|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasiliense inicia reestruturação
Editora muda
para sede em Pinheiros
e retoma lançamentos de
literatura; livraria
abre em outubro
Casa fundada em 1943 pelo
historiador Caio Prado Jr.
renovou os departamentos
administrativo, editorial e de
marketing no início do ano
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Yolanda da Silva Prado,
a Danda, 78, filha do historiador Caio Prado Júnior (1907-1990), a história da Brasiliense
sempre se confundiu com o
dia-a-dia e a trajetória de toda
sua família. "Para mim, tudo
era editora. Com freqüência
havia alguém na casa do meu
pai para almoçar e era alguém
ligado à editora. Mais tarde,
meus filhos chegaram a vender
livros no Natal. E era como uma
brincadeira", afirma Danda.
Hoje, 65 anos após a criação
da Brasiliense, Danda, à frente
da editora desde 1992, vem resistindo às dificuldades -como
a perda para a editora Globo, no
ano passado, dos direitos da
obra de Monteiro Lobato, que
esteve ligado a sua criação, e até
mesmo o assédio de grupos editoriais nacionais e estrangeiros. Mas ela anuncia que reestruturou seus departamentos
administrativo, financeiro, editorial e de marketing.
A Brasiliense também mudou de endereço -do bairro do
Tatuapé para uma casa de 500
m2 na rua Mourato Coelho, em
São Paulo. Até o fim de outubro, a editora inaugura no mesmo local uma livraria, com "wine bar", um café e espaço para
eventos literários.
"A abertura da livraria nesta
interseção de Pinheiros e Vila
Madalena, que tem uma grande vocação cultural, será o
marco zero da reestruturação
da editora", diz Cleide Almeida,
atual vice-presidente da Brasiliense. "Vimos que alguns autores, clientes, distribuidores estavam um pouco abandonados.
Formamos um conselho gestor
e estamos refazendo os contatos com estas pessoas."
Lançamentos e projetos
Na última Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em
agosto, a editora lançou seis títulos: três deles da coleção "Primeiros Passos", seu carro-chefe, "Teoria da História", dos
historiadores Pedro Paulo Funari e Glaydson José da Silva, e
os romances "Fé e Fogo", de
Marco Adolfs, e "Chuva em Havana", do escritor cubano Julio
Travieso Serrano.
Para o futuro, um dos sonhos
de Danda Prado é criar uma nova série de livros voltada para o
público adolescente, de preferência nos moldes da coleção
"Jovens do Mundo Todo", que
ela cuidou por três anos no início dos anos 60.
"Eram livros juvenis extraordinários, vindos da Alemanha,
da Áustria e principalmente da
Inglaterra. Tinham uma visão
humanitária e já abordavam assuntos hoje mais comuns, como meio ambiente", diz Danda.
A editora gostaria ainda de
implantar uma série para mulheres e outra sobre sexualidade, abordando assuntos polêmicos, na linha dos temas que
marcaram a presidência, a partir de 1975, do seu irmão Caio
Graco Prado, morto em 1992
num acidente.
"Tratar de assuntos polêmicos nunca assustou a Brasiliense, muito pelo contrário. E a
editora o faz de maneira adequada, com seriedade, sem sensacionalismo", diz Cleide.
Outro projeto da editora é relançar a coleção "Primeiros
Passos", a série de livros didáticos criada por Caio Graco em
1979, junto com o editor Luiz
Schwarcz, hoje dono da Companhia das Letras. Até 1984, a
coleção havia vendido 2,5 milhões exemplares, sendo seu
best-seller "O que É Ideologia",
da filósofa e professora da USP
Marilena Chaui.
"Alguns temas são eternos,
imutáveis. Mas queremos atualizar e revisar assuntos que foram abordados nos anos 80 e
90", afirma Cleide.
Para Danda, a reestruturação
da Brasiliense, que sobreviveu
não só às dificuldades financeiras, mas à perseguição política
do Estado Novo e do regime
militar, exige "muita coragem".
"A marca, o nome Brasiliense
não se perdeu. Mas, à medida
que a Danda decide recuperar o
prestígio da casa, trata-se de
uma grande empreitada, de
muita coragem", conclui Cleide
Almeida.
Texto Anterior: Festival quer que o público vá sem carro Próximo Texto: Ben Allison apresenta a "evolução" do jazz Índice
|