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POPLOAD
Quando Brecht encontra o White Stripes
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Ou quando Kurt Weill tromba
com o Black Sabbath. Ou
quando os indies vão ao cabaré.
Ou quando o pop resgata a República de Weimar. O conceito você
escolhe depois. Primeiro é preciso
ouvir e ver o Dresden Dolls, banda de Boston que junta "elementos" de teatro ao punk para fazer a
mais moderna e erótica ópera-rock do agora.
A mistura, pode acreditar, está
longe de ser chata (mesmo!) e "cabeça" (um pouco!).
O grupo é novo, mas algumas
de suas músicas têm 12 anos. O
Dresden Dolls lançou disco em
abril nos EUA, está fazendo a primeira excursão européia neste
momento e já tem dois clipes rodando na MTV americana. Os
ótimos clipes e as intensas canções estão todos, bonitinhos, na
internet.
Amanda Palmer e Brian Viglione são o White Stripes repaginado, só que aqui a instrumentação
punk pop sai de piano-e-bateria.
Ela dedilha e canta. Ele bate.
O Dresden Dolls nasceu quando
Viglione viu Palmer esmagando
os teclados de um piano numa
festa de Halloween, em 2000. E
então decidiu abandonar sua nefasta banda de punk hardcore.
Detalhe: sua formação é jazz.
Mais referências: Palmer, já li, é
uma excelente contadora de histórias confessionais que incorpora, de uma vez, Jerry Lee Lewis,
Kurt Weill, Nina Simone e PJ Harvey. Seu visual, nos clipes, é de
uma prostituta de cabaré alemão
dos anos 30. Ele, ainda nos vídeos,
parece ter saído do filme "Laranja
Mecânica".
Os clipes de "Girl Anachronism" e "Coin-Ordinated Boy"
são um espetáculo gótico-moderno que contém tudo o que foi descrito acima. No site da MTV americana dá para ver os dois fácil, se
sua placa de vídeo for amiga. A
banda passou um ano esgotando
ingressos em clubinhos de Massachusetts. Já estava dominando
Manhattan quando descolou a
atual turnê européia. O leitor Fernando Iervolino, ele próprio em
turnê (de férias) pela Europa, deu
de cara com uma apresentação do
Dresden Dolls em Amsterdã, Holanda, na semana passada. E conta como foi.
"Os dois entraram em cena com
a cara pintada de branco e olhos
negros. Na platéia, uma mistura
de curiosos (eu), o povinho indie
(as meninas com a camiseta dos
Pixies) e meia-dúzia de góticos
(aquela gente toda de preto). Os
dois tocam muito, fazem caras e
bocas, se entreolham, se provocam, duelam. A Amanda canta. É
sexy e bizarra ao mesmo tempo.
Brian lembra um artista de rua,
um Charles Chaplin ligado no
220. As músicas começam calminhas e vão ganhando forca."
"O Dresden Dolls é intenso. E,
quando eu começava a me perguntar se uma guitarrinha ali não
fazia falta, a dupla dispara uma
cover de "War Pigs", do Black Sabbath. Mais rock'n'roll impossível.
O show é mesmo bem teatral: a
pintura, a postura, o piano. Há
momentos em que ele troca as baquetas por um violão e ela passa
só a cantar. Lindo. Saí do show
com vontade de ouvir mais. Comprei meu CD na banquinha e
guardei-o com carinho para
quando voltar ao Brasil. Maldita
falta do iPod."
REM novo
Está no ar o novo álbum da veterana banda americana REM. O
próprio grupo soltou o disco
"Around the Sun" na internet, em
um preview promocional que inclui trechos de todas as músicas,
ringtones e outros badulaques de
apresentação do CD que só será
lançado fisicamente, nos EUA,
em 5/10.
lucio@uol.com.br
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