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ERIKA PALOMINO
DJ MARLBORO PÕE SÃO PAULO PARA REBOLAR
Depois da primeira explosão,
em 2000, quando o gênero passou pelo túnel e chegou à zona
sul, o funk carioca toma conta
de São Paulo e ocupa as mais
nobres dependências da cena
club paulistana. A partir de
uma impensável residência
quinzenal no Lov.e, em plena
Vila Olímpia, o DJ Marlboro
instala os pilares de uma ocupação que está longe de terminar .
Da mesma forma quando o clube passou a receber a arte marginal do DJ Marky, até então
desconhecido da grande massa
noturna da cidade, restrito ainda ao underground/marginália
paulistana, Marlboro era celebrado até então pela intelligentsia musical da cidade, mas pouco ou nada conhecido do circuito local. Uma criativa residência, iniciada em agosto, trouxe
para o cenário uma revolução
sexual e de costumes que chacoalha o caldeirão das diferenças sociais. É certo que a cena
noturna toma como denominador comum a democracia da
luz estrobo, e que o clube da Vila Olímpia tem como principal
idéia justamente o princípio de
abrir a cabeça de seus freqüentadores, mas não deixa de ser
curioso ver o o povo rebolar ao
som de hits como "Som de Preto" , "Qual a Diferença entre o
Charme e o Funk?" e "Popozuda do Planeta" ("Bate na palma
da mão/vai mexendo o popozão").
A mistura dos públicos é feita
num copo efervescente, que
tem na música e no sexo seus
denominadores. Marlboro entra no som por volta das 3h, depois de Zé Gonzales, que faz um
som com hits inteligentes do
funk e do hip hop global. É um
aquecimento para o que viria,
quando todo mundo rebola
sem medo de ser feliz madrugada adentro, mas o público quer
mesmo a estrela da noite. Ao toque do berimbau da histórica
"Aquecimento de Capoeira", o
povo se prepara para mais uma
noite de puro deixa-cair. Não
pára, não pára, não pára, não.
NOITE ILUSTRADA
Hoje tem a festa de quatro anos
do Ultralounge, no Moinho Santo Antônio (r. Borges de Figueiredo, 510, Mooca); o clube vai colocar vans de ida e volta do Ultra até o local da festa. Ainda tem a Heaven, com o DJ Puff; Freak Chic, com Marcão Morcerf, Pareto e Maurício U.M., e Technova, com os residentes Mau Mau, Renato Cohen e Daniel U.M.. Sábado é dia de Hello, com André Juliani e Erick Caramelo, no Pix; no novo clube gay The Week rola a Babylon, com o DJ e produtor Tony Moran no som; e no Supperclub (r. Brigadeiro Galvão, 871, Barra Funda) tem a noite Colors, de house. No domingo, a black music reina no Lov.e; o clã do rock se joga no Grind (A Lôca) e ainda tem a matinê de shows drag na Blue Space. Na segunda, o DJ Green Lantern, do clã do Eminem, toca na festa de lançamento da agência de DJs Chocolate Music, especializada em hip hop
FUNK UNIFICA SEXOS E
RAÇAS NO LOV.E
"É som de preto, de favelado,
mas quando toca, ninguém fica
parado", detona Marlboro, logo
no início da noite com o hit
"Som de Preto", que sintetiza o
mix racial. A proposta é revolucionária.
A bordo de apertadíssimas calças e tops, as popozudas tomam
conta da frente da cabine, deixando de lado tops branquelas
que habitualmente tomam o
palquinho. A diva Joelza arrasa,
suada e linda. Não tem para
mais ninguém.
"Elas estão descontroladas",
grita o refrão. E bundas sacodem pra lá e pra cá, em toda a
pista. Todo mundo ensaia uma
coreô.
Surpresa das surpresas: todo
mundo canta junto as letras,
mesmo as mais absurdas. "Qual
a diferença entre o charme e o
funk", ensina-se. A recepção do
público é, ao menos para mim,
inesperada. Sou fã assumida do
funk, e confesso que fui uma
das mais enlouquecidas no turning point de Marlboro no Tim
Festival, no Rio, em outubro do
ano passado.
Mas chega a ser emocionante
quando todo mundo canta junto faixas como a melô do celular
"apaguem a luz". Inacreditável,
sexy e muito feliz. Puro hedonismo e legítimo escapismo.
Então combina. A força e a legitimidade de que a vida noturna
de São Paulo anda se ressentindo muito.
"Chão, chão, chão, chão, chão",
comanda a insana "Cristiane".
Espremem-se pelo clube tops
da cena como a modelo Marina
Dias, Ana Baravelli (do Pix), o
DJ Gil Barbara, o guitarrista Edgar Scandurra e até mesmo
Paulinho Vilhena.
"Eu só quero é ser feliz", canta a
faixa, que já transcendeu fronteiras. E não é só isso que precisa? Deixo o clube completamente suada e cansada, querendo mais.
NOITE GAY VOLTA A SE AGITAR NA CIDADE
A noite de São Paulo se agita,
com a competição na cena gay.
Abriu no último final de semana a The Week, iniciativa do
promoter André Almada, que
apareceu primeiro no Ultralounge, com festas com o povo
fashion e atendendo à preocupação com a qualidade do som
que caracteriza o clubinho de
Bob Yang. Ocupando então as
dependências do espaço de festas na rua Guaicurus, a corajosa
proposta foi o assunto da semana. Na sexta, bombou com a
noite Toy, que ficou conhecida
como a noite que reunia os meninos mais lindos da cidade. E
não foi diferente desta vez. Gente bacana, bonita, diferente,
bem distante do dia-a-dia (ou
noite-a-noite) chocho das noites gays da cidade.
palomino@uol.com.br
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