São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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LIVROS LANÇAMENTOS
Pesquisador dá voz a pacientes de Freud

MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Que tipo de psicanalista era Freud? Ele tomava notas durante as sessões de terapia que aplicava? Ele deixava o paciente do divã ver seu rosto? Quantos pacientes atendia por dia? Quanto de freudiano ou de "antifreudiano" havia na prática clínica do pai da psicanálise?
Para responder essas e outras perguntas, o pesquisador norte-americano Paul Roazen se dispôs a ir atrás dos ex-pacientes de Freud (1856-1939).
A pesquisa foi feita de meados dos anos 60 em diante. Roazen conseguiu então localizar e entrevistar 25 deles.
O resultado -reunido e publicado em livro somente em 1995 nos Estados Unidos- é este "Como Freud Trabalhava", que apresenta o relato de dez daqueles pacientes sobre a experiência de terem sido analisados por Freud.
O pesquisador explica: "Em meio ao crescente material produzido por Freud e a seu respeito, uma questão permanece mal resolvida: como era ele, na prática clínica? As pessoas se esquecem com facilidade, devido a sua grande produção como escritor, que a maior parte dos dias de trabalho de Freud não foi gasta escrevendo, sentado a uma escrivaninha, mas sim ouvindo pacientes, atrás do divã do analista".
Para escolher os dez relatos publicados, Roazen afirma ter se baseado principalmente na sinceridade dos ex-pacientes (hoje todos mortos) com quem conversou. Segundo ele, os relatos trazem revelações ainda inéditas sobre a vida pessoal e a conduta profissional do psicanalista.
No primeiro caso narrado, o paciente Albert Hirst, um dos sucessos terapêuticos de Freud, conta que ele era bastante rígido com o horário da sessão, que o aconselhara a não usar camisinha para sentir mais prazer e que desejava passar aos pacientes a impressão de completa impessoalidade, movido por uma "frieza essencial", apesar de se mostrar afetuoso durante o processo.
Já David Brunswick, analisado por Freud entre 1927 e 1930, confessa a Roazen que foi um dos fracassos terapêuticos de Freud, por culpa do psicanalista, que teria analisado ao mesmo tempo seu irmão e sua mulher.
Edith Jackson, psicanalista a quem Freud atendeu durante seis anos, diz que ele ouvia com igual facilidade analisandos que falassem inglês, francês ou alemão.
Um dos relatos mais interessantes colhidos por Paul Roazen é o do casal James e Alix Strachey, ingleses que pertenciam ao grupo de artistas e intelectuais de Bloomsbury, de que também participaram a escritora Virginia Woolf, o pintor Duncan Grant e o poeta Lytton Strachey.
James e Alix foram ao mesmo tempo analisandos e tradutores de Freud.
As particularidades sobre o método de trabalho de Freud, apresentadas aqui pela memória de pacientes seus, se juntam a dados mais ou menos conhecidos de sua biografia e funcionam (ainda) como importante contribuição para a compreensão da psicanálise.
Mas ainda falta muito a se revelar, pois parte dos documentos de Freud ou sobre ele ainda estão guardados a sete chaves pelos herdeiros. Alguns só têm permissão para vir a público no ano 2013!


Livro: Como Freud Trabalhava Autor: Paul Roazen Tradutor: Carlos Eduardo Lins da Silva Lançamento: Companhia das Letras Quanto: R$ 26 (292 págs.)

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