São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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Atlântida (a brasileira) pode desaparecer


O clássico "Aviso aos Navegantes" (51) e 40 horas de cinejornais do histórico estúdio correm o risco de se perder caso não haja patrocínio para recuperação dos filmes, orçada em R$ 1,2 milhão


CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio


Um clássico da chanchada brasileira dos anos 50, "Aviso aos Navegantes" (1951), e cerca de 40 horas de cinejornais, todos produzidos pela Atlântida, correm o risco de se perder caso não sejam encontrados patrocinadores dispostos a investir em sua restauração.
Dois projetos com base na Lei Rouanet, prevendo a recuperação dos filmes, receberam autorização do MinC (Ministério da Cultura) para captar recursos há cerca de um ano. Até agora, nada foi captado.
Para recuperar parte dos cinejornais -apenas os produzidos nos anos 50-, o projeto preparado em conjunto pela Atlântida e pela Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e apresentado ao MinC tem um orçamento de R$ 1.223.190,48.
Os cinejornais, produzidos pela Atlântida desde sua fundação, em 1941, até 1985, são filmetes com cerca de dez minutos de duração, mostrando o noticiário da época. Eram exibidos nos cinemas antes do filme principal.
Para recuperar "Aviso aos Navegantes", clássico dirigido por Watson Macedo, com Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte e outros nomes da chanchada, o custo é bem menor: R$ 70 mil.
"Aviso aos Navegantes" está em melhores condições do que os cinejornais. De acordo com o pesquisador Eduardo Giffoni, coordenador do acervo da Atlântida, toda a produção dos cinejornais dos anos 40 até 1952 foi perdida no grande incêndio dos estúdios da Atlântida em 1952.
O que restou dos anos 50, a partir de 1953, precisa ser restaurado urgentemente, diz o pesquisador.
Para tentar viabilizar o projeto, Atlântida e Uerj decidiram desmembrá-lo. A idéia original era recuperar todo o acervo do antigo estúdio -cerca de 1.200 horas de noticiário, atualmente guardados na cinemateca do MAM (Museu de Arte Moderna do Rio).
"Seria muito caro, e decidimos dar prioridade ao que está em piores condições. Para fazer tudo, gastaríamos algo entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões", explica Irapuã Portugal, 48, da Uerj, coordenador do projeto de restauração dos cinejornais.
Facilidades foram criadas para atrair os investidores: a contribuição pode ser dividida em até seis parcelas, a serem pagas trimestralmente durante os 18 meses nos quais o projeto deverá ser concluído.
O objetivo da Atlântida e da Uerj é digitalizar todo o material e, a partir da matriz digitalizada, produzir cópias em VHS que ficariam disponíveis a pesquisadores e estudantes na videoteca da universidade.
Um banco de dados com a relação de todos os assuntos mostrados nos cerca de 250 filmetes restantes dos anos 50 já está sendo montado.
De acordo com Irapuã Portugal, quando estiver pronto, o banco de dados ficará disponível na Internet. Há também a intenção de produzir dois documentários, com cerca de 20 minutos cada um, mostrando o que há de melhor nos cinejornais.
"Os filmes são um documento muito importante da história do Brasil, de uma época em que poucos tinham televisão. Se os perdermos, perdemos parte de nossa história", diz Portugal.


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