|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELEVISÃO/CRÍTICA
"Aquarela do Brasil" une ficção e documentário na guerra por audiência
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A canção-tema da série
abre em off, entra no domínio da narrativa por meio do foco
no rádio. Na sequência, um plano
médio revela a moça do interior
(Maria Fernanda Cândido) brincando de dublar o som que chega
até ela pelo aparelho. Em seguida,
a voz da cantora ganha a boca da
atriz e a performance toma conta
do interior do espaço narrativo.
Em aproximações sucessivas, a
música vai entrando em cena,
dando início à narrativa de
"Aquarela do Brasil", "macrossérie" de 68 capítulos, de autoria de
Lauro César Muniz, com a colaboração de Rosane Lima, que a
Rede Globo estreou na última terça, logo após "Laços de Família".
A abertura dá o tom para o alto
padrão de produção que o seriado, dirigido por Jayme Monjardim, manteve no capítulo de estréia. A participação do Brasil na
Segunda Guerra, a investigação
de espionagem nazista, as ondas
de rádio levando ao interior programações produzidas na capital
e anunciando a emergência da indústria do espetáculo, as cenas de
documentário em preto-e-branco
intercaladas com o romance colorido, situam a trama no espaço e
no tempo. Brasil, Rio, Volta Redonda, início da década de 40.
O primeiro capítulo anuncia as
oposições principais que movem
a trama e que não são novas. O pai
da moça talentosa e sonhadora se
opõe aos planos profissionais da
filha. A mãe temerosa é solidária
com ela. A cidade pequena, a igreja e o coreto, se opõem à cidade
grande, ao ambiente artístico e
empresarial da rádio Carioca.
Conflitos de gênero, geração e
região sinalizam as contradições
que a modernização provocou,
em uma configuração dramática
que estrutura as novelas desde o
início da década de 70. A diferença é que o tom agora é nostálgico e
a linguagem mais elaborada. Na
linha de "O Rei do Gado" e "Terra
Nostra", a série aposta na mistura
de ficção e documentário, entretenimento e informativo. E capricha no material de arquivo.
"Aquarela do Brasil" exibe trechos de filmes produzidos pelo legendário D.I.P., órgão de propaganda fundado por Getúlio Vargas.
Entra ano e sai ano e a narrativa
seriada resiste e persiste. Na guerra de audiências que se instaurou
com a competição acirrada entre
as emissoras de TV aberta, além
da opção dos canais pagos, os
programas no gênero "show de
realidade" vêm ganhando espaço.
A Globo contra-ataca com o que
sabe fazer melhor. Diante da profusão vigente de programas apelativos, uma produção dramatúrgica cuidada é bem-vinda. Mas
que as superproduções não inibam outras experiências.
Avaliação:
E-mail - ehamb@uol.com.br
Texto Anterior: Contos guardam conflitos que dramaturgo não dramatizou Próximo Texto: Concerto/Crítica: A arte delicada e séria de Goerne Índice
|