São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006

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Mostra exibe a "prata da casa" baiana

Pinacoteca abriga 300 peças de ourivesaria do Museu Carlos Costa Pinto, pioneiro entre as "casas de colecionador'

Seleção de obras abrange os famosos amuletos dos balagandãs, jóias e trabalhos de artesãos dos períodos colonial e imperial


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Sabe o rosário de ouro, bolotas e balangandãs da indumentária da baiana descrita por Dorival Caymmi em "O que É que a Baiana Tem"? Eles estão expostos na Pinacoteca até o dia 23 de julho, entre cerca de 300 peças de ourivesaria da coleção do Museu Carlos Costa Pinto, de Salvador. São pulseiras, braceletes, brincos, crucifixos e correntes, denominados "jóias de crioula", uma particularidade da sociedade baiana durante os períodos colonial e imperial, pois representam um espelhamento da riqueza da casa-grande na senzala.
"As jóias pertenciam às negras, escravas ou libertas, e passavam de mãe para filha. Não se vê peças assim em Estados como Rio ou Pernambuco. É uma relação social específica da Bahia", conta Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca.

Pioneirismo
O Museu Carlos Costa Pinto foi inaugurado em 1969, 23 anos após a morte do colecionador, o comerciante e exportador de açúcar Carlos Costa Pinto (1885-1946). É considerado pioneiro entre os museus do tipo "casa de colecionador" no Brasil, porque Costa Pinto iniciou sua coleção ainda na década de 1930.
"As peças estavam dispersas ou sendo destruídas, e Costa Pinto já tinha naquela época a idéia de criação de um museu", conta Araújo.
Diferentemente de seus similares brasileiros, como as "casas" das famílias Klabin, Castro Maya e Maria Luísa e Oscar Americano, o museu não foi feito na própria residência do colecionador. Sua viúva, Margarida Costa Pinto, construiu a mansão que hoje abriga a coleção, montando-a como se fosse a morada do casal. Seu acervo é composto de peças decorativas, litúrgicas e civis e cobre do século 17 ao 20.
Em São Paulo, a mostra está disposta em três salas e exclui o mobiliário, os cristais e as peças em porcelana da coleção original. A seleção da Pinacoteca se concentra na ourivesaria, explica Araújo, porque é nela que se percebe a criatividade dos artesãos da Bahia ao longo daqueles séculos, assim como o poder da igreja e a sofisticação do consumo dos senhores de engenho.
"Estas peças sintetizam o esplendor e opulência dos costumes nos períodos colonial e imperial. É também fascinante ver a faceta do sincretismo da cultura baiana nas jóias", ressalta Araújo, que trouxe para a Pinacoteca os famosos "balangandãs", amuletos com até 40 elementos pendentes, que as baianas traziam à cintura em ocasiões festivas.


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