São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2006

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Guarnieri é enterrado com canção teatral

Na despedida, amigos e familiares do ator e dramaturgo, morto no sábado, entoam parte de "Arena Conta Zumbi"

Em cerimônia discreta, com cerca de cem pessoas, corpo do dramaturgo, vítima de insuficiência renal, é sepultado em Mairiporã

DA REPORTAGEM LOCAL

Numa cerimônia rápida, discreta e serena, o ator e escritor Gianfrancesco Guarnieri foi enterrado ontem em Mairiporã, município a 40 km de São Paulo. O dramaturgo morreu no sábado, aos 71 anos, vítima de insuficiência renal crônica.
O cortejo fúnebre de 25 carros que partiu do hospital paulistano Sírio-Libanês, onde o corpo foi velado, chegou ao cemitério Jardim da Serra às 16h45. Às 16h55 descia o caixão no platô ajardinado, pontilhado de lápides simples.
Cerca de cem pessoas -entre elas a mulher e os cinco filhos, além de moradores da cidade, amigos e pessoas que trabalharam com Guarnieri- se despediram do ator com aplausos e rosas lançadas sobre o caixão.
Juntos, cantaram um trecho de "A Morte de Zambi", canção composta pelo escritor e por Edu Lobo para a peça "Arena Conta Zumbi", de 1965. "Zambi, meu pai/ Zambi meu rei/ Última prece que rezou/ Foi da beleza de viver."
Feito o silêncio, a cantora e atriz Marília Medalha, que participou do elenco original da peça, gritou: "Viva o grande dramaturgo, o grande poeta Gianfrancesco Guarnieri". E todos responderam com vivas.
Marília disse que era amiga do escritor havia 40 anos, para ela "um dos maiores transformadores do teatro brasileiro". "Ele sempre fez um trabalho de reivindicação social", disse a atriz sobre o autor de "Eles Não Usam Black-Tie". "No velório, cantamos também "Upa, Neguinho" [da mesma peça]."
A mulher de Gianfrancesco Guarnieri, Vânia, disse, após o enterro, que ele já se considerava "homenageado e recompensado em vida pelo que fez". "Ele teve as flores em vida. Não achava que a sociedade ou o país devessem nada a ele. E chegou ao final com a contabilidade zerada com a vida."
Vânia, que disse considerar que Guarnieri "teve uma morte boa, tranqüila, feliz", lembrou o encontro com o marido de 41 anos no teatro, quando ambos interpretavam a peça "Tartufo", de Molière. "E nos casamos no "Arena Conta Zumbi"."
O filho Paulo Guarnieri disse, ainda no velório, que só se dá o verdadeiro valor às pessoas quando elas se vão. "Só 1% dos homens são grandes realizadores. Ele era um deles." Outro filho, Flávio, declarou que o pai deixava um "testamento" para os brasileiros com "Eles Não Usam Black Tie".
Ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou uma nota à imprensa lamentando a morte do escritor, segundo ele "uma grande perda para a cultura brasileira".
O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, que compareceu ao velório no final da manhã de ontem, disse que Guarnieri foi um dos melhores dramaturgos do Brasil e "um grande dínamo do teatro".
Na noite de sábado, no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, o ator Otávio Martins dedicou a encenação de seu monólogo, "A Noite Antes da Floresta", a Guarnieri.


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