São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Indústria da música testa formatos

Gravadora Sony BMG comemora as vendas do CD Zero da cantora Vanessa da Mata, que vem com apenas cinco músicas

Selo Deckdisc negocia fornecimento de conteúdo artístico para quem comprar aparelhos celulares; idéia é disponibilizar lançamentos

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Compre um celular e ganhe o conteúdo do DVD da Pitty. A estratégia soma-se ao lançamento, no mês passado, do CD Zero como as duas principais iniciativas recentes dos executivos da indústria fonográfica para estimular as vendas de seus produtos no país e escapar da crise que atinge esse mercado há pelo menos cinco anos.
Em maio, a Sony BMG colocou nas lojas o CD Zero, disco com apenas cinco músicas e preço inferior ao do CD "cheio". A estréia foi com "Sim", terceiro álbum da cantora Vanessa da Mata.
A gravadora comemora os resultados. Segundo seus diretores, a Sony BMG esperava vender entre 20% e 30% de CDs Zero (cinco músicas a R$ 9,99) em relação ao CD completo (13 canções a, em média, R$ 25).
Segundo dados da empresa, as quantidades comercializadas se equivalem, dividindo 50% das vendas. "É uma proporção alta [para o CD Zero]. Mas vamos ter uma idéia melhor daqui a dois meses", afirma o presidente da Sony BMG do Brasil, Alexandre Schiavo.
A gravadora não divulga quanto esses números significam em unidades vendidas. Enquanto em outros mercados, o norte-americano, por exemplo, em que as vendas de CDs e DVDs são averiguadas por um instituto (Nielsen SoundScan) diretamente com as lojas a partir de cada cópia comercializada, no Brasil os números são controlados e divulgados pelas próprias gravadoras.
Segundo a Folha apurou, a Sony BMG fabricou inicialmente 30 mil cópias dos discos de Vanessa da Mata (15 mil de CD Zero e 15 mil do CD cheio). Segundo Schiavo, a gravadora já encomendou novo lote.
Gente da indústria ouvida pela Folha divide-se quanto à estratégia da Sony BMG. "Não acho que seja uma solução. Mas é uma experiência nova", diz Monica Ramos, diretora da Deckdisc. Para João Marcello Bôscoli, da Trama, o CD Zero pode vir a ser uma "solução".
"Sempre me chamou a atenção a indústria não aproveitar os multiformatos. Há refrigerantes de dois litros, um litro, 600 ml... Acho razoável a idéia de dar ao consumidor várias opções", compara Bôscoli.

No celular
A Deckdisc se prepara para apostar no segundo semestre em iniciativa já existente no mercado asiático: a venda casada de celulares com DVDs.
A gravadora negocia com empresas de telefonia o fornecimento de conteúdo artístico para quem comprar aparelhos. A idéia é colocar no celular futuros lançamentos da gravadora, como os DVDs da cantora Pitty e da banda Nação Zumbi.
"Seria um atrativo a mais ao consumidor", justifica Ramos. A iniciativa deve turbinar as vendas: se, por exemplo, uma empresa vender 10 mil celulares que contêm o DVD de um artista, esses 10 mil serão contabilizados na vendagem do disco.
Além da associação DVD-celular, a Deckdisc segue como a única gravadora do país a investir no "dual disc", o disco que funciona tanto como CD quanto como DVD. Desde 2005, quando o produto foi implantado, foram vendidas mais de 100 mil unidades ao todo, de discos de Ira!, Tereza Cristina, Revelação, entre outros.

Download
Já empresas como Universal e EMI buscam na internet um caminho. Antes de lançar os CDs tradicionais, colocam as músicas para venda por download. Nos EUA, a Warner venderá o novo álbum do White Stripes, "Icky Thump", que chega às prateleiras nesta semana, em formato pen drive.
"As gravadoras majors estabeleceram por muitos anos o CD como formato principal", afirma Bôscoli.
"A questão é achar um novo modelo, e o novo modelo é multiformato. O CD não sustenta mais a cadeia. Há os shows, ações de marketing [para sustentar artistas e gravadoras]. Mas os artistas precisam publicar uma obra, em qualquer suporte que seja."


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