havana, Gramado e no conceituado festival de
Annecy, na França, o curta foi seu
cartão de visita para ser contratado pela então estreante Amblimation, produtora de Steven Spielberg sediada em Londres e embrião da DreamWorks.
Desde então e executando diversas funções, já passou por
Hanna-Barbera, Nickelodeon,
Film Roman e Disney, onde dirigiu a série de TV animada "Teacher's Pet". "Trabalhei como pintor de cenário, diretor, animador,
desenhista de quadrinhos e de
storyboard. Independentemente
da minha função em determinado projeto, acabo carregando tudo isso para dentro da cena", diz.
Quem ri primeiro
Sobre o trabalho com os diretores Eric Darnell, de "FormiguinhaZ", e o ex-"Ren & Stimpy"
Tom McGrath acrescenta: "Tem
muita coisa doida em "Madagascar" que vem da cabeça dele
[McGrath]. Ele influenciava, e eu
ia embora, tentando ultrapassar
aquela piada do cara. Nós somos
sempre os primeiros que rimos
do filme. Se a gente não rir, é porque não está bom". (Isso porque o
trabalho com o hilário Jerry Seinfeld, roteirista do novo "Bee Movie", só começou há seis meses...)
Mas em tempo: Saldanha, Lignini, Torresan. Não estaria na hora de essa brasileirada toda unir
forças e começar a pensar em um
produto 100% nacional?
"De repente não precisa nem de
mim, do Fabio ou do Carlos. Talvez eu nem esteja sabendo, mas
neste momento pode ter um moleque fazendo o filme dele em casa. Nossa característica é improvisar, trabalhar com limites tanto
monetários quanto de recursos
humanos. O brasileiro sobrevive
assim: tem aquele tanto, tem que
ser feito com aquilo e a criatividade tem de falar mais alto. Com a
computação gráfica do jeito que
está, a gente ainda vai ser surpreendido com alguém que vai
pintar e fazer um longa."
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