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Gil cede música para comercial de banco
Ministro permite uso de versão de "Pela Internet", com voz semelhante à sua, e dá margem a críticas
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tecnicamente, o ministro
Gilberto Gil (Cultura) não infringiu o Código de Conduta da
Alta Administração Federal.
Num comercial do Itaú Bankline, feito pela agência de publicidade África e que vem sendo veiculado na TV, outro cantor interpreta uma versão modificada de "Pela Internet",
canção de Gil que já havia sido
tema de propaganda do banco
antes que o compositor integrasse o governo de Luiz Inácio
Lula da Silva.
O uso da música de Gil e a semelhança entre a voz que interpreta a canção e a sua, no entanto, dão margem a questionamentos éticos, dizem especialistas ouvidos pela Folha.
A socióloga Maria Victoria
Benevides, integrante da Comissão de Ética Pública do governo federal entre 2003 e
2006, afirma que, se fosse Gil a
cantar a música, haveria "um
problema ético evidente" no
fato de um ministro de Estado
fazer uma propaganda para um
banco, "ainda que fosse de graça" -já que poderia haver conflito de interesses entre esse
trabalho e ações do ministério
que dissessem respeito ao Itaú
Cultural, por exemplo.
Estaria configurada "uma incompatibilidade flagrante",
afirma a socióloga.
A coisa muda de figura com o
fato de a canção ser interpretada por outra pessoa. Entretanto, Benevides diz que a semelhança entre as vozes e a possibilidade de confusão criam
uma situação "muito delicada".
Questionada pela Folha, a
assessoria que cuida de assuntos "artísticos" do ministro disse que "a editora de Gil aprovou a utilização da obra com
autorização do autor".
Informou ainda que "a mudança na letra foi feita pela
agência" e que "a versão no-
va é de propriedade e uso
exclusivo do banco Itaú por
seis meses". Ao final, ressal-
tou: "A voz usada no comercial
não é de Gil".
Para Benevides, a gravação
da propaganda "não é um problema do ponto de vista do
Código de Ética, mas é um problema do ponto de vista pessoal dele". "Eu não teria feito",
ela afirma, para não gerar
confusão.
"Fica uma coisa fronteiriça
em relação a constrangimentos
pessoais. É lógico que alguma
atração em relação a quem fez
isso tem a ver com o fato de ele
ser ministro", ela diz.
"Pessoalmente acho que, entrou no ministério, assumiu
cargo público, não pode mais
receber um tostão de lugar nenhum. As pessoas fazem escolhas na vida. Então agüentem
enquanto estão lá [na administração federal]."
Roberto Romano, professor
de ética e filosofia política na
Unicamp, diz não ver gravidade
maior no fato, mas afirma que a
"clonagem" da voz de Gil torna
"confuso o parâmetro de responsabilização". "E é preciso
ter parâmetros de responsabilização claros", ele diz.
Apesar de a voz não ser do
ministro, Romano diz que "a
personalidade conhecida é
ele". "Ele não pode mais abdicar de si mesmo; Gil tem uma
figura pública construída."
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