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Crítica
"Os Outros" é refém da surpresa
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"É como se vivêssemos na
sombra", escreveu Emanuel
Swedenborg a respeito do nosso mundo, conforme relata
Jorge Luis Borges. O nosso
mundo é o da sombra, não o outro, que é mais iluminado. O
homem que morre percebe, depois de algum tempo, que agora
vive na luz. Os bons homens
tornam-se anjos. Os maus, demônios. Tudo isso, Swedenborg afirma depois de visitar o
outro mundo.
É quase impossível não lembrar desse místico diante de
"Os Outros" (Telecine Action,
22h), pois nunca se sabe a que
mundo pertencem Nicole Kidman e seus filhos. Eles vivem
em uma mansão afastada e sabe-se que existe um pai e marido que foi à guerra e nunca aparece. Será que ele morreu? Será
que a mãe prepara-se para dizê-lo às crianças ou espera por
seu retorno?
Estou entre as pessoas que se
impressionaram com o filme
de Alejandro Amenábar, quando estreou. Enquanto o assistia, esperava por uma surpresa.
Com efeito, ela vem. Mas esse é
seu ponto fraco: tornar-se refém de uma surpresa. Isso facilita a visão, mas não a revisão.
O certo é que, ao longo do filme, sabe-se que há algo fora do
lugar: a mansão afastada, as
crianças que sofrem com a excessiva sensibilidade visual, o
que força a mãe a evitar o contato deles com a luz. Com a luz
e com os outros, pois, nesse filme, existe uma fobia de contato que toma o lugar do fantástico ao qual imaginávamos que o
filme nos conduziria.
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