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DRAUZIO VARELLA
A agonia da espera
Optar por um desenlace imediato ou adiá-lo depende de como nos sentimos ao aguardá-lo
PIOR DO que enfrentar a dor é
aguardar por ela, diz a sabedoria popular.
As teorias clássicas defendem que
o homem se preocuparia menos
com os acontecimentos futuros do
que com aqueles prestes a ocorrer.
Como conseqüência, teríamos tendência a dar prioridade às experiências agradáveis e a adiar as que trazem sofrimento. Por isso leríamos
antes as boas notícias dos jornais,
conferiríamos os valores das ações
preferencialmente com a Bolsa em
alta ou evitaríamos a balança depois
de uma orgia alimentar.
Analisar perdas e ganhos associados à tomada imediata de uma decisão é um problema simples, enfrentado na rotina diária por todos os
animais. No entanto, quando existe
um intervalo de tempo entre o desafio apresentado e a solução a ser
adotada, a equação se torna bem
mais complexa.
Pesquisadores do Departamento
de Ciências Comportamentais da
Universidade de Emory, na Filadélfia, acabam de publicar uma pesquisa conduzida com a finalidade de estudar esse fenômeno: a influência
do tempo de espera na tomada de
decisões que trazem prazer ou desconforto; uma versão científica da
questão: "É melhor ouvir primeiro a
boa ou a má notícia?".
Os autores colocaram 32 participantes diante de um aparelho que
indicava a voltagem dos choques
que lhes seriam aplicados no dorso
dos pés e o intervalo de tempo a ser
aguardado entre um choque e outro.
Cada um poderia reduzir ou aumentar o tempo de espera do choque,
mas a duração total do experimento
permanecia constante.
Logo, se alguém escolhesse tomar
os primeiros choques com intervalos mais curtos, os últimos teriam
intervalos mais longos, obrigatoriamente. A cada novo choque, eram
apresentados pares de voltagem e de
tempo de espera: por exemplo,
120% da voltagem aplicada no choque anterior depois de três segundos de espera ou 60% dela depois de
27 segundos.
Quando as voltagens sugeridas
eram as mesmas, 84% dos participantes escolheram receber o choque o mais depressa possível, mesmo sabendo que nos choques finais
do experimento deveriam aguardar
mais tempo. Alguns, no entanto, temiam de tal forma o choque que optaram por tomá-lo numa voltagem
até mais alta, contanto que o intervalo fosse abreviado.
A decisão de optar por um desen-lace imediato ou de adiá-lo depende
de como nos sentimos ao aguardar
por ele: quando a espera nos traz
sensação de prazer, preferimos deixá-lo para mais tarde; caso contrário, nós nos apressamos em desencadeá-lo, mesmo que seja preciso
pagar um preço mais alto.
De acordo com as reações, os participantes foram divididos em dois
grupos: os "moderados" e os "extremos". Os moderados (72% do grupo) seriam aqueles que solicitavam a
antecipação dos choques com a condição de que a voltagem fosse a prevista; os "extremos" (28% do grupo)
optavam por choques mais fortes
para reduzir a espera.
Para identificar as áreas cerebrais
envolvidas na tensão da espera e na
reação ao choque elétrico, os componentes dos dois grupos foram
submetidos à ressonância magnética funcional, exame que permite
mapear o cérebro à procura dos circuitos de neurônios que entram em
atividade ao realizarmos qualquer
tarefa ou experimentarmos uma
emoção.
A ressonância mostrou que tanto
no instante do choque quanto nos
momentos que o antecedem entram
em atividade os mesmos circuitos
de neurônios, integrantes de uma
rede de áreas cerebrais conhecida
como "matriz da dor". E, mais interessante, que a diferença entre os
"moderados" e os "extremos" não
estaria numa possível sensibilidade
especial aos efeitos do choque, no
medo nem na ansiedade, mas na atividade mais intensa dos neurônios
nos circuitos da matriz da dor que
controlam a atenção. A atenção dada à futura experiência dolorosa.
A ativação intensa desses neurônios já na fase antecipatória desperta nos "extremos" níveis exagerados
de atenção ao sofrimento que virá,
razão pela qual preferem solicitar a
antecipação do choque mesmo que
ao preço de uma voltagem mais alta.
Distraí-los durante essa fase diminui a agonia da espera, fato consistente com os resultados das experiências de sugestão hipnótica para
reduzir a intensidade da dor.
O trabalho dos pesquisadores da
Universidade de Emory documenta
pela primeira vez o substrato neurobiológico responsável pelas diferenças nas atitudes individuais ao lidarmos com lucros e perdas, alegrias e
frustrações, prazer e dor.
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