São Paulo, quarta, 24 de setembro de 1997.



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TEATRO
'Orfeu' de Vinicius chega a SP

Helcio Toth/ Folha Imagem
A atriz Thaís Araújo, que interpreta Eurídice, e Kadu Karneiro, como Orfeu da Conceição


DANIELA ROCHA
da Reportagem Local

"Orfeu da Conceição", adaptação de Vinicius de Moraes para o mito grego de Orfeu, será apresentado em São Paulo pela primeira vez hoje.
O "poetinha" (como era conhecido Vinicius de Moraes) inscreveu o texto, quando ainda inédito, em um concurso do 4º Centenário de São Paulo, portanto, há 43 anos.
O texto ganhou o concurso, mas nunca foi montado na cidade.
Sua primeira encenação, histórica, aconteceu em 1956, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
O protagonista de então foi Haroldo Costa, diretor da atual montagem, que estreou no Rio em 1995 e só hoje chega a São Paulo.
"Orfeu da Conceição" foi um texto que Vinicius de Moraes (1913-1980) fez para ser cantado, dançado e interpretado por atores negros.
Ele transpôs a tragédia grega para o morro carioca. Tirou a lira das mãos do músico Orfeu, substituiu por um violão e acrescentou poesia, música e jeito carioca à história de um homem que vaga sofrendo de amor por Eurídice, morta durante uma perseguição amorosa (leia texto nesta página).
Atualização
O diretor Haroldo Costa acrescentou mais elementos afro-brasileiros a essa montagem, que traz os atores Kadu Karneiro no papel de Orfeu e Thaís Araújo no papel de Eurídice. Costa colocou capoeiristas, um rapper e transformou personagens em pombas gira, levando em consideração a obra que Vinicius dedicou ao povo negro.
Mas o elenco não é estritamente composto por negros. A atriz Elke Maravilha faz o papel da Dama Negra, a encarnação da morte. "É uma forma de mostrar que a morte não tem cor", disse ele.
No palco do teatro Paulo Eiró estarão juntos bailarinos, atores e músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.
" 'Orfeu da Conceição' é uma tragédia musicada. Os atores, além de interpretar no sentido convencional, também cantam e dançam. São 50 pessoas em cena em uma produção enorme", afirmou Costa, que teve sua atuação como Orfeu elogiada pelo próprio Vinicius de Moraes, em 1956.
Desde que dirigiu o espetáculo pela primeira vez, em 95 -com os atores Norton Nascimento e Camila Pitanga nos papéis centrais-, Costa sonhava em trazer a montagem para São Paulo. "Demorou dois anos, mas consegui", disse. "Só lamento ter apenas cinco apresentações na cidade", concluiu o diretor.
O espetáculo traz canções que, segundo ele, fazem parte do inconsciente coletivo das pessoas. "Orfeu da Conceição" marcou o encontro de uma dupla de extrema importância para a música feita no Brasil -Vinicius de Moraes e Tom Jobim.
Canções como "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Felicidade" (ambas de autoria de Vinicius e Tom) e "Manhã de Carnaval" (de Luiz Bonfá e Antonio Maria) integram a peça.
Para críticos, o teatro musical no Brasil nasceu com "Orfeu da Conceição".
"É sem dúvida uma das obras mais ricas da dramaturgia brasileira, e eu espero que o público de São Paulo aprecie", disse Haroldo Costa.

Peça: Orfeu da Conceição Autoria: adaptação de Vinicius de Moraes a partir do mito grego de Orfeu Direção: Haroldo Costa Cenário: Oscar Niemeyer Figurinos: Giorgio Knapp e Yamê Reis Elenco: Kadu Karneiro, Thaís Araújo, Ruth de Souza, Solange Couto, Elke Maravilha, Ivan de Almeida, Mauricio Gonçalves e Tainã, entre outros Quando: estréia hoje, às 21h. Amanhã e dia 27, às 21h, dia 28, às 17h e 21h Onde: teatro Paulo Eiró (av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro, tel. 011/546-0449) Quanto: R$ 15



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