São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Crítica

"Os Outros" é refém da surpresa

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"É como se vivêssemos na sombra", escreveu Emanuel Swedenborg a respeito do nosso mundo, conforme relata Jorge Luis Borges. O nosso mundo é o da sombra, não o outro, que é mais iluminado. O homem que morre percebe, depois de algum tempo, que agora vive na luz. Os bons homens tornam-se anjos. Os maus, demônios. Tudo isso, Swedenborg afirma depois de visitar o outro mundo.
É quase impossível não lembrar desse místico diante de "Os Outros" (Telecine Action, 22h), pois nunca se sabe a que mundo pertencem Nicole Kidman e seus filhos. Eles vivem em uma mansão afastada e sabe-se que existe um pai e marido que foi à guerra e nunca aparece. Será que ele morreu? Será que a mãe prepara-se para dizê-lo às crianças ou espera por seu retorno?
Estou entre as pessoas que se impressionaram com o filme de Alejandro Amenábar, quando estreou. Enquanto o assistia, esperava por uma surpresa. Com efeito, ela vem. Mas esse é seu ponto fraco: tornar-se refém de uma surpresa. Isso facilita a visão, mas não a revisão.
O certo é que, ao longo do filme, sabe-se que há algo fora do lugar: a mansão afastada, as crianças que sofrem com a excessiva sensibilidade visual, o que força a mãe a evitar o contato deles com a luz. Com a luz e com os outros, pois, nesse filme, existe uma fobia de contato que toma o lugar do fantástico ao qual imaginávamos que o filme nos conduziria.

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