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FOTOGRAFIA
Rio Branco verte cinema em fotografia
EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia
São dois livros de fotografias ou
dois caminhos para a abstração
que levam ao nome do artista plástico e fotógrafo Miguel Rio Branco,
52. Ele lança esta semana "Silent
Book" (Cosac & Naify Edições
Ltda.), um ensaio acabado, e "Miguel Rio Branco" (Cia. das Letras),
um apanhado de sua obra ou, como prefere o artista, o "livro de
percurso".
Por se tratar de um projeto complexo e descartar a hipótese de
uma coletânea de imagens, "Silent
Book" mantém uma unidade editorial rara em livros de fotografia.
É como uma coerente sequência de
imagens de um filme.
Se "Miguel Rio Branco" não possui a mesma unidade, conta a seu
favor o fato de reunir vários trabalhos representativos desde o início
da carreira do artista até hoje, inclusive fotos de instalações com vídeo como "Entre os Olhos, o Deserto", exibida no ano passado em
San Diego (EUA).
O que o primeiro livro mostra
em profundidade, o segundo mostra em extensão. Em ambos vislumbra-se a força da poesia trágica, escrita com luz tênue e cores
fortes.
Como atestam esses livros, em
Miguel Rio Branco nunca se deve
ficar preso a uma imagem isoladamente. Assim como em suas instalações, em seus livros é fundamental perceber como as imagens se
interligam e dialogam entre si. É
por isso que a edição ou a montagem de seu trabalho são tão ou
mais importantes que o ato fotográfico.
"Quando fotografo não estou necessariamente fazendo fotografia.
Estou o tempo todo pensando em
pintura, em cinema", diz Rio Branco, considerado, graças à forma
como utiliza a cor, um dos melhores fotógrafos do mundo pela crítica especializada.
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Abstração
Nesse sentido, "Silent Book" é cinema transformado em livro, onde
o roteiro esbanja suspense e, sobretudo, suspensão. Rio Branco
conduz a um intrincado universo
de detalhes de corpos, de animais,
de vegetais geralmente mortos
mas que vicejam vida na cor, na
textura e denotam claramente a
passagem do tempo, as marcas das
histórias vividas. A sobrevida do
que a sua câmera vê está na explosão da cor, no rigor da composição.
Tudo reforçado por uma luz difusa, escassa, anterior à escuridão.
São flagrantes silenciosos da matéria em mutação.
Não se espere de Rio Branco, porém, uma narrativa linear. É preciso abstrair e perder de vez a necessidade atávica de querer uma historinha com começo, meio e final
feliz.
Nenhuma história de vida é linear. Não há verdades absolutas e
tampouco existe um final, posto
que a morte é apenas mais um dos
doloridos ritos humanos, assim
como a paixão, como os temores.
"Incomoda-me essa linha de trabalho excessivamente referencial
que tem sido feita na fotografia.
Tem muita gente fazendo jornalismo para pendurar na parede. Eu
sou cada vez mais atraído pela abstração. Acho que no meu próximo
trabalho não vai dar para ver nada
nas fotos", diz Rio Branco.
Os dois livros, na prática, reforçam a teoria de que Rio Branco é
um fotógrafo que não busca temas
para fotografar, mas sim conceitos
para explorar.
Assim, o que ele quer dizer pode
tanto estar dentro do quarto de
uma prostituta, numa academia de
boxe ou numa briga de galo. No limite, é como dizer que Rio Branco
fotografa a si mesmo o tempo todo.
Sua predileção por ambientes
marginalizados e abandonados,
porém, aponta para uma saída
poética muito bem captada pelo
escritor e crítico de arte David Levi
Strauss, no prefácio do livro da
Companhia das Letras: "Quando
já fomos despojados de tudo, só
nos resta a beleza".
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Livro: Miguel Rio Branco
Autor: Miguel Rio Branco
Lançamento: Cia. das Letras
Quanto: R$ 65 (123 fotos/152 págs.)
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Livro: Silent Book
Autor: Miguel Rio Branco
Lançamento: Cosac & Naify Edições Ltda.
Quanto: R$ 40 (74 fotos/96 págs.)
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