Oliver Stone retrata crise de 2008 com visão mais pessimista na sequência de "Wall Street" que estreia hoje

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Gordon Gekko está de volta. O marcante vilão criado por Oliver Stone e interpretado por Michael Douglas em "Wall Street: Poder e Cobiça" (1987), símbolo da ganância e do "yuppismo" da era Reagan, retorna em "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme".
Mas a Wall Street que Gekko encontra, 23 anos depois, é bem diferente. "Perto desses tubarões de hoje, sou um amador", diz o personagem.
A história começa com Gekko saindo da prisão após cumprir oito anos por crimes financeiros. Ele conhece Jacob Moore (Shia LaBeouf), que quer vingar o golpe que o magnata Bretton James (Josh Brolin) deu em seu patrão.
E mais: Jacob é noivo de Winnie (Carey Mulligan), a filha de Gekko que se recusa a ver o pai desde a prisão.

CASTELO DE CARTAS
Se o filme de 1987 era um comentário ácido sobre Wall Street, hoje Stone parece ter uma visão mais pessimista.
O mercado financeiro é mostrado como um castelo de cartas em que bancos inescrupulosos levam o sistema ao colapso confiando numa ajuda do governo. Foi o que aconteceu, como vimos pela hecatombe financeira de 2008, mostrada no filme.
Goste-se ou não de Stone, ele é um dos poucos cineastas americanos que não foge de confrontos. Fez filmes ótimos, outros menos felizes, mas sempre trouxe uma visão pessoal e marcante. Mais que um bom cineasta, é um cineasta necessário.
Em "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme", dá a sua versão dos encontros entre banqueiros e governo que culminaram num socorro público de US$ 700 bilhões.
"De quanto falamos?", pergunta o secretário do Tesouro. "600 ou 700", diz James, como se falasse de dólares, não de bilhões deles. O secretário explode: "Vocês querem que o governo banque isso? Sabem o que é isso? É socialismo!".
É Stone em seu melhor papel: o de provocador.