São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2011

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CRÍTICA ROMANCE

Livros de Patterson são como sorvetes, deliciosos e breves

Tramas policiais não têm valor intelectual, mas prendem o leitor até o fim

A NARRATIVA USA A REDUNDÂNCIA PROGRAMADA: SE O LEITOR PERDER UMA INFORMAÇÃO IMPORTANTE, ELA SERÁ REPETIDA A CADA 20 PÁGINAS


NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os thrillers assinados pelo escritor James Patterson podem ser lidos, cada um, em no máximo quatro horas.
Em poucas assentadas, o mistério já está resolvido.
Por isso logo trazem à mente analogias com a culinária. Eles são preparados e deglutidos tão rapidamente que já foram comparados ao fast food, por exemplo.
Prefiro dizer que os romances de Patterson são como os sorvetes. Não têm qualquer valor nutricional, engordam, mas são irresistíveis.
Se, no ponto principal do cardápio, ficam os pratos mais sofisticados -a literatura que fortalece os músculos e os ossos-, no outro extremo nós temos as sobremesas.
Depois de forrar o intelecto com obras fundadas na linguagem -de Lobo Antunes, Paul Harding etc.-, quem consegue resistir a um saboroso romance de investigação, cujo único ingrediente é o enredo?
Patterson e sua equipe de redatores são mestres no enredo-que-realmente-enreda.

SELVAGERIA
"O Dia da Caça" pertence à série protagonizada pelo detetive-psicólogo negro Alex Cross. A trama tem início quando uma família inteira é chacinada dentro de casa. Outros homicídios com o mesmo padrão acontecem.
O foco amplia-se, entram em cena o fisiologismo da CIA e a guerra civil na Nigéria. Cross viaja para a África atrás dos assassinos, é preso e torturado. Os momentos de brutalidade na prisão são os melhores do livro.
"4 de Julho" pertence à série "O Clube das Mulheres contra o Crime".
Nesse romance, duas histórias correm paralelamente: o julgamento da tenente Lindsay Boxer, acusada de má conduta policial, e a investigação dos assassinatos brutais que ocorrem numa cidadezinha praieira.
As cenas de tribunal são de longe as melhores da história. Suspense de primeira, enervante.
É difícil resistir à tentação de saltar as páginas e ir direto ao veredito. Eu não resisti.
Diferentemente dos romances de Stieg Larsson ou Arnaldur Indridason, por exemplo, nos thrillers assinados por Patterson não há nada que se pareça minimamente com o que se convencionou chamar de "alta literatura".
Seus narradores-protagonistas são planos, a linguagem é literal e o realismo politicamente correto é frágil: o bem e a justiça sempre vencem no final.
Além disso, a narrativa faz uso da redundância programada: se o leitor se distrair e perder uma informação importante, tudo bem. Essa informação será repetida a cada 20 páginas.
O engraçado é que nada disso tira o sabor da leitura.
Mas cuidado: o texto das orelhas dos dois romances é do tipo "estraga-prazer", pois adianta pelo menos 30% da trama. Se você não gosta de começar um sorvete já parcialmente chupado, evite as orelhas dos dois.

NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral)

O DIA DA CAÇA E 4 DE JULHO
AUTOR James Patterson
TRADUÇÃO Fabiano Morais ("O Dia da Caça) e Marcelo Mendes ("4 de Julho")
EDITORA Arqueiro
QUANTO R$ 24,90 cada um (ambos têm 224 págs.)
AVALIAÇÃO bom




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