São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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POPLOAD

Quando Brecht encontra o White Stripes

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Ou quando Kurt Weill tromba com o Black Sabbath. Ou quando os indies vão ao cabaré. Ou quando o pop resgata a República de Weimar. O conceito você escolhe depois. Primeiro é preciso ouvir e ver o Dresden Dolls, banda de Boston que junta "elementos" de teatro ao punk para fazer a mais moderna e erótica ópera-rock do agora.
A mistura, pode acreditar, está longe de ser chata (mesmo!) e "cabeça" (um pouco!).
O grupo é novo, mas algumas de suas músicas têm 12 anos. O Dresden Dolls lançou disco em abril nos EUA, está fazendo a primeira excursão européia neste momento e já tem dois clipes rodando na MTV americana. Os ótimos clipes e as intensas canções estão todos, bonitinhos, na internet.
Amanda Palmer e Brian Viglione são o White Stripes repaginado, só que aqui a instrumentação punk pop sai de piano-e-bateria. Ela dedilha e canta. Ele bate.
O Dresden Dolls nasceu quando Viglione viu Palmer esmagando os teclados de um piano numa festa de Halloween, em 2000. E então decidiu abandonar sua nefasta banda de punk hardcore. Detalhe: sua formação é jazz.
Mais referências: Palmer, já li, é uma excelente contadora de histórias confessionais que incorpora, de uma vez, Jerry Lee Lewis, Kurt Weill, Nina Simone e PJ Harvey. Seu visual, nos clipes, é de uma prostituta de cabaré alemão dos anos 30. Ele, ainda nos vídeos, parece ter saído do filme "Laranja Mecânica".
Os clipes de "Girl Anachronism" e "Coin-Ordinated Boy" são um espetáculo gótico-moderno que contém tudo o que foi descrito acima. No site da MTV americana dá para ver os dois fácil, se sua placa de vídeo for amiga. A banda passou um ano esgotando ingressos em clubinhos de Massachusetts. Já estava dominando Manhattan quando descolou a atual turnê européia. O leitor Fernando Iervolino, ele próprio em turnê (de férias) pela Europa, deu de cara com uma apresentação do Dresden Dolls em Amsterdã, Holanda, na semana passada. E conta como foi.
"Os dois entraram em cena com a cara pintada de branco e olhos negros. Na platéia, uma mistura de curiosos (eu), o povinho indie (as meninas com a camiseta dos Pixies) e meia-dúzia de góticos (aquela gente toda de preto). Os dois tocam muito, fazem caras e bocas, se entreolham, se provocam, duelam. A Amanda canta. É sexy e bizarra ao mesmo tempo. Brian lembra um artista de rua, um Charles Chaplin ligado no 220. As músicas começam calminhas e vão ganhando forca."
"O Dresden Dolls é intenso. E, quando eu começava a me perguntar se uma guitarrinha ali não fazia falta, a dupla dispara uma cover de "War Pigs", do Black Sabbath. Mais rock'n'roll impossível. O show é mesmo bem teatral: a pintura, a postura, o piano. Há momentos em que ele troca as baquetas por um violão e ela passa só a cantar. Lindo. Saí do show com vontade de ouvir mais. Comprei meu CD na banquinha e guardei-o com carinho para quando voltar ao Brasil. Maldita falta do iPod."

REM novo
Está no ar o novo álbum da veterana banda americana REM. O próprio grupo soltou o disco "Around the Sun" na internet, em um preview promocional que inclui trechos de todas as músicas, ringtones e outros badulaques de apresentação do CD que só será lançado fisicamente, nos EUA, em 5/10.

lucio@uol.com.br


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