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LIVROS LANÇAMENTOS
Pesquisador dá voz a pacientes de Freud
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Que tipo de psicanalista era Freud?
Ele tomava notas
durante as sessões
de terapia que aplicava? Ele deixava o
paciente do divã ver seu rosto?
Quantos pacientes atendia por
dia? Quanto de freudiano ou de
"antifreudiano" havia na prática
clínica do pai da psicanálise?
Para responder essas e outras
perguntas, o pesquisador norte-americano Paul Roazen se dispôs
a ir atrás dos ex-pacientes de
Freud (1856-1939).
A pesquisa foi feita de meados
dos anos 60 em diante. Roazen
conseguiu então localizar e entrevistar 25 deles.
O resultado -reunido e publicado em livro somente em 1995
nos Estados Unidos- é este "Como Freud Trabalhava", que apresenta o relato de dez daqueles pacientes sobre a experiência de terem sido analisados por Freud.
O pesquisador explica: "Em
meio ao crescente material produzido por Freud e a seu respeito,
uma questão permanece mal resolvida: como era ele, na prática
clínica? As pessoas se esquecem
com facilidade, devido a sua grande produção como escritor, que a
maior parte dos dias de trabalho
de Freud não foi gasta escrevendo, sentado a uma escrivaninha,
mas sim ouvindo pacientes, atrás
do divã do analista".
Para escolher os dez relatos publicados, Roazen afirma ter se baseado principalmente na sinceridade dos ex-pacientes (hoje todos
mortos) com quem conversou.
Segundo ele, os relatos trazem revelações ainda inéditas sobre a vida pessoal e a conduta profissional do psicanalista.
No primeiro caso narrado, o paciente Albert Hirst, um dos sucessos terapêuticos de Freud, conta
que ele era bastante rígido com o
horário da sessão, que o aconselhara a não usar camisinha para
sentir mais prazer e que desejava
passar aos pacientes a impressão
de completa impessoalidade, movido por uma "frieza essencial",
apesar de se mostrar afetuoso durante o processo.
Já David Brunswick, analisado
por Freud entre 1927 e 1930, confessa a Roazen que foi um dos fracassos terapêuticos de Freud, por
culpa do psicanalista, que teria
analisado ao mesmo tempo seu
irmão e sua mulher.
Edith Jackson, psicanalista a
quem Freud atendeu durante seis
anos, diz que ele ouvia com igual
facilidade analisandos que falassem inglês, francês ou alemão.
Um dos relatos mais interessantes colhidos por Paul Roazen é o
do casal James e Alix Strachey, ingleses que pertenciam ao grupo
de artistas e intelectuais de
Bloomsbury, de que também participaram a escritora Virginia
Woolf, o pintor Duncan Grant e o
poeta Lytton Strachey.
James e Alix foram ao mesmo
tempo analisandos e tradutores
de Freud.
As particularidades sobre o método de trabalho de Freud, apresentadas aqui pela memória de
pacientes seus, se juntam a dados
mais ou menos conhecidos de sua
biografia e funcionam (ainda) como importante contribuição para
a compreensão da psicanálise.
Mas ainda falta muito a se revelar, pois parte dos documentos de
Freud ou sobre ele ainda estão
guardados a sete chaves pelos
herdeiros. Alguns só têm permissão para vir a público no ano 2013!
Livro: Como Freud Trabalhava
Autor: Paul Roazen
Tradutor: Carlos Eduardo Lins da Silva
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 26 (292 págs.)
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