São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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CINEMA

Carioca Ennio Torresan assina storyboards de novo filme de animação da DreamWorks, que estréia hoje no Brasil

"Madagascar" traz dedos de brasileiro

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Já está virando rotina: basta rolarem os créditos de uma nova animação americana qualquer que lá estão os benditos brasileiros. Primeiro foi Carlos Saldanha, que aparecia como co-diretor em "A Era do Gelo" e até indicação para o Oscar recebeu. Depois, veio Fabio Lignini, supervisor de animação em "O Espanta Tubarões". Agora, é a vez de Ennio Torresan, que está por trás de "Madagascar", nova animação da DreamWorks, que estréia hoje.
É de Torresan, que trabalha há dois anos e meio no estúdio de Jeffrey Katzenberg, parte dos desenhos de storyboard da produção 3D, que conta a história de quatro animais que escapam do zoológico e vão parar acidentalmente na ilha de Madagascar.
Com o script em mãos, Torresan traça uma espécie de história em quadrinhos do filme, sem os balões. Pelo storyboard, definirá os traços principais das atuações dos personagens, ângulos e os movimentos de câmera.
"Tentamos fazer uma coisa menos hiperrealista. Embora os animais sejam antropomorfizados, eles são bem estilizados. Queríamos voltar àquela animação emborrachada dos anos 50, tipo "Tex Avery'", contou à Folha, por telefone, de Los Angeles, o brasileiro.
A reação vem em um período em que os computadores avançaram tanto que já começa a ficar difícil distinguir a linha entre o que é animação e o que é filme, não somente em termos de cenários mas também em relação aos próprios personagens -vide produções como "Final Fantasy" e o recente "O Expresso Polar".
Apesar de seus 41 anos, Torresan ainda se recorda da "velha escola". "Eu demorei oito anos para fazer um filme que, hoje, qualquer um que tivesse vontade conseguiria fazer em um ano", afirma, em referência ao curta de animação tradicional em papel "El Macho", que exibiu em 1992 na primeira edição do Anima Mundi e que ajudou a catapultá-lo para o mercado internacional.
Premiado em Havana, Gramado e no conceituado festival de Annecy, na França, o curta foi seu cartão de visita para ser contratado pela então estreante Amblimation, produtora de Steven Spielberg sediada em Londres e embrião da DreamWorks.
Desde então e executando diversas funções, já passou por Hanna-Barbera, Nickelodeon, Film Roman e Disney, onde dirigiu a série de TV animada "Teacher's Pet". "Trabalhei como pintor de cenário, diretor, animador, desenhista de quadrinhos e de storyboard. Independentemente da minha função em determinado projeto, acabo carregando tudo isso para dentro da cena", diz.

Quem ri primeiro
Sobre o trabalho com os diretores Eric Darnell, de "FormiguinhaZ", e o ex-"Ren & Stimpy" Tom McGrath acrescenta: "Tem muita coisa doida em "Madagascar" que vem da cabeça dele [McGrath]. Ele influenciava, e eu ia embora, tentando ultrapassar aquela piada do cara. Nós somos sempre os primeiros que rimos do filme. Se a gente não rir, é porque não está bom". (Isso porque o trabalho com o hilário Jerry Seinfeld, roteirista do novo "Bee Movie", só começou há seis meses...)
Mas em tempo: Saldanha, Lignini, Torresan. Não estaria na hora de essa brasileirada toda unir forças e começar a pensar em um produto 100% nacional?
"De repente não precisa nem de mim, do Fabio ou do Carlos. Talvez eu nem esteja sabendo, mas neste momento pode ter um moleque fazendo o filme dele em casa. Nossa característica é improvisar, trabalhar com limites tanto monetários quanto de recursos humanos. O brasileiro sobrevive assim: tem aquele tanto, tem que ser feito com aquilo e a criatividade tem de falar mais alto. Com a computação gráfica do jeito que está, a gente ainda vai ser surpreendido com alguém que vai pintar e fazer um longa."


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