São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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ERIKA PALOMINO

DJ MARLBORO PÕE SÃO PAULO PARA REBOLAR

Depois da primeira explosão, em 2000, quando o gênero passou pelo túnel e chegou à zona sul, o funk carioca toma conta de São Paulo e ocupa as mais nobres dependências da cena club paulistana. A partir de uma impensável residência quinzenal no Lov.e, em plena Vila Olímpia, o DJ Marlboro instala os pilares de uma ocupação que está longe de terminar . Da mesma forma quando o clube passou a receber a arte marginal do DJ Marky, até então desconhecido da grande massa noturna da cidade, restrito ainda ao underground/marginália paulistana, Marlboro era celebrado até então pela intelligentsia musical da cidade, mas pouco ou nada conhecido do circuito local. Uma criativa residência, iniciada em agosto, trouxe para o cenário uma revolução sexual e de costumes que chacoalha o caldeirão das diferenças sociais. É certo que a cena noturna toma como denominador comum a democracia da luz estrobo, e que o clube da Vila Olímpia tem como principal idéia justamente o princípio de abrir a cabeça de seus freqüentadores, mas não deixa de ser curioso ver o o povo rebolar ao som de hits como "Som de Preto" , "Qual a Diferença entre o Charme e o Funk?" e "Popozuda do Planeta" ("Bate na palma da mão/vai mexendo o popozão").
A mistura dos públicos é feita num copo efervescente, que tem na música e no sexo seus denominadores. Marlboro entra no som por volta das 3h, depois de Zé Gonzales, que faz um som com hits inteligentes do funk e do hip hop global. É um aquecimento para o que viria, quando todo mundo rebola sem medo de ser feliz madrugada adentro, mas o público quer mesmo a estrela da noite. Ao toque do berimbau da histórica "Aquecimento de Capoeira", o povo se prepara para mais uma noite de puro deixa-cair. Não pára, não pára, não pára, não.

NOITE ILUSTRADA
Hoje tem a festa de quatro anos do Ultralounge, no Moinho Santo Antônio (r. Borges de Figueiredo, 510, Mooca); o clube vai colocar vans de ida e volta do Ultra até o local da festa. Ainda tem a Heaven, com o DJ Puff; Freak Chic, com Marcão Morcerf, Pareto e Maurício U.M., e Technova, com os residentes Mau Mau, Renato Cohen e Daniel U.M.. Sábado é dia de Hello, com André Juliani e Erick Caramelo, no Pix; no novo clube gay The Week rola a Babylon, com o DJ e produtor Tony Moran no som; e no Supperclub (r. Brigadeiro Galvão, 871, Barra Funda) tem a noite Colors, de house. No domingo, a black music reina no Lov.e; o clã do rock se joga no Grind (A Lôca) e ainda tem a matinê de shows drag na Blue Space. Na segunda, o DJ Green Lantern, do clã do Eminem, toca na festa de lançamento da agência de DJs Chocolate Music, especializada em hip hop

FUNK UNIFICA SEXOS E RAÇAS NO LOV.E
"É som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguém fica parado", detona Marlboro, logo no início da noite com o hit "Som de Preto", que sintetiza o mix racial. A proposta é revolucionária.
A bordo de apertadíssimas calças e tops, as popozudas tomam conta da frente da cabine, deixando de lado tops branquelas que habitualmente tomam o palquinho. A diva Joelza arrasa, suada e linda. Não tem para mais ninguém.
"Elas estão descontroladas", grita o refrão. E bundas sacodem pra lá e pra cá, em toda a pista. Todo mundo ensaia uma coreô.
Surpresa das surpresas: todo mundo canta junto as letras, mesmo as mais absurdas. "Qual a diferença entre o charme e o funk", ensina-se. A recepção do público é, ao menos para mim, inesperada. Sou fã assumida do funk, e confesso que fui uma das mais enlouquecidas no turning point de Marlboro no Tim Festival, no Rio, em outubro do ano passado.
Mas chega a ser emocionante quando todo mundo canta junto faixas como a melô do celular "apaguem a luz". Inacreditável, sexy e muito feliz. Puro hedonismo e legítimo escapismo. Então combina. A força e a legitimidade de que a vida noturna de São Paulo anda se ressentindo muito.
"Chão, chão, chão, chão, chão", comanda a insana "Cristiane". Espremem-se pelo clube tops da cena como a modelo Marina Dias, Ana Baravelli (do Pix), o DJ Gil Barbara, o guitarrista Edgar Scandurra e até mesmo Paulinho Vilhena.
"Eu só quero é ser feliz", canta a faixa, que já transcendeu fronteiras. E não é só isso que precisa? Deixo o clube completamente suada e cansada, querendo mais.

NOITE GAY VOLTA A SE AGITAR NA CIDADE
A noite de São Paulo se agita, com a competição na cena gay. Abriu no último final de semana a The Week, iniciativa do promoter André Almada, que apareceu primeiro no Ultralounge, com festas com o povo fashion e atendendo à preocupação com a qualidade do som que caracteriza o clubinho de Bob Yang. Ocupando então as dependências do espaço de festas na rua Guaicurus, a corajosa proposta foi o assunto da semana. Na sexta, bombou com a noite Toy, que ficou conhecida como a noite que reunia os meninos mais lindos da cidade. E não foi diferente desta vez. Gente bacana, bonita, diferente, bem distante do dia-a-dia (ou noite-a-noite) chocho das noites gays da cidade.

palomino@uol.com.br


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