|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Meu tour em SP com o pai de "Mafalda"
ÁLVARO DE MOYA
especial para a Folha
Quino reconheceu a praça da
República em São Paulo. Não
conseguia, porém, lembrar há
quanto tempo esteve, pela última vez, no Brasil. Dezesseis, 18
anos?
O criador de Mafalda veio encerrar com chave de ouro o
evento Quadrinhos, Quadro a
Quadro, um dia depois do outro
convidado internacional, Paolo
Eleuteri Serpieri, autor de
"Druuna", ter retornado a Roma.
E deixado um abraço para
Quino. Convém lembrar que
Serpieri declarou ter se dedicado
aos quadrinhos e desistido da
pintura por admirar os westerns
de outro argentino, José Luís Salinas, desenhista de "Cisco Kid".
Quino, que vive em Buenos Aires, passa os meses de inverno
-dezembro, janeiro e fevereiro- em Milão, onde tem sua
agência de distribuição de cartuns, Quipós.
Logo que chegou, na quarta-feira, concedeu uma entrevista
coletiva à imprensa, sempre
obrigado a responder por que
abandonara Mafalda. É mesmo.
Por quê?
"Porque eu estava desenhando
cada vez pior. Desenhava melhor antes de Mafalda. E, ao fazer
uma tira diária, com personagens fixos, o desenho vira carimbo", respondeu.
Sendo um artista, tal como
Schulz, de Charlie Brown, não
trabalha com assistentes. Não se
interessa por merchandising,
exploração comercial de sua
criação. As tentativas de transformar a menina contestadora,
verdadeiro símbolo da América
Latina, em desenho animado
também não o convenceram.
A primeira série, produzida na
Espanha, de um minuto cada
desenho (chegou a ser exibida
na extinta TV Tupi), foi interrompida por desagradá-lo. A série atual, em co-produção Cuba-Argentina, é elogiada por ele.
Uma conhecidíssima atriz telefona para o Sesc durante a palestra. Ela quer saber se Quino
mudou de idéia e agora aceita
que ela faça Mafalda no Brasil,
numa versão teatral com texto
de Millôr Fernandes. Nada feito.
Lamenta, é amigo de Millôr,
mas...
Na quinta à tarde, apoiado pela editora Martins Fontes, que
publica no Brasil sua obra em
tradução e impressão de nível,
promove uma tarde de autógrafos. À noite, dá uma palestra.
Desde quando foi convidado,
externou seu desejo de ter ao lado na mesa o amigo Ziraldo.
"Sou muito tímido. O Ziraldo é
um "showman"." Provou ter razão, pois o nome do pai do "Menino Maluquinho" chegou a ser
lembrado no auditório do Sesc
para substituir no SBT o Jô Soares, que foi para a Globo. Alô,
alô, Silvio Santos!
Um passeio pela cidade incluiu
o bairro da Liberdade e seu clima oriental, a Catedral da Sé, o
parque Ibirapuera. Infelizmente,
o tempo era escasso, do contrário teria sido surpreendido, como outros turistas do mundo
dos quadrinhos, ao ver a serra da
Cantareira e a represa de Guarapiranga. O oposto dos arranha-céus norte-americanos da avenida Paulista.
Apesar de Buenos Aires ser
forte em restaurantes, Quino foi
a Moema no chinês Flor de Lótus e no Jardim de Napoli, onde
preferiu pizza ao polpettone...
Declinou do vinho, preferindo a
cerveja brasileira.
Precisou voltar logo, pois tem
uma página semanal de cartuns
simplesmente genial no jornal
argentino "Clarín", que leva de
quatro a cinco dias para bolar.
O bota-fora, com lamentos pelo pouco tempo de desfrute,
deu-se, é óbvio, no Terraço Itália, onde foi fotografado com a
cidade que o admira ao fundo.
E, para os fãs, aí vai o site dele:
www.quino.com.ar.
Texto Anterior: Quino - Com o poder na mira Próximo Texto: Festival Woodstock 99 começa com budistas e James Brown Índice
|