São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Crítica/"Quadrophenia"

Retrato vibrante da geração mod mantém sua atualidade

Divulgação
O cantor Sting à frente do grupo de mods que venera lambretas no cult "Quadrophenia", que ganha lançamento em DVD especial


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém entende um mod. Troque a palavra "mod" por "emo", "punk" ou "adolescente", e a incompreensão será a mesma, em qualquer época ou lugar do mundo. Por isso, não é de estranhar que um filme como o cult "Quadrophenia", que retrata a bem-vestida e nervosa juventude britânica movida a anfetaminas e lambretas dos anos 60, continue atual, mesmo que tenha sido lançado em 1979. O longa agora retorna em DVD em bem-cuidada edição.
Baseado na ópera-rock homônima do The Who, o filme "Quadrophenia" é uma espécie de parente de produções como "Laranja Mecânica" (71) e "Trainspotting" (96) e funciona quase como um documentário ao registrar a geração mod.
O longa conta as desventuras de Jimmy (Phil Daniels), franzino adolescente que só encontra alívio e prazer longe de seu subemprego e dos conflitos com os pais. Nos finais de semana, ele deixa a vida mundana de lado para ser, enfim, "especial": ele se torna um mod.
Os mods semearam um estilo de vida que desembocaria, anos mais tarde, nos punks ingleses dos anos 70, já que ambos têm raízes proletárias. São frutos de uma espécie de revolução social encenada pela classe operária pós-guerra que começava a ganhar inserção econômica.
Mais independentes das famílias, os jovens compravam lambretas, terninhos justos e gravatas para irem às festas de soul music, rock e r&b.
Nos extras, que inclui um extenso documentário gravado recentemente com a equipe do filme, o aspecto atemporal de "Quadrophenia" fica mais evidente. O diretor Franc Roddam relembra que o filme foi lançado quando a explosão punk ainda reverberava. Para fazer a conexão com o público da época, quis utilizar ícones punk no elenco para atrair atenção. O cantor Sting, mesmo que não seja exemplo perfeito do estilo, interpreta o mod mais estiloso da turma. John Lydon (então Johnny Rotten), do Sex Pistols, quase levou o papel principal.
No mesmo momento, os próprios mods já entravam no ciclo dos eternos revivals do pop: grupos como The Jam retomavam o legado mod para as então novas gerações. No lançamento, "Quadrophenia" não se tornou um sucesso imediato.
Os diálogos, que reproduzem gírias e palavrões característicos, e as cenas de sexo, nudez masculina e violência causaram certo estranhamento.
Do ponto de vista cinematográfico, no entanto, "Quadrophenia" tem uma estrutura quadrada, previsível até -garoto se apaixona por garota, se dá mal no grupo e se desilude com tudo. Quem não se interessa por música pop dificilmente encontrará diferenças entre os mods e qualquer outra manifestação jovem.
Seu maior mérito é a capacidade de captar com vivacidade um aspecto do passado -é um filme com rigorosa reconstituição de época- e a excitação de hormônios em ebulição -a seqüência que reproduz uma batalha entre mods e rockers na praia de Brighton é antológica. Após quase três décadas, "Quadrophenia" é, por si só, um poderoso ícone cultural.

QUADROPHENIA    
Direção:
Franc Roddam
Distribuidora: Universal (R$ 39,90)


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