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Breve, "La Serva Padrona" se excede em trejeitos
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Vendo a filmagem de Carla Camurati de "La Serva Padrona",
mal dá para acreditar que essa
ópera foi o detonador da principal
polêmica musical do século 18.
Aliás, a "Serva" não é ópera,
mas intermezzo -espetáculo breve que era praxe apresentar entre
os intervalos de uma ópera.
Em estilo bufo, foi escrita em
1733 pelo italiano Giovanni Pergolesi -à época com 23 anos e que
não estava mais vivo (faleceu em
1736) quando ela foi levada à cena
em Paris, em 1752.
Foi o suficiente para detonar a
"Querelle des Buffons" -discussão que colocava em campos
opostos os partidários da ópera
francesa e os da ópera italiana. Enquanto os últimos defendiam a
simplicidade dos italianos, os primeiros exaltavam a suntuosidade
das óperas de Rameau e Lully.
Hoje, a principal consequência
estilística da Querela dos Bufões, a
ópera-cômica francesa, está completamente esquecida.
Sem a polêmica que a guindou a
uma inesperada celebridade, "La
Serva Padrona" parece uma peça
de escrita simplória e enredo tolo e
esquemático, a paixão de um burguês solteirão por sua criada, a voluntariosa Serpina.
Como primeira tentativa de filmar uma obra lírica, contudo, a
escolha de Camurati é ideal -tem
poucos personagens, é breve (menos de uma hora de música) e a
parte musical não oferece grandes
dificuldades técnicas.
Mas o problema de escolher uma
peça tão conhecida é a profusão de
versões -com interpretações musicalmente mais convincentes que
o filme que estréia hoje, cujo som
tem eco excessivo.
Mas o que mais incomoda é a dependência que a filmagem tem da
versão feita para o palco. Camurati
limita-se, na maior parte do tempo, a colocar a câmera para acompanhar os cantores de perto.
Isso influencia negativamente a
atuação do barítono José Carlos
Leal e da soprano Sylvia Klein.
Ambos excedem-se nos trejeitos
faciais -recursos válidos no palco, mas que, no cinema, criam
uma afetação que supera o humor.
Quanto ao personagem mudo de
Thales Pan Chacon, sua comicidade vem menos da performance do
ator que do único achado musical
desta "Serva" -uma linha de fagote, de efeito bufo, adicionada
para ilustrar seus trejeitos.
Se não vai empolgar o fã de ópera, o filme pode cativar o público
que não está habituado ao mundo
lírico. Se isso acontecer, que se absolvam todos os seus pecados.
Filme: La Serva Padrona
Produção: Brasil, 1997
Direção: Carla Camurati
Com: Sylvia Klein, José Carlos Leal e Thales
Pan Chacon
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco de Cinema - sala 1
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