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Baladas escondem uso da eletrônica
Em "Daqui pro Futuro", Pato Fu usa programação eletrônica para soar como instrumentos "de verdade" e privilegia melodias
Ulhoa diz que só agora entendeu que a melodia é o mais importante; "Antes, eu fazia as letras em primeiro lugar", afirma guitarrista
Nino Andrés/Divulgação
| A banda mineira Pato Fu, que lança seu nono disco, "Daqui pro Futuro" |
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde seu primeiro disco,
"Rotomusic de Liquidificapum" (1993), a tecnologia cumpre papel central na música do
Pato Fu, que lança agora "Daqui pro Futuro". À primeira vista, este é o disco menos eletrônico e mais convencional de
sua carreira, composto em sua
maior parte por baladas.
Mas o Pato Fu também tem
outra característica marcante e
é daquelas bandas que estão aí
para confundir. "Quando a gente começou a escolher os timbres para as músicas, caímos
nessa escolha de fazer o eletrônico soar orgânico, como se fosse tocado pelas mãos do homem", diz Fernanda Takai.
A faixa "Espero", por exemplo, tem sons de quarteto de
cordas e harpa que foram feitos
a partir de programação eletrônica. Na prática, uma audição
desatenta vai notar apenas um
harpista "normal" tocando.
A tradicional esquizofrenia
musical do Pato Fu, de guitarras rápidas, vocais esganiçados,
que já renderam boas, mas
também equivocadas canções
no passado, está domada.
Ela dá as caras de leve, em
"Woo!", faixa que fala sobre sair
do armário. "Ando escutando
Scissor Sisters, Mika... Essa geração que faz uma música assumidamente gay é muito rica em
talentos. Gosto do clima de felicidade máxima que esses caras
passam em seu som, e daí pensei em fazer uma música assim", explica Ulhoa.
E "Tudo Vai Ficar Bem", uma
"salsa ao avesso", mantém o
humor, mas de forma mais sóbria, com a participação da colombiana Andrea Echeverri, da
banda Aterciopelados.
Na outra ponta, o guitarrista
e compositor anda fascinado
por canções calminhas. "Meu
herói em termos de composição é o Elvis Costello, que diz
que a melodia é o mais importante. Só agora comecei a entender esse processo. Eu fazia
as letras em primeiro lugar."
Lógica parecida segue a versão de "Cities in Dust", um dos
maiores hits de pistas góticas
dos anos 80. A versão do Pato
Fu é mais cadenciada. "Falaram pra gente tocar mais rápido, porque daí seria um sucesso
de boate na certa. Mas a gente
não quis", diz Fernanda.
Já "1.000 Guilhotinas" traz
um Pato Fu político, ao abordar
um soldado que não quer ir para a guerra. "Hoje acho que patriotismo é uma barca furada
disfarçada com cores bonitas",
diz Ulhoa.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
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