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Guarnieri é enterrado com canção teatral
Na despedida, amigos e familiares do ator e dramaturgo, morto no sábado, entoam parte de "Arena Conta Zumbi"
Em cerimônia discreta, com cerca de cem pessoas, corpo do dramaturgo, vítima de insuficiência renal, é sepultado em Mairiporã
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa cerimônia rápida, discreta e serena, o ator e escritor
Gianfrancesco Guarnieri foi
enterrado ontem em Mairiporã, município a 40 km de São
Paulo. O dramaturgo morreu
no sábado, aos 71 anos, vítima
de insuficiência renal crônica.
O cortejo fúnebre de 25 carros que partiu do hospital paulistano Sírio-Libanês, onde o
corpo foi velado, chegou ao cemitério Jardim da Serra às
16h45. Às 16h55 descia o caixão
no platô ajardinado, pontilhado de lápides simples.
Cerca de cem pessoas -entre
elas a mulher e os cinco filhos,
além de moradores da cidade,
amigos e pessoas que trabalharam com Guarnieri- se despediram do ator com aplausos e
rosas lançadas sobre o caixão.
Juntos, cantaram um trecho
de "A Morte de Zambi", canção
composta pelo escritor e por
Edu Lobo para a peça "Arena
Conta Zumbi", de 1965. "Zambi, meu pai/ Zambi meu rei/ Última prece que rezou/ Foi da
beleza de viver."
Feito o silêncio, a cantora e
atriz Marília Medalha, que participou do elenco original da
peça, gritou: "Viva o grande
dramaturgo, o grande poeta
Gianfrancesco Guarnieri". E
todos responderam com vivas.
Marília disse que era amiga
do escritor havia 40 anos, para
ela "um dos maiores transformadores do teatro brasileiro".
"Ele sempre fez um trabalho de
reivindicação social", disse a
atriz sobre o autor de "Eles Não
Usam Black-Tie". "No velório,
cantamos também "Upa, Neguinho" [da mesma peça]."
A mulher de Gianfrancesco
Guarnieri, Vânia, disse, após o
enterro, que ele já se considerava "homenageado e recompensado em vida pelo que fez". "Ele
teve as flores em vida. Não
achava que a sociedade ou o
país devessem nada a ele. E
chegou ao final com a contabilidade zerada com a vida."
Vânia, que disse considerar
que Guarnieri "teve uma morte
boa, tranqüila, feliz", lembrou o
encontro com o marido de 41
anos no teatro, quando ambos
interpretavam a peça "Tartufo", de Molière. "E nos casamos
no "Arena Conta Zumbi"."
O filho Paulo Guarnieri disse,
ainda no velório, que só se dá o
verdadeiro valor às pessoas
quando elas se vão. "Só 1% dos
homens são grandes realizadores. Ele era um deles." Outro filho, Flávio, declarou que o pai
deixava um "testamento" para
os brasileiros com "Eles Não
Usam Black Tie".
Ontem o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva divulgou
uma nota à imprensa lamentando a morte do escritor, segundo ele "uma grande perda
para a cultura brasileira".
O governador de São Paulo,
Cláudio Lembo, que compareceu ao velório no final da manhã de ontem, disse que Guarnieri foi um dos melhores dramaturgos do Brasil e "um grande dínamo do teatro".
Na noite de sábado, no Festival Internacional de Teatro de
São José do Rio Preto, o ator
Otávio Martins dedicou a encenação de seu monólogo, "A
Noite Antes da Floresta", a
Guarnieri.
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