|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
25ª MOSTRA BR DE CINEMA DE SÃO PAULO
Documentário ilumina enigma Mário Peixoto
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O "caso" Mário Peixoto
(1908-92) é um dos enigmas
mais fascinantes da cultura brasileira. Realizador, aos 22 anos, de
uma obra-prima do cinema mundial, o experimental "Limite"
(1930-31), Peixoto não fez mais
nenhum filme, embora tenha escrito vários roteiros e iniciado a
produção de um segundo longa,
"Onde a Terra Acaba" (1931).
Fragmentos desse longa inacabado e imagens de bastidores das
filmagens de "Limite" são os principais atrativos de "Onde a Terra
Acaba", de Sérgio Machado.
À parte isso, Machado costura
de modo delicado e competente
um vasto material de arquivo e
depoimentos de gente que conviveu com Peixoto (a atriz de "Limite" Olga Breno, o caseiro de seu
"Sítio do Morcego", na Ilha Grande) ou sofreu o impacto de sua
obra (Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Walter Salles).
Machado organiza a vida do cineasta em blocos: os estudos na
Inglaterra; a aventura de "Limite"; a experiência fracassada de
"Onde a Terra Acaba" (por conta
de desavenças entre o diretor e a
atriz-produtora Carmen Santos);
o refúgio no "Sítio do Morcego".
Algumas passagens valem o ingresso: o "making of" de "Limite", com o diretor de fotografia
Edgar Brazil inventando seus prodígios, as belíssimas cenas do longa interrompido e, "last but not
least", depoimentos de Peixoto.
Num deles, extraído do documentário "O Homem do Morcego", de Ruy Solberg, o cineasta
descreve com tamanha minúcia e
ênfase uma cena de "A Alma Segundo Salustre" (um de seus roteiros não filmados) que é como
se o filme existisse de verdade.
Solberg diz que Peixoto planejava filmar "Salustre", mas, no momento de começar a filmar, inventava algum impedimento. O
último deles foi a exigência de que
os protagonistas fossem Roberto
Carlos e Brigitte Bardot.
O texto dito em "off" pelo ator
Matheus Nachtergaele é extraído
de diários do próprio Mário Peixoto. Quando necessário, discretos letreiros fornecem alguns dados essenciais sobre o biografado.
Se há um senão no documentário, é a tentativa de mimetizar o
estilo de Mário Peixoto recorrendo a algumas de suas imagens-chaves: lua cheia, nuvens, palmeiras ao vento filmadas em "contre-plongée" e, claro, muito mar quebrando nas pedras, ao som do
piano plangente de Satie.
Onde a Terra Acaba
Direção: Sérgio Machado
Produção: Brasil, 2001
Quando: hoje, às 20h50, na Sala
Cinemateca; amanhã, às 12h, no
Cinearte (Festival de Juventude); dia 29,
às 19h, no Cinemark Market Place; e dia
1º, às 15h50, no Unibanco Arteplex
Texto Anterior: Mônica Bergamo: Pesos e medidas Próximo Texto: Longa trata do sentido e sentidos da visão Índice
|