São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2007

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Pato futurista

Grupo lança "Daqui pro Futuro", disco que une tecnologia e tradição, em momento de identificação com público mais novo

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem patos que, quando criados em cativeiro, vivem pouco mais de dez anos. Tivesse a mesma expectativa de vida da ave que lhe empresta o nome, o Pato Fu estaria com os dias contados. Mas, ao contrário, com 15 anos de existência, a banda vai fazendo planos para o futuro, enganando, à sua maneira, o passar do tempo.
Eles estão lançando seu nono disco, "Daqui pro Futuro", primeiro no formato moderno (download pago), e depois da maneira antiga, mês que vem, quando o CD chega às lojas. E a vocalista Fernanda Takai solta, no fim de outubro, seu primeiro disco solo, com versões para músicas de Nara Leão e direção musical de Nelson Motta.
"Vamos colocando um tijolinho de cada vez", diz Takai, 35, sobre a dinâmica da banda. "Após 15 anos tocando juntos, estamos mais fluidos, temos cumplicidade, confiança."
"Daqui pro Futuro" é um disco que, desde o nome, já entrega as intenções da banda, que vive um momento de choque de gerações. A coexistência do futuro com o passado já vem estampada nas ilustrações de Conrado Almada no encarte do álbum -máquinas desengonçadas, "monstrinhos" surreais que desempenham tarefas triviais como tocar um sino, movidas por singelos bichos.
A sonoridade segue a idéia e traz programações eletrônicas que simulam sons "orgânicos", de instrumentos de cordas e harpas, por exemplo, tocadas por mãos humanas.
"O Pato Fu sempre vai mudando, bem devagar. Este é um disco mais calmo, menos energético do que os anteriores", avalia John Ulhoa, 41, guitarrista e mentor do grupo.
"Mas ao mesmo tempo não deixamos nossas origens eletrônicas de lado", completa Takai. Se na música a coexistência entre o antigo e o novo é pacífica, no lado business as coisas são um tanto mais árduas.

Vacas esqueléticas
Num momento em que a indústria musical já dava sinais de problemas, com artistas vivendo cada vez mais de shows e tendo que se adaptar à nova realidade, o grupo resolveu decretar um um recesso.
Em 2003, o casal Fernanda e John teve sua primeira filha. "Quando a Nina nasceu, demos uma parada. Depois, a gente ficou meio fora dos holofotes. Foram tempos difíceis", afirma a vocalista.
"Vivemos em tempos de vacas esqueléticas", continua, sobre a indústria fonográfica. Atualmente o grupo trilha o caminho independente, da mesma forma que o disco anterior, "Toda Cura para Todo Mal" (2005), que teve apenas a distribuição a cargo da Sony BMG.
"O mercado desacelerou, mas talvez a gente tenha desacelerado ainda mais. Hoje vivemos basicamente de nossa base de fãs", conta Takai. "Começamos experimentais, passamos dez anos na BMG, e agora a gente está colocando a mão na massa de novo", diz John.
E atualmente, quem é o público da banda? "São pessoas extremamente novas, que nunca viram um videoclipe do Pato Fu", conta Fernanda.
Surgida em Belo Horizonte no começo dos anos 90, o Pato Fu sempre foi um estranho no ninho, não se se filiando a turmas específicas. Passou longe do mangue beat, não incorporou as misturas suingadas do Planet Hemp, lembrou Mutantes, quase foi vista como uma banda engraçadinha na linha dos Mamonas Assassinas e nem era genérico do pop rock dos conterrâneos e primos ricos Skank e Jota Quest. Um grupo, portanto, relativamente deslocado de seu tempo.
"Vivo dizendo que o Pato Fu é um projeto dos anos 80 que deu certo nos anos 90", conta John. "Somos uma banda new wave tardia. Eu era dessa época, mas minhas bandas naquele tempo [como Sexo Explícito] não deram muito certo."
"Daqui pro Futuro" traz um cover de "Cities in Dust" [sucesso de Siouxsie & the Banshees" na década de 80] e influência da new rave em uma das faixas. É o Pato Fu bicando o velho e o novo.


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