|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pato futurista
Grupo lança "Daqui pro Futuro", disco que une tecnologia e tradição, em momento de identificação com público mais novo
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem patos que, quando criados em cativeiro, vivem pouco
mais de dez anos. Tivesse a
mesma expectativa de vida da
ave que lhe empresta o nome, o
Pato Fu estaria com os dias
contados. Mas, ao contrário,
com 15 anos de existência, a
banda vai fazendo planos para
o futuro, enganando, à sua maneira, o passar do tempo.
Eles estão lançando seu nono
disco, "Daqui pro Futuro", primeiro no formato moderno
(download pago), e depois da
maneira antiga, mês que vem,
quando o CD chega às lojas. E a
vocalista Fernanda Takai solta,
no fim de outubro, seu primeiro disco solo, com versões para
músicas de Nara Leão e direção
musical de Nelson Motta.
"Vamos colocando um tijolinho de cada vez", diz Takai, 35,
sobre a dinâmica da banda.
"Após 15 anos tocando juntos,
estamos mais fluidos, temos
cumplicidade, confiança."
"Daqui pro Futuro" é um disco que, desde o nome, já entrega as intenções da banda, que
vive um momento de choque
de gerações. A coexistência do
futuro com o passado já vem estampada nas ilustrações de
Conrado Almada no encarte do
álbum -máquinas desengonçadas, "monstrinhos" surreais
que desempenham tarefas triviais como tocar um sino, movidas por singelos bichos.
A sonoridade segue a idéia e
traz programações eletrônicas
que simulam sons "orgânicos",
de instrumentos de cordas e
harpas, por exemplo, tocadas
por mãos humanas.
"O Pato Fu sempre vai mudando, bem devagar. Este é um
disco mais calmo, menos energético do que os anteriores",
avalia John Ulhoa, 41, guitarrista e mentor do grupo.
"Mas ao mesmo tempo não
deixamos nossas origens eletrônicas de lado", completa Takai. Se na música a coexistência
entre o antigo e o novo é pacífica, no lado business as coisas
são um tanto mais árduas.
Vacas esqueléticas
Num momento em que a indústria musical já dava sinais
de problemas, com artistas vivendo cada vez mais de shows e
tendo que se adaptar à nova
realidade, o grupo resolveu decretar um um recesso.
Em 2003, o casal Fernanda e
John teve sua primeira filha.
"Quando a Nina nasceu, demos
uma parada. Depois, a gente ficou meio fora dos holofotes.
Foram tempos difíceis", afirma
a vocalista.
"Vivemos em tempos de vacas esqueléticas", continua, sobre a indústria fonográfica.
Atualmente o grupo trilha o caminho independente, da mesma forma que o disco anterior,
"Toda Cura para Todo Mal"
(2005), que teve apenas a distribuição a cargo da Sony BMG.
"O mercado desacelerou,
mas talvez a gente tenha desacelerado ainda mais. Hoje vivemos basicamente de nossa base
de fãs", conta Takai. "Começamos experimentais, passamos
dez anos na BMG, e agora a
gente está colocando a mão na
massa de novo", diz John.
E atualmente, quem é o público da banda? "São pessoas
extremamente novas, que nunca viram um videoclipe do Pato
Fu", conta Fernanda.
Surgida em Belo Horizonte
no começo dos anos 90, o Pato
Fu sempre foi um estranho no
ninho, não se se filiando a turmas específicas. Passou longe
do mangue beat, não incorporou as misturas suingadas do
Planet Hemp, lembrou Mutantes, quase foi vista como uma
banda engraçadinha na linha
dos Mamonas Assassinas e
nem era genérico do pop rock
dos conterrâneos e primos ricos Skank e Jota Quest. Um
grupo, portanto, relativamente
deslocado de seu tempo.
"Vivo dizendo que o Pato Fu
é um projeto dos anos 80 que
deu certo nos anos 90", conta
John. "Somos uma banda new
wave tardia. Eu era dessa época, mas minhas bandas naquele
tempo [como Sexo Explícito]
não deram muito certo."
"Daqui pro Futuro" traz um
cover de "Cities in Dust" [sucesso de Siouxsie & the Banshees" na década de 80] e influência da new rave em uma das faixas. É o Pato Fu bicando
o velho e o novo.
Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta Próximo Texto: Frases Índice
|