São Paulo, quinta, 24 de setembro de 1998

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RELÂMPAGOS
Luz no travesseiro

JOÃO GILBERTO NOLL

Ele custava para reconhecer o uso imediato das coisas. Tudo sofria de uma utilidade perversa com a qual jamais poderia se ombrear. Tateou o púbis, apalpou seus ovos: primeiro sentiu-os no prumo; logo percebeu-os tenros, desinteressados. Estava a tocar enfim um conteúdo para além da transparência, algo que saberia se lançar em busca da filha submersa num futuro. Antes precisaria abandonar o limbo adolescente em que se retardava, para se entregar então às delícias. Depois, o surdo queixume da idade. E o travesseiro rastreando a luz dos seus segredos. Lá fora a menina grita correndo atrás de um quase vôo.



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