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Circuito alternativo encolhe no Brasil
Em 2010, haverá menos títulos à disposição do espectador nos cinemas
Queda no mercado de DVD e fuga do público das salas faz com que distribuidores diminuam ou suspendam as compras de novos filmes
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Saído de um pálido 2008, o
mercado de cinema atravessou
o primeiro semestre de 2009
soltando rojões: as bilheterias
cresceram 35% em relação ao
mesmo período do ano passado. Mas a festa não foi para todos. Enquanto se multiplicam
as cifras de séries como "O Exterminador do Futuro", encolhem as que já eram miúdas.
"O público dos nossos filmes
baixou, em cinco anos, quase
50%", diz Jean Thomas Bernardini, da Imovision, distribuidora de vários vencedores
de festivais europeus, como
"Entre os Muros da Escola",
visto por 150 mil pessoas -o
novo "Harry Potter", para se ter
uma ideia, vendeu 1,8 milhão de
ingressos em cinco dias. "O cinema de arte perdeu a efervescência que tinha há alguns
anos", confirma André Sturm,
dono do HSBC Belas Artes e da
Pandora, outra grife do cinema
não-comercial.
Na semana passada, a empresa lançou "Enquanto o Sol Não
Vem", da francesa Agnès Jaoui.
Seu primeiro filme aqui exibido, "O Gosto dos Outros", em
2002, fez 90 mil espectadores.
Desta vez, a diretora veio ao
Brasil para promover o trabalho e agradou a crítica. Boas
perspectivas, certo? Não. "Se fizermos 30 mil espectadores,
abro uma garrafa de champanhe", brinca o distribuidor.
Neste ano, Sturm não comprou nenhum filme. Os números justificam o pé atrás. Produções de qualidade, e de fácil
comunicação, como "Paris" e
"Horas de Verão", em cartaz,
venderam de 20 a 30 mil ingressos. Há cinco anos, o coreano "Primavera, Verão, Outono,
Inverno e... Primavera", de difícil apreensão, chegou a 70 mil.
Há, de um lado, a crise mundial do cinema independente.
Mas há, também, particularidades da cena brasileira. Bernardini acha que houve, no início
dos anos 2000, um excesso de
títulos, motivado pelo boom do
DVD, então objeto-fetiche.
"Houve um engarrafamento
nos cinemas, o público ficou
perdido. Muitas compras eram
feitas sem critério e isso bagunçou um pouco o mercado."
Mas, com a pirataria e as novas formas de entretenimento
doméstico, a bolha do DVD estourou. Entre 2006 e 2008, o
mercado de locação caiu 45% e,
no xadrez do negócio, travou as
compras de novos títulos. "A
queda no mercado de DVD dificulta a recuperação do investimento nos filmes. Com isso,
têm diminuído as aquisições
tanto para cinema quanto para
DVD", diz Mauricio Andrade
Ramos, da VideoFilmes. As empresas estão lançando agora o
que compraram em 2007 ou
2008. Ou seja, os efeitos do recuo começarão a ser sentidos,
de fato, em 2010. Os distribuidores queixam-se ainda das taxas cobradas pelo governo, que
não diferencia um filme pequeno de "A Era do Gelo 3".
Para além das questões comerciais, Leon Cakoff, diretor
da Mostra Internacional de Cinema, aponta outra pedra nesse caminho. "Acho que há uma
crise de convencimento. Esses
filmes precisam ser nutridos e a
imprensa faz parte desse processo. Mas, cada vez mais, não
só as salas mas também o espaço dos jornais está tomado pelos blockbusters."
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