São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002 |
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Verdades e mentiras
MARCELO RUBENS PAIVA ARTICULISTA DA FOLHA Washington Olivetto, 50, lança enfim o livro "Corinthians É Preto no Branco", cujo esboço ele desenvolveu no cativeiro em que ficou sequestrado no final de 2001, anotando-o em dois cadernos. Constata-se que o Corinthians é também uma porteira para entender a história e a cultura do país, como no caso da Democracia Corintiana -entre 1982 e 83, os jogadores tomavam decisões pelo voto e promoviam em slogans na camisa a democracia. É lembrado que o pintor pioneiro da "arte povera", Francisco Rebolo, foi ponta do time. Escrito em parceria com o jornalista Nirlando Beirão, 52, o livro vai mais longe: "Em 1922, o título corintiano inspirou a onda de fertilidade eufórica que foi dar na Semana de Arte Moderna. Em 1954, mais um título corintiano deu um necessário vapor aos festejos e culminou na realização de outra monumental empreitada artística, a Bienal". Ele é narrado como uma carta para um norte-americano, Ed McCabe, com estrondosas mentiras (depois negadas), porque, para os autores, o torcedor é um apaixonado incapaz de distinguir a verdade da mentira. O livro faz parte da coleção "Camisa 13", da DBA, em que 13 times são retratados por 13 escritores-torcedores, como os de Eduardo Bueno (Grêmio) e Luis Fernando Veríssimo (Internacional). Para Olivetto, o livro precisava de um jornalista, pois ele, publicitário, exagerava, enquanto Beirão contextualizava. Folha - Por que narrar o livro para
um norte-americano? Nirlando Beirão - É um brasileiro
que conta para um sujeito que
não sabe a diferença entre escanteio e lateral. Não é um livro sobre
futebol, mas sobre paixão. Folha - Como publicitário, você se
sentiu confortável numa coleção
com escritores? Beirão - Relacionamos o Corinthians com a Semana de 22, quando ele foi campeão, com o primeiro ano da Bienal. O time é cultura,
um olhar do mundo. Lembramos
de Rebolo, do grupo Santa Helena, os operários da pintura. Olivetto - Sou muito dedicado ao
mercado publicitário, meu timing
é o do mercado, preciso de prazos
e, por falta de tempo, sempre pensei no Nirlando como meu sócio,
para fazer a carpintaria, quando
eu tinha a idéia mais ou menos
formatada. Beirão - E a editora facilitou nosso trabalho dando uma pesquisa
esplendorosa. Olivetto - Fazer um livro sobre a
história do Corinthians era um
déjà vu, porque saiu já de tudo sobre o time na imprensa. Folha - Você pediu para que não
lhe perguntassem mais sobre o sequestro, mas, neste caso, preciso saber até que ponto o que você viveu
interferiu no formato do livro. Folha - Partes do livro foram escritas nesses papéis? Folha - Os sequestradores leram? Beirão - E que os li detalhadamente várias vezes. Folha - Você disse que um dia pretende contar a história do sequestro. Será um outro livro? Folha - Mas o livro sobre o Corinthians mudou após o sequestro? Beirão - Acho que um livro sobre
futebol deve ser sobretudo sobre
uma paixão, com emoção, tem
que ser o livro de um torcedor,
que é um delirante. O Olivetto
tem momentos da vida dele em
que fez parte do Corinthians, coisas pessoais de um torcedor, essa
coisa mágica que mistura tudo: o
sujeito se casa e lembra da data
como o ano em que o time ganhou tal título. |
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