São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Débora Duarte está brilhante em "Adorável Desgraçada"

CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

O título "Adorável Desgraçada" ecoa a oscilação apaixonada da protagonista, Guta Mello Santos, cuja inveja pelas ousadias de sua melhor amiga de infância desdobra-se em ódio ou idolatria.
Escrito por Leilah Assumpção, o monólogo esconde sob o desdém de Guta em relação às gaiatices dessa "saracura de perna dura" algumas lembranças dolorosas entre as quinquilharias de seu passado.
Solteira e sozinha em seu apartamento, depara-se com a TV quebrada, sutil disparo dramático para preencher o silêncio com sua fala e ameaça de que o acesso ao mundo real começou a pifar.
A crescente desordem é retratada com cuidado pelo diretor Otávio Muller. O olhar respeitoso para a protagonista é recriado como rima na direção de arte de Bia Lessa.
Uma cortina de fios parece chover sobre o cenário, criando corredores e cômodos estreitos por onde ela circula. Os objetos fazem pesar o ar ali dentro. Entre eles, um quadro da Santa Ceia sugere parafernália moral e frisa que sua memória pessoal é oprimida por herança cultural.
Na descida em espiral da personagem, Débora Duarte extrai nobreza mesmo ao elaborar sentimentos em onomatopeias infantis. "Pararatibum", canta, em marcha debochada, até um copo que apoia na parede, para discernir a novela no vizinho, como se ansiasse ouvir um coração do outro lado.
Brilhante, a atriz consegue trazer à tona a tragédia de alguém que quis ser e nunca foi e acaba por conjugar os adjetivos contraditórios do título em apenas "adorável".


ADORÁVEL DESGRAÇADA

QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 18h; até 26/9
ONDE Teatro Cultura Artística (av. Presidente. Juscelino Kubitschek, 1.830, tel. 0/xx/11/3258-3344)
QUANTO de R$ 60 a R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo



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