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CINEMA
Quinze anos após o sucesso de "A Hora da Estrela", diretora prepara filme baseado em livro de Autran Dourado
Suzana Amaral roda "Uma Vida em Segredo"
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1985, Suzana Amaral dirigiu
"A Hora da Estrela", que ganhou
prêmios em 24 países e a fez viajar
por três anos na divulgação do filme. Desde então a diretora não
faz longas-metragens.
Ela chegou a ser contratada por
Sheila Feital para dirigir "O Caso
Morel", que deveria ser rodado
em 1997, mas, por problemas na
produção, saiu do projeto.
Quinze anos depois, ela se prepara para finalmente realizar um
novo filme e mesmo assim não está ansiosa: "Sou zen-budista,
acredito que as coisas acontecem
na hora certa, com as pessoas certas", disse à Folha.
Suzana desenvolveu, desde
1995, o roteiro para o filme a partir do livro "Uma História em Segredo", de Autran Dourado. No
próximo dia 7 de agosto, ela começa a rodá-lo na cidade goiana
de Pirenópolis, perto de Brasília.
A história é muito parecida com
a do premiado "A Hora da Estrela": ambas são centradas em uma
personagem feminina e, de maneira densa, retratam o universo
intimista da personagem."É um
filme quase nada, um fiapo de história", define Suzana.
O livro é centrado na personagem Biela, que será interpretada
por Sabrina Greve (leia texto abaixo), uma menina rica de uma cidade do interior que perde o pai e
vai viver com a família de seu primo Conrado.
"É uma história de desapego total em função do caminho dela, da
busca de ser fiel a si mesma", diz
Suzana. "Mas é especialmente
uma metáfora da resistência à
aculturação", completa.
"Tenho muita identidade com
os valores do livro de Autran
Dourado, sobre a importância do
despojamento, o que é uma das
razões de eu também não ter
pressa em fazer um novo filme."
O escritor não participou da elaboração do roteiro. Dourado verá
apenas o filme já pronto.
Para retratar a história dessa
personagem marginal, a diretora
pretende contá-la como uma fábula. "Tenho de dar um clima de
não-realidade real." E explica: "O
que importa no filme não é o quê,
mas o como, e, por isso, os meios
cinematográficos assumem uma
grande importância".
Assim, é grande a responsabilidade do diretor de fotografia,
Lauro Escorel, que trabalhou nos
últimos filmes de Hector Babenco, e do diretor de arte, o inglês
Adrian Cooper.
"Não é um filme de ação, por isso vou me apoiar nas nuances da
iluminação, da interpretação,
pois acredito que, em cinema, o
menos é mais."
A música, elemento importante
no cinema, tem uma função particular na obra da diretora. "Meus
filmes são meio bressonianos:
quanto menos música, melhor.
Os ruídos e os sons é que são a
música do filme. Não penso em
música para enfeitar o filme ou
emocionar o espectador, mas para servir à minha história."
E continua: "Naturalmente, como há uma parte em que o piano
é importante, vai haver música aí,
mas é raro". Nesse momento Suzana vai fazer uma homenagem
ao cinema alemão. Ela vai utilizar
a canção "Lili Marlene", uma citação de um de seus filmes prediletos, "O Anjo Azul", de Josef von
Sternberg.
Para realizar o filme, Suzana
conta com um elenco majoritariamente novo. Com exceção da veterana atriz Neusa Borges, os outros atores têm pouca participação no cinema. São eles: Cacá
Amaral ("Ação entre Amigos"),
Eliane Giardini e Erick Novinski.
Além deles, há também a participação da cadela Pinga, que vai
fazer o papel de Vismundo. No
texto o cão tem uma função especial, pois acaba sendo o vínculo
mais importante e afetuoso de
Biela com o mundo.
O filme é produzido pela Raiz
Produção, de João Batista de Andrade, diretor de "O Homem Que
Virou Suco" e "O País dos Tenentes", por meio da Lei do Audiovisual, com um custo previsto de R$
2,3 milhões.
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