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DRAMA/"CASSINO"
Scorsese vê a falência do ser humano
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Cassino", que está sendo relançado em edição dupla, lotada de extras e com imagem digna da relevância artística que esta
obra-prima de Martin Scorsese
possui, fala sobre o calvário humano. Isso já aparece nos créditos
iniciais, último trabalho do designer Saul Bass ("Psicose"), onde o
corpo de Robert De Niro voa sobre labaredas infernais.
Não à toa esse filme de 1995 está
mais próximo da produção recente do diretor do que de seus filmes de outrora, como "Os Bons
Companheiros" (1990). Neste,
imagens ainda mostravam o estado de graça dos gângsteres antes
deles rolarem ladeira abaixo.
Já em "O Aviador" (2004), há
um Howard Hughes sempre atormentado, cujo sucesso é efêmero,
com aviões autorais se espatifando após minutos de vôo.
Filme da dor, "Cassino" não é
diferente, onde toda uma corriola
de personagens não encontra paz
de espírito. Sam Rothstein (De
Niro), assim como o Bill the Butcher de "Gangues de Nova York"
(2002), é um homem sempre em
alerta lutando para manter seu
frágil paraíso, aqui representado
na administração do cassino Tangiers, em Las Vegas. Não menos
exasperados, estão com ele o amigo Nicky Santoro (Joe Pesci) e sua
mulher e tentação Ginger (Sharon
Stone). O sucesso é citado apenas
na introdução, jamais mostrado
em imagens, que só mostram a falência da amizade, da lealdade, do
casamento e dos sonhos.
E da linguagem cinematográfica, uma vez que a soma de estilos,
gêneros, pontos de vista e câmera
agitada, percorrendo desesperada
os ambientes, parece não dar conta de explicar aquele mundo, que
parece mais profundo que a superfície do cinema. A câmera de
"Cassino", enfim, é um Deus apenas assistindo às ações de seus filhos no paraíso perdido.
Cassino (ed. especial)
Diretor: Martin Scorsese
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 45, em média
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