São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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Meu tour em SP com o pai de "Mafalda"

ÁLVARO DE MOYA
especial para a Folha

Quino reconheceu a praça da República em São Paulo. Não conseguia, porém, lembrar há quanto tempo esteve, pela última vez, no Brasil. Dezesseis, 18 anos?
O criador de Mafalda veio encerrar com chave de ouro o evento Quadrinhos, Quadro a Quadro, um dia depois do outro convidado internacional, Paolo Eleuteri Serpieri, autor de "Druuna", ter retornado a Roma.
E deixado um abraço para Quino. Convém lembrar que Serpieri declarou ter se dedicado aos quadrinhos e desistido da pintura por admirar os westerns de outro argentino, José Luís Salinas, desenhista de "Cisco Kid".
Quino, que vive em Buenos Aires, passa os meses de inverno -dezembro, janeiro e fevereiro- em Milão, onde tem sua agência de distribuição de cartuns, Quipós.
Logo que chegou, na quarta-feira, concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, sempre obrigado a responder por que abandonara Mafalda. É mesmo. Por quê?
"Porque eu estava desenhando cada vez pior. Desenhava melhor antes de Mafalda. E, ao fazer uma tira diária, com personagens fixos, o desenho vira carimbo", respondeu.
Sendo um artista, tal como Schulz, de Charlie Brown, não trabalha com assistentes. Não se interessa por merchandising, exploração comercial de sua criação. As tentativas de transformar a menina contestadora, verdadeiro símbolo da América Latina, em desenho animado também não o convenceram.
A primeira série, produzida na Espanha, de um minuto cada desenho (chegou a ser exibida na extinta TV Tupi), foi interrompida por desagradá-lo. A série atual, em co-produção Cuba-Argentina, é elogiada por ele.
Uma conhecidíssima atriz telefona para o Sesc durante a palestra. Ela quer saber se Quino mudou de idéia e agora aceita que ela faça Mafalda no Brasil, numa versão teatral com texto de Millôr Fernandes. Nada feito. Lamenta, é amigo de Millôr, mas...
Na quinta à tarde, apoiado pela editora Martins Fontes, que publica no Brasil sua obra em tradução e impressão de nível, promove uma tarde de autógrafos. À noite, dá uma palestra.
Desde quando foi convidado, externou seu desejo de ter ao lado na mesa o amigo Ziraldo. "Sou muito tímido. O Ziraldo é um "showman"." Provou ter razão, pois o nome do pai do "Menino Maluquinho" chegou a ser lembrado no auditório do Sesc para substituir no SBT o Jô Soares, que foi para a Globo. Alô, alô, Silvio Santos!
Um passeio pela cidade incluiu o bairro da Liberdade e seu clima oriental, a Catedral da Sé, o parque Ibirapuera. Infelizmente, o tempo era escasso, do contrário teria sido surpreendido, como outros turistas do mundo dos quadrinhos, ao ver a serra da Cantareira e a represa de Guarapiranga. O oposto dos arranha-céus norte-americanos da avenida Paulista.
Apesar de Buenos Aires ser forte em restaurantes, Quino foi a Moema no chinês Flor de Lótus e no Jardim de Napoli, onde preferiu pizza ao polpettone... Declinou do vinho, preferindo a cerveja brasileira.
Precisou voltar logo, pois tem uma página semanal de cartuns simplesmente genial no jornal argentino "Clarín", que leva de quatro a cinco dias para bolar.
O bota-fora, com lamentos pelo pouco tempo de desfrute, deu-se, é óbvio, no Terraço Itália, onde foi fotografado com a cidade que o admira ao fundo.
E, para os fãs, aí vai o site dele: www.quino.com.ar.


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