São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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LIVROS

Vivendi vende suas editoras, incluindo Ática, por R$ 4,7 bilhões

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em negócio de 1,25 bilhão (cerca de R$ 4,7 bilhões), o braço editorial do principal grupo de comunicações da França, a Vivendi Universal, está mudando de donos. A gigante francesa vendeu ontem todas as suas editoras na Europa e na América Latina para seu principal concorrente no próprio país, o grupo Lagardère, que opera no mercado de livros com o selo Hachette.
Endividada em mais de 18 bilhões, depois de uma série de aquisições de grandes companhias a partir do final dos anos 90, a Vivendi se desfez de selos de grande porte, como Larousse, Plon e Robert Laffont (França), Anaya e Alianza (Espanha) e Chambers (Inglaterra).
O Brasil também participa do pacote. A Vivendi possuía desde 1999 metade das editoras nacionais Ática e Scipione, que têm seus outros 50% nas mãos do Grupo Abril (juntas, as companhias francesa e brasileira desembolsaram US$ 100 milhões pelas editoras).
O diretor comercial e editorial da Ática, Alfredo Chianca, diz que só foi notificado da transação ontem pela manhã. Ele recebeu um comunicado da Vivendi no qual o presidente da empresa, Jean-René Fourtou, afirma: "O acordo preenche completamente os três objetivos interligados que pretendíamos alcançar quando tomamos a difícil decisão de vender nossos negócios editoriais. Contribui para diminuir a dívida da Vivendi Universal. Cumpre as preocupações culturais relacionadas ao ato de publicar, que nunca perdemos de vista. Oferece perspectivas de crescimento para os negócios editoriais franceses e europeus do grupo".
Segundo Chianca, não deve haver modificações imediatas na Ática, líder do mercado editorial brasileiro, com faturamento de R$ 211 milhões no ano passado. "Trabalhamos com a previsão de que, para nós, não deve haver nenhuma mudança", diz.
Crença semelhante manifestou o ministro da Cultura da França, Jean-Jacques Aillagon. "Eu sei que a Hachette [nome do braço editorial do grupo Lagardère] vai respeitar escrupulosamente a liberdade editorial das casas que pertenciam à parte francesa da Vivendi", declarou o ministro.
O governo francês já declarara abertamente que não gostaria de que os selos editoriais locais da Vivendi fossem para um grupo de outro país. Com a negociação de ontem, a Lagardère deve assumir um poder inédito no âmbito do livro francês, com cerca de 60% do mercado (o que inclui 80% do mercado de didáticos, 70% da distribuição e 80% do mercado de livros de bolso).
Por conta disso, especula-se que as autoridades européias antitruste devam demorar pelo menos quatro meses para aprovar a negociação.
E as vendas da Vivendi no campo editorial ainda não terminaram. A empresa mais poderosa do grupo nesta área e a única não incluída no acordo de ontem com o grupo Lagardère, a editora norte-americana Houghton Mifflin, deverá ser vendida nas próximas semanas.
Revistas especializadas no mercado editorial, como a americana "Publishers Weekly", apontam que a companhia de didáticos com sede em Boston deve ser comprada por algo entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões, valor inferior aos US$ 2,2 bilhões pagos pela Vivendi em 2001.
Uma holding composta pelo banco francês Lazard e pelo fundo norte-americano Carlyle já fez uma oferta (de valor não declarado) pela porção norte-americana da Vivendi.


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