São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Revistas trocam famosos por "vida real"

Publicações dedicadas a estampar histórias vividas por seus leitores se transformam em fenômeno no Reino Unido

Títulos como "Take a Break" vendem mais de 1 milhão de exemplares por semana ao tratar de temas como casamentos e traições

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

A vida imita a arte, e as revistas lucram com a vida.
No Reino Unido, enquanto o mercado de jornais impressos permanece estagnado e a maioria das publicações mensais procura uma maneira de estancar a queda nas vendas, existe um nicho editorial que apenas comemora. São as revistas que lidam com "real life" -ou, em português, vida real.
Os números estão em crescimento -e impressionam. "Take a Break", líder de mercado, tem circulação de mais de 1 milhão de exemplares; "Chat" vem em seguida, com 554 mil; depois, "That's Life" (490 mil), "Pick Me Up" (445 mil), "Love It!" (405 mil)...
Um dado importante: a periodicidade é semanal.
Outro: a capa -e todo o interior- dessas revistas não estampa Brad Pitt, Madonna, Bono ou Scarlett Johansson. As celebridades dão lugar a pessoas comuns -à vida real.
Como comparação, vale buscar a circulação das revistas semanais britânicas dedicadas às celebridades -a líder, "Closer", vende 590 mil exemplares.
A edição de 29 de agosto da "Love It!", por exemplo, trazia em sua capa a história de Sue Partlow, 45, que gastou o dinheiro ganho em uma loteria para custear uma operação de mudança de sexo de seu marido Mick -que passou a chamar Melanie Partlow.
Já a "Take a Break", no dia 4 deste mês, preferiu colocar na capa a carta de amor escrita por Ian Stacey para sua mulher, Alison, morta em conseqüência de uma hemorragia cerebral.
Algumas páginas à frente, a revista ilustra uma página dupla com fotos dos animais de estimação de seus leitores.
Os leitores têm grande responsabilidade pelo que é publicado -a maioria dessas revistas paga pelas histórias recebidas. A "Take a Break" anuncia: "Sua revista, suas histórias. Conte para nós primeiro. Pagamos até 500 libras".
"Muitas", responde à Folha John Dale, editor da "Take a Break", sobre quantas histórias a revista recebe por semana.
Lançada em 1990, a "Take a Break" é a líder do mercado e motivou a aparição de concorrentes e de seções "real life" tanto em revistas dedicadas a celebridades como em jornais.
"O que os leitores querem são as melhores histórias sobre amor, traição, casamentos, nascimentos, mortes. Nos esforçamos para fornecer isso."
A representatividade desse tipo de revista no Reino Unido não é coisa a se ignorar -em 2001, segundo o jornal "Independent", Tony Blair reservou parte de sua agenda pré-campanha eleitoral para falar aos leitores da "Take a Break".
Todas as grandes editoras britânicas, como Emap, IPC, Northern & Shell, por exemplo, têm pelo menos um título que briga nesse nicho.

Vida real x celebridades
O crescimento das vendas das revistas "real life" significa que o público está perdendo interesse pelas fofocas e escândalos das celebridades?
"Não", diz Dale. "O público ainda se interessa pelos famosos. Mas ele quer um mix -um pouco de celebridade, um pouco de pessoas reais."
Com tanta concorrência, Dale afirma que não existe o perigo de uma revista inventar histórias para fisgar leitores.
"Os leitores acabam descobrindo se você está inventando algo. A ficção normalmente acaba soando como ficção. Nós trabalhamos duro para publicar as melhores histórias, verdadeiras em todos os sentidos -damos nomes verdadeiros, fotos verdadeiras, endereços verdadeiros."


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