São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A baronesa do crime

P.D. James aproveita sessões da Câmara dos Lordes para se atualizar e dar mais realismo a suas histórias

jan.2001/France Presse
A escritora britânica Phillys Dorothy James, 85, autora de histórias detetivescas, cujo livro "O Farol" está sendo lançado no Brasil


RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

A jovem Phyllis tinha apenas 19 anos quando estourou a Segunda Guerra Mundial, levando pavor e insegurança à Londres em que vivia. Mas ela encontrou seu amor e se casou. O marido foi convocado e, anos depois, ao voltar para casa, estava doente, incapacitado para o trabalho. Com duas filhas pequenas, Phillys teve de buscar emprego para sustentar a família. Foi funcionária pública, trabalhando na área de saúde e na polícia. Nas horas vagas, criava histórias. Finalmente, já quase na meia-idade, conseguiu ser publicada. Hoje, aos 85 anos, é uma das escritoras mais lidas do mundo, tem assento na Câmara dos Lordes britânica e mantém viva a tradição feminina na literatura detetivesca.
A vida de Phillys Dorothy James, P.D. James, daria um romance -e, há alguns anos, ela escreveu sua biografia-, mas a escritora prefere deixar de lado sua história pessoal quando borda as tramas estreladas pelo comandante Adam Dalgliesh, o detetive que criou há mais de 40 anos. "Ele é totalmente imaginário", disse ela em entrevista por telefone realizada na semana passada, quando falou sobre suas histórias e suas movimentada agenda de trabalho. E não se furtou a tratar de temas mais espinhosos, como a participação britânica na guerra do Iraque.
Apesar de integrar a bancada conservadora da Câmara dos Lordes, a baronesa James de Holland Park, título com que foi agraciada em 1991, acredita que o envolvimento da Inglaterra "foi um erro". "Foi dito ao Parlamento -que acreditou- e ao primeiro-ministro -que também acreditou, nós temos de crer nisso-, que o Iraque tinha armas de destruição em massa. Mas claro que, se nós soubéssemos que isso não era verdade, nossa reação teria sido diferente."
Mesmo sem ser freqüentadora assídua das sessões parlamentares, a baronesa do crime está atenta às discussões, lê religiosamente os boletins da Câmara dos Lordes e faz bom uso deles: "Eu consigo ficar atualizada sobre todos os tipos de assunto e os coloco nos livros quando acho apropriado".
A inserção de temas polêmicos nas histórias funciona como um chantilly para dar mais sabor à receita clássica das tramas detetivescas -um assassinato, um investigador, um grupo de suspeitos, pistas, deduções e a solução final.
Em "O Farol", que a Companhia das Letras está lançando no país, uma das questões é o uso de animais em pesquisas científicas. Mas a vida amorosa dos principais personagens -o detetive-poeta, seus auxiliares diretos e os envolvidos no crime- também contribui para prender o leitor, que encontra cenas românticas e até sensuais em meio às investigações dos crimes que abalam uma ilha na costa da Cornualha.


Texto Anterior: Programação
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.