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"O Signo do Caos" é exibido hoje, às 13h, e domingo, às 17h10
Rogério Sganzerla filma contra a ilusão cinematográfica
Divulgação
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Cena do filme "O Signo do Caos", que é exibido hoje na Mostra |
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Para Rogério Sganzerla, o fato fundante da nacionalidade
é o desaparecimento de "It's All
True", o filme que Orson Welles
(1915-85) realizou no Brasil durante a Segunda Guerra.
Assim, enquanto o censor varguista preocupa-se com "a imagem" do país de que o mundo pode ter conhecimento, para Sganzerla não há mais imagem possível a partir dessa recusa inaugural. Em "O Signo do Caos", esse
bloqueio traduz-se pela frase:
"Você ainda não viu nada! Nem
vai ver!". Ou seja: não existe horizonte visível para o país.
Parêntese: o filme perdido de
Orson Welles hoje já não é tão
perdido assim. Foi encontrado
em Hollywood e o episódio do
jangadeiro Jacaré foi montado e
exibido. O outro, do Carnaval, foi
abortado -existem algumas
imagens, mas Welles nada mais
fez do que esboçar o episódio.
A quem cabe a culpa pela interrupção do projeto? Na melhor das
hipóteses, pode ser repartida entre governo brasileiro (de fato ressabiado com a imagem que Welles veicularia do país) e RKO (que
queria ver Welles pelas costas).
Não importa a verdade histórica. Para todos os efeitos, para
Sganzerla, somos o país que tragou Welles. Rejeitado, o gênio
aniquila o país. O signo do caos
brasileiro é seu filme perdido.
Não temos imagem possível. Daí
esse "antifilme" (que é como se
apresenta): filme da não-imagem,
da imagem impraticável. Filme
contra a ilusão cinematográfica
em geral, o que significa dizer: um
filme desiludido, que se dá conta
da ilusão do cinema como a grande arte do século 20. O século 20
acabou, levando também essa ilusão: a arte em que real e ficção se
completam e se fundem falhou.
Restou o quê? A indústria cultural, isto é: isso que hoje se denomina "produtos audiovisuais".
Produtos, em suma, engendrados
por crenças do tipo "o cinema nacional melhorou muito ultimamente". Crenças que "O Signo do
Caos" parece existir para desmentir: não, o cinema nacional não
melhorou, porque não pode melhorar o que não existe.
Acreditar que existe (e melhorou): não pode haver ilusão mais
extrema para Sganzerla. Talvez
ajude a comprovar isso o fato de
nosso "cinema que melhorou" ser
uma empreitada ilusionista, atrasada, digna dos anos 40.
"O Signo do Caos" é um filme
pessimista, amargo -filme da invisibilidade do Brasil. Do fazer
impossível de um filme na terra
que renegou Welles. Filme tão íntegro e espantoso quanto notável.
O Signo do Caos
Veja programação à pág. E4 e sinopses
da 27ª Mostra em www.folha.com.br/especial/2003/mostrabrdecinema
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