São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2000


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TELEVISÃO/CRÍTICA
"Aquarela do Brasil" une ficção e documentário na guerra por audiência

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A canção-tema da série abre em off, entra no domínio da narrativa por meio do foco no rádio. Na sequência, um plano médio revela a moça do interior (Maria Fernanda Cândido) brincando de dublar o som que chega até ela pelo aparelho. Em seguida, a voz da cantora ganha a boca da atriz e a performance toma conta do interior do espaço narrativo.
Em aproximações sucessivas, a música vai entrando em cena, dando início à narrativa de "Aquarela do Brasil", "macrossérie" de 68 capítulos, de autoria de Lauro César Muniz, com a colaboração de Rosane Lima, que a Rede Globo estreou na última terça, logo após "Laços de Família".
A abertura dá o tom para o alto padrão de produção que o seriado, dirigido por Jayme Monjardim, manteve no capítulo de estréia. A participação do Brasil na Segunda Guerra, a investigação de espionagem nazista, as ondas de rádio levando ao interior programações produzidas na capital e anunciando a emergência da indústria do espetáculo, as cenas de documentário em preto-e-branco intercaladas com o romance colorido, situam a trama no espaço e no tempo. Brasil, Rio, Volta Redonda, início da década de 40.
O primeiro capítulo anuncia as oposições principais que movem a trama e que não são novas. O pai da moça talentosa e sonhadora se opõe aos planos profissionais da filha. A mãe temerosa é solidária com ela. A cidade pequena, a igreja e o coreto, se opõem à cidade grande, ao ambiente artístico e empresarial da rádio Carioca.
Conflitos de gênero, geração e região sinalizam as contradições que a modernização provocou, em uma configuração dramática que estrutura as novelas desde o início da década de 70. A diferença é que o tom agora é nostálgico e a linguagem mais elaborada. Na linha de "O Rei do Gado" e "Terra Nostra", a série aposta na mistura de ficção e documentário, entretenimento e informativo. E capricha no material de arquivo. "Aquarela do Brasil" exibe trechos de filmes produzidos pelo legendário D.I.P., órgão de propaganda fundado por Getúlio Vargas.
Entra ano e sai ano e a narrativa seriada resiste e persiste. Na guerra de audiências que se instaurou com a competição acirrada entre as emissoras de TV aberta, além da opção dos canais pagos, os programas no gênero "show de realidade" vêm ganhando espaço. A Globo contra-ataca com o que sabe fazer melhor. Diante da profusão vigente de programas apelativos, uma produção dramatúrgica cuidada é bem-vinda. Mas que as superproduções não inibam outras experiências.


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