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Crítica/ensaios
Picasso e Disney são vítimas da selvageria de estilo de Paul Johnson
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Lê-se "Os Criadores", de
Paul Johnson, com
muito interesse e com
doses crescentes de espanto. O
jornalista e historiador inglês,
conhecido por sua agressividade ultraconservadora e admirável capacidade de organizar e
dar sentido à massa de informações que sabe reunir, oferece vários perfis de "homens e
mulheres de excepcional originalidade". Começa com o poeta
Geoffrey Chaucer (c. 1342-1400), passa por Bach, Dürer e
Victor Hugo, além dos inevitáveis Shakespeare e Wagner, e
depois de tratar dos costureiros
Balenciaga e Dior chega a um
"grand finale" sobre Picasso e
Walt Disney.
"Uma comparação entre ambos", assevera o autor no começo do capítulo 14, "revela-se
bastante instrutiva". Picasso é
freguês antigo das diatribes de
Johnson, que escreveu em 1995
um ensaio mandando o mestre
para o Inferno, depois recolhido no volume "To Hell with Picasso and Other Essays". Ele
volta à carga neste livro, com
uma selvageria de pensamento
e de estilo que não pode ser integralmente creditada à sofrível tradução. Alguns exemplos.
"O fato de o cérebro de Picasso não ser acadêmico não diminui sua força, reforçando sua
capacidade de pensar com
enorme clareza e astúcia. Picasso era essencialmente um
designer da moda." Explicar
quem foi Jean Cocteau, e seu
papel no prestígio de Picasso,
seria tarefa complexa; Johnson
despacha uma única frase entre
parênteses: Cocteau foi "o
Andy Warhol de sua época".
Aliás, "os admiradores mais
apaixonados" de Picasso "sempre foram os homossexuais".
E a comparação com Disney?
Aqui vai: "Picasso havia, de fato, transformado corpos e rostos de suas mulheres e modelos
em caricaturas, personagens de
desenhos cubistas, animados
pelo desprezo e pelo ódio. Mas
Disney produzira um camundongo animado pela admiração
de seus truques e até por
amor". Além disso, Mickey era
uma espécie de auto-retrato do
autor "como eram algumas cabeças distorcidas de Picasso em
1915-1925 e mesmo depois".
Coisas desse tipo não impedem que o ensaio seja bastante
informativo sobre as invenções
de Disney na técnica da animação. O enfoque prático e técnico de Johnson garante páginas
de grande interesse: os procedimentos de Dürer como gravurista, os segredos dos tecidos de
Balenciaga ou da técnica organística de Bach são abordados
de forma compreensível e exigem menos paciência do que as
opiniões do autor.
OS CRIADORES
Autor: Paul Johnson
Tradução: Ana Beatriz Rodrigues
Editora: Campus/Elsevier
Quanto: R$ 49 (328 págs.)
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