São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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Brasiliense inicia reestruturação

Editora muda para sede em Pinheiros e retoma lançamentos de literatura; livraria abre em outubro

Casa fundada em 1943 pelo historiador Caio Prado Jr. renovou os departamentos administrativo, editorial e de marketing no início do ano


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Para Yolanda da Silva Prado, a Danda, 78, filha do historiador Caio Prado Júnior (1907-1990), a história da Brasiliense sempre se confundiu com o dia-a-dia e a trajetória de toda sua família. "Para mim, tudo era editora. Com freqüência havia alguém na casa do meu pai para almoçar e era alguém ligado à editora. Mais tarde, meus filhos chegaram a vender livros no Natal. E era como uma brincadeira", afirma Danda.
Hoje, 65 anos após a criação da Brasiliense, Danda, à frente da editora desde 1992, vem resistindo às dificuldades -como a perda para a editora Globo, no ano passado, dos direitos da obra de Monteiro Lobato, que esteve ligado a sua criação, e até mesmo o assédio de grupos editoriais nacionais e estrangeiros. Mas ela anuncia que reestruturou seus departamentos administrativo, financeiro, editorial e de marketing.
A Brasiliense também mudou de endereço -do bairro do Tatuapé para uma casa de 500 m2 na rua Mourato Coelho, em São Paulo. Até o fim de outubro, a editora inaugura no mesmo local uma livraria, com "wine bar", um café e espaço para eventos literários.
"A abertura da livraria nesta interseção de Pinheiros e Vila Madalena, que tem uma grande vocação cultural, será o marco zero da reestruturação da editora", diz Cleide Almeida, atual vice-presidente da Brasiliense. "Vimos que alguns autores, clientes, distribuidores estavam um pouco abandonados. Formamos um conselho gestor e estamos refazendo os contatos com estas pessoas."

Lançamentos e projetos
Na última Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em agosto, a editora lançou seis títulos: três deles da coleção "Primeiros Passos", seu carro-chefe, "Teoria da História", dos historiadores Pedro Paulo Funari e Glaydson José da Silva, e os romances "Fé e Fogo", de Marco Adolfs, e "Chuva em Havana", do escritor cubano Julio Travieso Serrano.
Para o futuro, um dos sonhos de Danda Prado é criar uma nova série de livros voltada para o público adolescente, de preferência nos moldes da coleção "Jovens do Mundo Todo", que ela cuidou por três anos no início dos anos 60.
"Eram livros juvenis extraordinários, vindos da Alemanha, da Áustria e principalmente da Inglaterra. Tinham uma visão humanitária e já abordavam assuntos hoje mais comuns, como meio ambiente", diz Danda.
A editora gostaria ainda de implantar uma série para mulheres e outra sobre sexualidade, abordando assuntos polêmicos, na linha dos temas que marcaram a presidência, a partir de 1975, do seu irmão Caio Graco Prado, morto em 1992 num acidente.
"Tratar de assuntos polêmicos nunca assustou a Brasiliense, muito pelo contrário. E a editora o faz de maneira adequada, com seriedade, sem sensacionalismo", diz Cleide.
Outro projeto da editora é relançar a coleção "Primeiros Passos", a série de livros didáticos criada por Caio Graco em 1979, junto com o editor Luiz Schwarcz, hoje dono da Companhia das Letras. Até 1984, a coleção havia vendido 2,5 milhões exemplares, sendo seu best-seller "O que É Ideologia", da filósofa e professora da USP Marilena Chaui.
"Alguns temas são eternos, imutáveis. Mas queremos atualizar e revisar assuntos que foram abordados nos anos 80 e 90", afirma Cleide.
Para Danda, a reestruturação da Brasiliense, que sobreviveu não só às dificuldades financeiras, mas à perseguição política do Estado Novo e do regime militar, exige "muita coragem".
"A marca, o nome Brasiliense não se perdeu. Mas, à medida que a Danda decide recuperar o prestígio da casa, trata-se de uma grande empreitada, de muita coragem", conclui Cleide Almeida.


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