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RELÂMPAGOS
Luz no travesseiro
JOÃO GILBERTO NOLL
Ele custava para reconhecer o uso imediato das coisas. Tudo sofria de uma utilidade perversa com a qual jamais poderia se ombrear.
Tateou o púbis, apalpou seus
ovos: primeiro sentiu-os no
prumo; logo percebeu-os tenros, desinteressados. Estava a tocar enfim um conteúdo para além da transparência, algo que saberia se lançar em busca da filha submersa num futuro. Antes
precisaria abandonar o limbo adolescente em que se retardava, para se entregar então às delícias. Depois, o surdo queixume da idade. E o
travesseiro rastreando a luz
dos seus segredos. Lá fora a
menina grita correndo atrás
de um quase vôo.
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