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Revistas trocam famosos por "vida real"
Publicações dedicadas a estampar histórias vividas por seus leitores se transformam em fenômeno no Reino Unido
Títulos como "Take a Break" vendem mais de 1 milhão de exemplares por semana
ao tratar de temas como casamentos e traições
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
A vida imita a arte, e as revistas lucram com a vida.
No Reino Unido, enquanto o
mercado de jornais impressos
permanece estagnado e a maioria das publicações mensais
procura uma maneira de estancar a queda nas vendas, existe
um nicho editorial que apenas
comemora. São as revistas que
lidam com "real life" -ou, em
português, vida real.
Os números estão em crescimento -e impressionam. "Take a Break", líder de mercado,
tem circulação de mais de 1 milhão de exemplares; "Chat"
vem em seguida, com 554 mil;
depois, "That's Life" (490 mil),
"Pick Me Up" (445 mil), "Love
It!" (405 mil)...
Um dado importante: a periodicidade é semanal.
Outro: a capa -e todo o interior- dessas revistas não estampa Brad Pitt, Madonna, Bono ou Scarlett Johansson. As
celebridades dão lugar a pessoas comuns -à vida real.
Como comparação, vale buscar a circulação das revistas semanais britânicas dedicadas às
celebridades -a líder, "Closer",
vende 590 mil exemplares.
A edição de 29 de agosto da
"Love It!", por exemplo, trazia
em sua capa a história de Sue
Partlow, 45, que gastou o dinheiro ganho em uma loteria
para custear uma operação de
mudança de sexo de seu marido
Mick -que passou a chamar
Melanie Partlow.
Já a "Take a Break", no dia 4
deste mês, preferiu colocar na
capa a carta de amor escrita por
Ian Stacey para sua mulher,
Alison, morta em conseqüência
de uma hemorragia cerebral.
Algumas páginas à frente, a
revista ilustra uma página dupla com fotos dos animais de
estimação de seus leitores.
Os leitores têm grande responsabilidade pelo que é publicado -a maioria dessas revistas
paga pelas histórias recebidas.
A "Take a Break" anuncia: "Sua
revista, suas histórias. Conte
para nós primeiro. Pagamos até
500 libras".
"Muitas", responde à Folha
John Dale, editor da "Take a
Break", sobre quantas histórias
a revista recebe por semana.
Lançada em 1990, a "Take a
Break" é a líder do mercado e
motivou a aparição de concorrentes e de seções "real life"
tanto em revistas dedicadas a
celebridades como em jornais.
"O que os leitores querem
são as melhores histórias sobre
amor, traição, casamentos,
nascimentos, mortes. Nos esforçamos para fornecer isso."
A representatividade desse
tipo de revista no Reino Unido
não é coisa a se ignorar -em
2001, segundo o jornal "Independent", Tony Blair reservou
parte de sua agenda pré-campanha eleitoral para falar aos
leitores da "Take a Break".
Todas as grandes editoras
britânicas, como Emap, IPC,
Northern & Shell, por exemplo,
têm pelo menos um título que
briga nesse nicho.
Vida real x celebridades
O crescimento das vendas
das revistas "real life" significa
que o público está perdendo interesse pelas fofocas e escândalos das celebridades?
"Não", diz Dale. "O público
ainda se interessa pelos famosos. Mas ele quer um mix -um
pouco de celebridade, um pouco de pessoas reais."
Com tanta concorrência, Dale afirma que não existe o perigo de uma revista inventar histórias para fisgar leitores.
"Os leitores acabam descobrindo se você está inventando
algo. A ficção normalmente
acaba soando como ficção. Nós
trabalhamos duro para publicar as melhores histórias, verdadeiras em todos os sentidos
-damos nomes verdadeiros,
fotos verdadeiras, endereços
verdadeiros."
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