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Crítica/"El Otro"
Argentino retrata angústia da identidade
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Dizer que Ariel Rotter é
um Antonioni argentino seria um tremendo
exagero. Mas em "El Otro", seu
segundo longa-metragem, encontramos muitos pontos em
comum com o cinema do mestre italiano: um certo tom contemplativo, uma atenção especial ao espaço e ao tempo, o tema da identidade pessoal, a angústia latejando em cada plano.
Uma sinopse possível: Juan
Desouza (Julio Chávez, melhor
ator no Festival de Berlim),
portenho de classe média, provavelmente corretor de imóveis ou advogado, faz uma viagem de trabalho a uma cidadezinha do interior.
Desouza deveria voltar no
mesmo dia, mas, ao compreender que seu vizinho de poltrona
no ônibus não acordará nunca
mais, decide roubar o nome do
outro e assumir para si uma nova identidade e uma nova profissão.
A circunstância remete imediatamente a "O Passageiro
-Profissão: Repórter", de Antonioni. Mas não nos apressemos: em poucas horas, Desouza
adotará outros nomes e ofícios,
como se tentasse recuperar
num único dia todas as vidas
que deixou de viver nos últimos
20 anos.
À deriva numa cidade que
desconhece, o personagem se
reinventa a cada passo. O espectador vai junto, descobrindo com ele o fascínio renovado
das coisas cotidianas.
Nessa peregrinação sem destino, há vários esboços de situações eróticas, nas quais o objeto
do desejo sempre se mostra esquivo, prestes a se entregar ou a
desaparecer. Um clima semelhante ao do "Breve Romance
de Sonho", de Arthur Schnitzler, que inspirou "De Olhos
Bem Fechados", de Kubrick.
Ariel Rotter, de 36 anos, é
mais um cineasta argentino cujo nome vale a pena reter, ao lado de Lucrecia Martel, Pablo
Trapero, Daniel Burman e uns
tantos outros. Pratica um cinema discretamente sofisticado,
feito de concisão, despojamento e silêncio.
Longas seqüências sem diálogos e sem música, primazia
absoluta da imagem e uma sensibilidade particular para os sinais emitidos pelo corpo.
Não por acaso, as primeiras
cenas do filme são de um teste
de visão e, em seguida, de um
teste de gravidez. Para Rotter, é
o corpo que revela os tormentos da alma.
EL OTRO
Direção: Ariel Rotter
Produção: Argentina, França, Alemanha, 2007
Com: Julio Chávez e Osvaldo Bonet
Quando: hoje, 18h40, no Unibanco Arteplex 1; amanhã, 16h20, no Cine Bombril 1; dia 27, 16h40, na Cinemateca-BNDES; dia 29, 20h20, HSBC Belas Artes 2
Avaliação: ótimo
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