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LIVROS
Vivendi vende suas editoras, incluindo Ática, por R$ 4,7 bilhões
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em negócio de 1,25 bilhão
(cerca de R$ 4,7 bilhões), o braço
editorial do principal grupo de
comunicações da França, a Vivendi Universal, está mudando de
donos. A gigante francesa vendeu
ontem todas as suas editoras na
Europa e na América Latina para
seu principal concorrente no próprio país, o grupo Lagardère, que
opera no mercado de livros com o
selo Hachette.
Endividada em mais de 18 bilhões, depois de uma série de
aquisições de grandes companhias a partir do final dos anos 90,
a Vivendi se desfez de selos de
grande porte, como Larousse,
Plon e Robert Laffont (França),
Anaya e Alianza (Espanha) e
Chambers (Inglaterra).
O Brasil também participa do
pacote. A Vivendi possuía desde
1999 metade das editoras nacionais Ática e Scipione, que têm
seus outros 50% nas mãos do
Grupo Abril (juntas, as companhias francesa e brasileira desembolsaram US$ 100 milhões pelas
editoras).
O diretor comercial e editorial
da Ática, Alfredo Chianca, diz que
só foi notificado da transação ontem pela manhã. Ele recebeu um
comunicado da Vivendi no qual o
presidente da empresa, Jean-René Fourtou, afirma: "O acordo
preenche completamente os três
objetivos interligados que pretendíamos alcançar quando tomamos a difícil decisão de vender
nossos negócios editoriais. Contribui para diminuir a dívida da
Vivendi Universal. Cumpre as
preocupações culturais relacionadas ao ato de publicar, que nunca
perdemos de vista. Oferece perspectivas de crescimento para os
negócios editoriais franceses e europeus do grupo".
Segundo Chianca, não deve haver modificações imediatas na
Ática, líder do mercado editorial
brasileiro, com faturamento de
R$ 211 milhões no ano passado.
"Trabalhamos com a previsão de
que, para nós, não deve haver nenhuma mudança", diz.
Crença semelhante manifestou
o ministro da Cultura da França,
Jean-Jacques Aillagon. "Eu sei
que a Hachette [nome do braço
editorial do grupo Lagardère] vai
respeitar escrupulosamente a liberdade editorial das casas que
pertenciam à parte francesa da
Vivendi", declarou o ministro.
O governo francês já declarara
abertamente que não gostaria de
que os selos editoriais locais da
Vivendi fossem para um grupo de
outro país. Com a negociação de
ontem, a Lagardère deve assumir
um poder inédito no âmbito do livro francês, com cerca de 60% do
mercado (o que inclui 80% do
mercado de didáticos, 70% da distribuição e 80% do mercado de livros de bolso).
Por conta disso, especula-se que
as autoridades européias antitruste devam demorar pelo menos
quatro meses para aprovar a negociação.
E as vendas da Vivendi no campo editorial ainda não terminaram. A empresa mais poderosa
do grupo nesta área e a única não
incluída no acordo de ontem com
o grupo Lagardère, a editora norte-americana Houghton Mifflin,
deverá ser vendida nas próximas
semanas.
Revistas especializadas no mercado editorial, como a americana
"Publishers Weekly", apontam
que a companhia de didáticos
com sede em Boston deve ser
comprada por algo entre US$ 1,5
bilhão e US$ 2 bilhões, valor inferior aos US$ 2,2 bilhões pagos pela Vivendi em 2001.
Uma holding composta pelo
banco francês Lazard e pelo fundo norte-americano Carlyle já fez
uma oferta (de valor não declarado) pela porção norte-americana
da Vivendi.
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