São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2000


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CINEMA
Quinze anos após o sucesso de "A Hora da Estrela", diretora prepara filme baseado em livro de Autran Dourado
Suzana Amaral roda "Uma Vida em Segredo"

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1985, Suzana Amaral dirigiu "A Hora da Estrela", que ganhou prêmios em 24 países e a fez viajar por três anos na divulgação do filme. Desde então a diretora não faz longas-metragens.
Ela chegou a ser contratada por Sheila Feital para dirigir "O Caso Morel", que deveria ser rodado em 1997, mas, por problemas na produção, saiu do projeto.
Quinze anos depois, ela se prepara para finalmente realizar um novo filme e mesmo assim não está ansiosa: "Sou zen-budista, acredito que as coisas acontecem na hora certa, com as pessoas certas", disse à Folha.
Suzana desenvolveu, desde 1995, o roteiro para o filme a partir do livro "Uma História em Segredo", de Autran Dourado. No próximo dia 7 de agosto, ela começa a rodá-lo na cidade goiana de Pirenópolis, perto de Brasília.
A história é muito parecida com a do premiado "A Hora da Estrela": ambas são centradas em uma personagem feminina e, de maneira densa, retratam o universo intimista da personagem."É um filme quase nada, um fiapo de história", define Suzana.
O livro é centrado na personagem Biela, que será interpretada por Sabrina Greve (leia texto abaixo), uma menina rica de uma cidade do interior que perde o pai e vai viver com a família de seu primo Conrado.
"É uma história de desapego total em função do caminho dela, da busca de ser fiel a si mesma", diz Suzana. "Mas é especialmente uma metáfora da resistência à aculturação", completa.
"Tenho muita identidade com os valores do livro de Autran Dourado, sobre a importância do despojamento, o que é uma das razões de eu também não ter pressa em fazer um novo filme."
O escritor não participou da elaboração do roteiro. Dourado verá apenas o filme já pronto.
Para retratar a história dessa personagem marginal, a diretora pretende contá-la como uma fábula. "Tenho de dar um clima de não-realidade real." E explica: "O que importa no filme não é o quê, mas o como, e, por isso, os meios cinematográficos assumem uma grande importância".
Assim, é grande a responsabilidade do diretor de fotografia, Lauro Escorel, que trabalhou nos últimos filmes de Hector Babenco, e do diretor de arte, o inglês Adrian Cooper.
"Não é um filme de ação, por isso vou me apoiar nas nuances da iluminação, da interpretação, pois acredito que, em cinema, o menos é mais."
A música, elemento importante no cinema, tem uma função particular na obra da diretora. "Meus filmes são meio bressonianos: quanto menos música, melhor. Os ruídos e os sons é que são a música do filme. Não penso em música para enfeitar o filme ou emocionar o espectador, mas para servir à minha história."
E continua: "Naturalmente, como há uma parte em que o piano é importante, vai haver música aí, mas é raro". Nesse momento Suzana vai fazer uma homenagem ao cinema alemão. Ela vai utilizar a canção "Lili Marlene", uma citação de um de seus filmes prediletos, "O Anjo Azul", de Josef von Sternberg.
Para realizar o filme, Suzana conta com um elenco majoritariamente novo. Com exceção da veterana atriz Neusa Borges, os outros atores têm pouca participação no cinema. São eles: Cacá Amaral ("Ação entre Amigos"), Eliane Giardini e Erick Novinski.
Além deles, há também a participação da cadela Pinga, que vai fazer o papel de Vismundo. No texto o cão tem uma função especial, pois acaba sendo o vínculo mais importante e afetuoso de Biela com o mundo.
O filme é produzido pela Raiz Produção, de João Batista de Andrade, diretor de "O Homem Que Virou Suco" e "O País dos Tenentes", por meio da Lei do Audiovisual, com um custo previsto de R$ 2,3 milhões.


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