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MÚSICA
Algumas canções de "Vespertine" foram feitas durante as filmagens de "Dançando no Escuro"
"Novo disco é pleno de silêncios", diz Björk
ALEXIS BERNIER
DO "LIBÉRATION"
Ela nos recebe com uma espécie
de mesura, meio pirueta, meio genuflexão, uma forma de saudação
que desarma logo de entrada.
Björk é um desses artistas que
não gostam muito de dar entrevistas, mas trabalham com seriedade nelas. Em Londres, em meio
aos ensaios para sua turnê, ela responde com vivacidade ("desculpe, bebi muito café"), lambendo
os lábios e se retorcendo na cadeira. São poses acrobáticas, felinas.
Pergunta - Como você vive esse
período de intensa promoção que
acompanha o lançamento de um
novo disco?
Björk - Devo admitir que tenho
pressa de retomar as gravações.
Perder-me no trabalho é um dos
traços da minha personalidade.
Paradoxalmente, é nesses momentos que sou mais generosa,
mais aberta aos outros. Quando
um ciclo de composição se encerra, sinto uma ruptura dolorosa.
Isso posto, fiquei muito tocada
pela acolhida elogiosa a "Vespertine". Estaria mentindo se dissesse que não adoro o sucesso.
Pergunta - As fotos e os vídeos
contribuem para criar um personagem Björk, como o Ziggy Stardust
de David Bowie no passado. Você
se reconhece nesses retratos?
Björk - Todos juntos, jornalistas,
público, fotógrafos, criamos um
personagem que não existe. Isso
não me incomoda. Afinal, sou eu
que componho assim minhas
canções. Existe a tentação de soltar as rédeas dessa figura mitológica, mas não é meu estilo. Excitar
imaginações é uma honra para
mim, mas prefiro o prazer de
compor a criar um personagem
que poderia se tornar invasivo.
Pergunta - Apesar de suas diferenças, "Vespertine" e "Homogenic", seu disco precedente, formam
um conjunto coerente.
Björk - Da mesma maneira que
"Debut" e "Post", meus dois primeiros discos solos. Trata-se de
álbuns de mudanças eufóricas, de
felicidade sincera. Na época, eu
me comportava com sinceridade
permanente em relação aos outros. "Homogenic" e "Vespertine" são discos mais íntimos, onde
exploro meu próprio universo.
Pergunta - "Vespertine" é uma
aventura interior...
Björk - "Vespertine" fala dos
momentos em que você está sozinho em casa e recusa um convite
de um amigo, apenas porque deixar o telefone fora do gancho parece a perfeita expressão do luxo.
Pergunta - A filmagem de "Dançando no Escuro" foi difícil. Será
que causou um desejo de se refugiar dentro de um "Cocoon" [casulo", o título de uma das canções do
novo disco?
Björk - O filme me afetou, mas o
projeto "Vespertine" já estava em
gestação antes disso. Queria explorar essa dimensão interior. Foi
um dos motivos que me fez aceitar a proposta de Lars von Trier. O
filme conta a história de uma mulher cega que crê que o paraíso
existe no seio de sua imaginação e
de suas canções. Isso correspondia à idéia que eu fazia do disco
que deveria se seguir a "Homogenic". Muitas das canções de "Vespertine" foram compostas durante a filmagem. Eu tinha a impressão de trabalhar em dois projetos
paralelos com íntima conexão.
Pergunta - A palavra "Vespertine" é uma de suas expressões?
Björk - Ela qualifica o mundo da
noite e exprime o estado de espírito do disco. São três horas da manhã e você não consegue dormir.
Saindo ao jardim, você percebe
todos os detalhes, todas as sensações, aos quais jamais havia prestado atenção. As texturas desse
novo disco são frágeis e translúcidas como o gelo. Ele é pleno de silêncios e murmúrios.
Tradução Paulo Migliacci
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