São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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Circuito alternativo encolhe no Brasil

Em 2010, haverá menos títulos à disposição do espectador nos cinemas

Queda no mercado de DVD e fuga do público das salas faz com que distribuidores diminuam ou suspendam as compras de novos filmes

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Saído de um pálido 2008, o mercado de cinema atravessou o primeiro semestre de 2009 soltando rojões: as bilheterias cresceram 35% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas a festa não foi para todos. Enquanto se multiplicam as cifras de séries como "O Exterminador do Futuro", encolhem as que já eram miúdas.
"O público dos nossos filmes baixou, em cinco anos, quase 50%", diz Jean Thomas Bernardini, da Imovision, distribuidora de vários vencedores de festivais europeus, como "Entre os Muros da Escola", visto por 150 mil pessoas -o novo "Harry Potter", para se ter uma ideia, vendeu 1,8 milhão de ingressos em cinco dias. "O cinema de arte perdeu a efervescência que tinha há alguns anos", confirma André Sturm, dono do HSBC Belas Artes e da Pandora, outra grife do cinema não-comercial.
Na semana passada, a empresa lançou "Enquanto o Sol Não Vem", da francesa Agnès Jaoui. Seu primeiro filme aqui exibido, "O Gosto dos Outros", em 2002, fez 90 mil espectadores. Desta vez, a diretora veio ao Brasil para promover o trabalho e agradou a crítica. Boas perspectivas, certo? Não. "Se fizermos 30 mil espectadores, abro uma garrafa de champanhe", brinca o distribuidor.
Neste ano, Sturm não comprou nenhum filme. Os números justificam o pé atrás. Produções de qualidade, e de fácil comunicação, como "Paris" e "Horas de Verão", em cartaz, venderam de 20 a 30 mil ingressos. Há cinco anos, o coreano "Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera", de difícil apreensão, chegou a 70 mil.
Há, de um lado, a crise mundial do cinema independente. Mas há, também, particularidades da cena brasileira. Bernardini acha que houve, no início dos anos 2000, um excesso de títulos, motivado pelo boom do DVD, então objeto-fetiche. "Houve um engarrafamento nos cinemas, o público ficou perdido. Muitas compras eram feitas sem critério e isso bagunçou um pouco o mercado."
Mas, com a pirataria e as novas formas de entretenimento doméstico, a bolha do DVD estourou. Entre 2006 e 2008, o mercado de locação caiu 45% e, no xadrez do negócio, travou as compras de novos títulos. "A queda no mercado de DVD dificulta a recuperação do investimento nos filmes. Com isso, têm diminuído as aquisições tanto para cinema quanto para DVD", diz Mauricio Andrade Ramos, da VideoFilmes. As empresas estão lançando agora o que compraram em 2007 ou 2008. Ou seja, os efeitos do recuo começarão a ser sentidos, de fato, em 2010. Os distribuidores queixam-se ainda das taxas cobradas pelo governo, que não diferencia um filme pequeno de "A Era do Gelo 3".
Para além das questões comerciais, Leon Cakoff, diretor da Mostra Internacional de Cinema, aponta outra pedra nesse caminho. "Acho que há uma crise de convencimento. Esses filmes precisam ser nutridos e a imprensa faz parte desse processo. Mas, cada vez mais, não só as salas mas também o espaço dos jornais está tomado pelos blockbusters."


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