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MOSTRA
O diretor indie Brad Anderson fala sobre "Próxima Parada, Wonderland", filme que tem última exibição hoje
Bossa nova intervém em filme americano
LÚCIO RIBEIRO
Editor-interino da Ilustrada
A tardinha, o barquinho, o patinho e o cinema independente norte-americano. Hoje é a última
chance de assistir, na Mostra de
SP, ao filme "Próxima Parada,
Wonderland", comédia romântica
das boas embalada da primeira à
última película por ela mesmo: a
bossa nova brasileira.
E a nossa bossa, que beleza, não
serve apenas de trilha sonora do
filme. Ela intervém na história desse produto do Sundance Festival,
no gosto musical da personagem
principal deste "Próxima Parada,
Wonderland".
E está mais ainda na voz de um
conquistador barato "brasileiro",
que aparece na trama para tentar
aliviar as dores do coração da protagonista, tentando convencê-la a
vir com ele ao Brasil, uma "terra
com o povo mais maravilhoso do
mundo e onde se pode comer peixe frito à beira do mar todo dia".
"Próxima Parada, Wonderland",
que começa com "Desafinado" e
termina com "Wave", traz os caras-novas Hope Davis e Alan Gelfant, em uma alegre trama triste
sobre destino, bem construída pelo jovem diretor Brad Anderson,
de 33 anos, que durante todo o filme entrecruza a história de uma
enfermeira de Boston que trabalha
no turno da madrugada com a de
um rapaz que acumula funções de
mergulhador e de encanador no
aquário da cidade.
Brad Anderson falou à Folha anteontem, por telefone, de Nova
York, e explicou por que preferiu a
bossa brasileira ao rock alternativo
norte-americano como trilha de
seu filme. E se embananou na hora
de definir a palavra "saudade".
Folha - O que o levou a botar a
bossa nova dentro da história de
"Próxima Parada, Wonderland"?
Brad Anderson - Eu na verdade
sou apaixonado por esse tipo de
música. Sei que bossa nova não é
nenhuma novidade no Brasil, mas
aqui nos Estados Unidos o interesse das pessoas por músicas assim
está ficando bem grande. De uns
dois anos para cá a lounge music
tem se tornado uma tendência cada vez maior. E nela se incluem ritmos como esse tipo de jazz brasileiro que é a bossa nova. Foi meu
interesse particular por bossa nova
que me levou a botar essa música
em meu filme. Acho que é um ritmo alegre (?!?), que casa bem com
a comédia romântica que é "Próxima Parada, Wonderland".
Folha - Você já teve alguma experiência brasileira, como ter visitado o Brasil? Como se deu seu
contato com a bossa nova?
Anderson - Nunca estive no Brasil. Tenho planos de ir para aí em
dezembro, sabia? De algum modo,
usar o Brasil no filme foi um tipo
de escape. Eu vivo em Nova York e
aqui é frio, chuvoso... E, por causa
desse clima difícil, lugares exóticos
como Rio, São Paulo estão sempre
em mente, como um tipo de rota
de fuga de nossos problemas.
Folha - Não é exatamente um
problema, mas é engraçado para
nós do Brasil ouvir, em seu filme, o
sotaque do "romântico brasileiro".
Andre de Silva (Jose Zuniga) quando ele fala em português. De onde
ele é?
Anderson - Ele é americano, mas
viveu muito tempo na Colômbia.
Na verdade, não sei direito. Foi em
algum lugar na América Latina.
Soa engraçado para vocês, é? O
problema é que nós não tínhamos
muita noção se o português que ele
falava era bom ou não. Se eu soubesse, teria feito ele treinar mais.
Folha - Você tem algum interesse
especial no significado da palavra
brasileira "saudade", que mereceu
destaque em uma cena do filme.
Foi por causa de uma velha história de que essa palavra portuguesa
não tem uma exata tradução em
outras línguas?
Anderson - Eu sei dessa história.
"Saudade" é uma palavra que tem
muitos sentidos. De algum modo,
é a palavra que descreve os sentimentos da personagem principal.
Ela está à procura da felicidade,
mas sabe que ela não dura muito. É
como aquela música, "A Felicidade", que diz que tristeza não tem
fim, mas felicidade, sim. Acho que
o mais perto que a tradução inglesa
pode chegar de "saudade" é com a
palavra "melancholy", que é um
maravilhoso e agridoce sentimento, algo como coisa boa e ao mesmo tempo ruim. Falei bobagem?
Folha - Seu filme está sendo exibido em São Paulo, na Mostra Internacional de Cinema. Como você
perdeu essa chance de vir ao Brasil
para apresentar seu filme tão "brasileiro"? Você não foi convidado?
Anderson - Eu queria ir, mas disseram para viajar nesta semana.
Não pude, pois estou mudando de
cidade. Acabei de chegar a Nova
York, vindo de Boston.
Folha - A Miramax deu a você cerca de US$ 6 milhões para a distribuição de "Próxima Parada, Wonderland" nos cinemas americanos.
Não é uma quantia alta para apostar em um diretor novo do cinema
independente? Você já está virando um diretor "mainstream" com
seu segundo filme?
Anderson - Acho que ainda sou o
mesmo cara, mas não posso reclamar do dinheiro. É claro que a
pressão aumenta. A Miramax
comprou "Próxima Parada, Wonderland" por essa quantia, no Sundance Festival, e desde então o filme tem ido muito bem nas bilheterias. A compra ajuda a sacramentar a idéia de que Hollywood está
levando a sério os filmes independentes. Você sabe, dinheiro fala alto. E é bem-vinda uma ajuda dessas, que serve para que você consiga mostrar seu trabalho para o
maior número de pessoas possível.
Folha - Você já está preparando o
sucessor de "Próxima Parada,
Wonderland"?
Anderson - Estou trabalhando
em um projeto de horror, que deve
ser meu próximo filme. Mas não
um horror adolescente. Algo mais
adulto, terror sério. Tenho a idéia
de fazer um drama também. Vamos ver o que sai primeiro.
˛
Quando: hoje, às 18h20, no Masp
˛
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