São Paulo, sexta, 24 de julho de 1998

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Breve, "La Serva Padrona" se excede em trejeitos

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Vendo a filmagem de Carla Camurati de "La Serva Padrona", mal dá para acreditar que essa ópera foi o detonador da principal polêmica musical do século 18.
Aliás, a "Serva" não é ópera, mas intermezzo -espetáculo breve que era praxe apresentar entre os intervalos de uma ópera.
Em estilo bufo, foi escrita em 1733 pelo italiano Giovanni Pergolesi -à época com 23 anos e que não estava mais vivo (faleceu em 1736) quando ela foi levada à cena em Paris, em 1752.
Foi o suficiente para detonar a "Querelle des Buffons" -discussão que colocava em campos opostos os partidários da ópera francesa e os da ópera italiana. Enquanto os últimos defendiam a simplicidade dos italianos, os primeiros exaltavam a suntuosidade das óperas de Rameau e Lully.
Hoje, a principal consequência estilística da Querela dos Bufões, a ópera-cômica francesa, está completamente esquecida.
Sem a polêmica que a guindou a uma inesperada celebridade, "La Serva Padrona" parece uma peça de escrita simplória e enredo tolo e esquemático, a paixão de um burguês solteirão por sua criada, a voluntariosa Serpina.
Como primeira tentativa de filmar uma obra lírica, contudo, a escolha de Camurati é ideal -tem poucos personagens, é breve (menos de uma hora de música) e a parte musical não oferece grandes dificuldades técnicas.
Mas o problema de escolher uma peça tão conhecida é a profusão de versões -com interpretações musicalmente mais convincentes que o filme que estréia hoje, cujo som tem eco excessivo.
Mas o que mais incomoda é a dependência que a filmagem tem da versão feita para o palco. Camurati limita-se, na maior parte do tempo, a colocar a câmera para acompanhar os cantores de perto.
Isso influencia negativamente a atuação do barítono José Carlos Leal e da soprano Sylvia Klein. Ambos excedem-se nos trejeitos faciais -recursos válidos no palco, mas que, no cinema, criam uma afetação que supera o humor.
Quanto ao personagem mudo de Thales Pan Chacon, sua comicidade vem menos da performance do ator que do único achado musical desta "Serva" -uma linha de fagote, de efeito bufo, adicionada para ilustrar seus trejeitos.
Se não vai empolgar o fã de ópera, o filme pode cativar o público que não está habituado ao mundo lírico. Se isso acontecer, que se absolvam todos os seus pecados.



Filme: La Serva Padrona Produção: Brasil, 1997 Direção: Carla Camurati Com: Sylvia Klein, José Carlos Leal e Thales Pan Chacon Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco de Cinema - sala 1




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