São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002 |
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ARTES PLÁSTICAS Ícone modernista, "nossa Frida Kahlo" reaparece em três mostras, duas biografias e espetáculo teatral Furacão Tarsila
FABIO CYPRIANO DA REPORTAGEM LOCAL No ano de comemoração de 80 anos da Semana de Arte Moderna, de 1922, Tarsila do Amaral (1886-1973), artista que não participou do evento, acaba sendo o destaque da programação de artes plásticas no fim do ano. "Ela virou um ícone, é a nossa Frida Kahlo. Embora Anita Malfatti seja mais pintora, Tarsila tem um charme, uma alegria e um exotismo surpreendentes", afirma Jorge Schwartz, curador de "Da Antropofagia a Brasília", uma das três mostras que enfocam a artista neste fim de ano. De fato, filha de ricos fazendeiros paulistas, Tarsila é dona de uma das mais glamourosas histórias da arte brasileira. Viveu na Paris dos anos 20 -onde estudou com Fernand Léger e por isso não participou da semana de 22-, casou-se várias vezes, sendo que a união mais famosa foi com o escritor Oswald de Andrade (1890-1954). Para ele, Tarsila pintou "Abaporu" (1928), que em tupi-guarani significa "o homem que come", e inspirou o Movimento Antropofágico de Andrade. A tela é a mais cara obra brasileira já vendida, por US$ 1,4 milhão, ao colecionador argentino Eduardo Costantini, e estará na mostra organizada por Schwartz. Os ventos do furacão Tarsila começam a soprar hoje com a mostra "Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti: Mito e Realidade do Modernismo Brasileiro" no Museu de Arte Moderna de São Paulo, com curadoria de Maria Alice Milliet. Já no próximo mês, três eventos marcam ainda sua presença na cidade. O primeiro deles é o relançamento de "Tarsila, Sua Obra e Seu Tempo", considerada a mais importante biografia da artista, feita pela crítica de arte Aracy Amaral, que desde 1986 não era publicada. Esta terceira edição, revista e ampliada, sai numa parceria da Edusp e a editora 34. No dia 23, é a vez de "Arte Brasileira na Coleção Fadel", no Centro Cultural Banco do Brasil, que também apresenta obras significativas de Tarsila. Finalmente, no dia 28, é a vez de o Museu de Arte Brasileira da Faap abrir a exposição curada por Schwartz, que foi vista no ano passado em Valência, na Espanha. A exposição ressalta a importância dos vínculos entre Tarsila e Oswald, e sua repercussão no modernismo brasileiro. Entretanto, é o início de 2003 que reserva maiores novidades sobre a artista: a peça "Tarsila" e a biografia "Tarsila por Tarsila", a ser lançada pela editora Cosac & Naify, escrita pela sobrinha-neta homônima da artista, Tarsila do Amaral, 37. "Há várias obras sobre minha tia, sem dúvida a biografia de Aracy Amaral é a número um, mas busquei retratar seu lado mais pessoal, histórias da família que merecem ser contadas", diz Tarsila. O livro irá apresentar ainda uma série de documentos e fotos inéditos da artista. "Vamos publicar uma reprodução do primeiro quadro dela, feito por volta de 1905, quando Tarsila vivia em Barcelona", conta a sobrinha-neta biógrafa, que está em fase de pré-produção de um documentário sobre a tia. "Tarsila virou uma bola de neve em minha vida", conta a outra Tarsila. Mas o furacão não termina em 2003. O cineasta Rodolfo Nanni, diretor de "O Saci" (1951), está em fase de captação para a produção do filme "Tarsila, o Olhar Antropofágico". Previsto para ser lançado em 2004, o filme trata do "período dos anos 20 até 1932, época áurea da produção de Tarsila", segundo Nanni. A artista não aproveitou em vida o prestígio que a coroa agora e movimenta os ares da arte no início do século 21. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: MAM revê brasilidade dos modernistas Índice |
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