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MÚSICA
U2 está no Rio para divulgar "All That You Can't Leave Behind", seu mais recente CD, lançado há três semanas
"Tive a sensação de ter roubado os fãs em 1998", diz Bono
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LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A segunda visita da banda irlandesa U2 ao Brasil tem sido menos
traumática para a cidade do Rio
de Janeiro do que foi a primeira,
em 1998, quando a cidade entrou
em colapso no dia do show do
grupo no autódromo Nelson Piquet, no Jacarepaguá. Daquela
vez, o caminho da zona sul ao local da apresentação, cerca de 30
km, virou uma epopéia de cinco
horas.
O U2 está no Rio desta vez para
divulgar seu mais recente álbum,
"All That You Can't Leave Behind", que chegou às lojas do planeta há apenas três semanas.
A banda de Bono Vox tocaria
três músicas ("Beautiful Day",
"Stuck in a Moment..." e "Elevation") ontem à noite em uma gravação especial no Projac -a "cidade" dentro do bairro de Jacarepaguá onde os programas da Rede Globo são produzidos, com exceção dos jornalísticos-, mini-show que vai ao ar no próximo
domingo como principal atração
do programa "Fantástico".
Como parte dessa divulgação
do novo álbum, o vocalista e líder
Bono e o baterista Larry Mullen
conversaram com exclusividade
com a Folha no hotel Copacabana
Palace, anteontem.
Bono e Mullen falaram do novo
disco, da próxima turnê mundial,
dos planos da banda de gravar um
videoclipe no Rio (leia texto ao lado) e dos shows no Brasil em 1998.
Folha - A banda está satisfeita
com "All That You Can't Leave Behind"?
Larry Mullen - Muito. Dez, numa
escala de zero a dez. É um álbum
que nos reuniu em estúdio escrevendo as letras, fazendo as músicas e gravando por cerca de um
ano e meio.
O resultado final, para a banda,
foi empolgante. Estamos orgulhosos do disco. É daqueles que
você não vê a hora de sair em turnê para tocar suas canções.
Bono - "All That You Can't Leave
Behind" é o nosso nono álbum,
mas nos deixou com um espírito
leve, jovem, como se acabássemos
de gravar o primeiro disco.
Folha - Grande parte da crítica
musical, tanto inglesa como americana, celebra o disco como uma
volta do U2 às raízes, algo como
"eles deixaram de lado as experimentações tecnológicas e retornaram ao rock'n'roll do início". Vocês
vêem assim? Tem a ver com esse espírito jovem que o Bono mencionou?
Bono - Não. Isso é bobagem. Não
acho que é "uma volta do U2 às
raízes". Considero até que esse é
um álbum bastante sofisticado,
em vários aspectos. Ele é cru,
emocional, mas foi muito trabalhado.
Críticos dizem isso porque é algo fácil de dizer. Quando aparecemos com "Beautiful Day" pela
primeira vez, com Edge fazendo
aqueles riffs de guitarra, todo
mundo falou: "Uau, isso é 1980".
Eles ignoram o fato de que é
uma bateria eletrônica que abre a
canção. O início dela tem vários
loops, muitos efeitos. A música
não tem nada de 1980, nem o restante do álbum.
Folha - Depois de nove discos e 20
anos de carreira, como é, para vocês, gravar um álbum que, em três
semanas de lojas, já chegou ao primeiro lugar nas paradas de 31 países?
Bono - É fantástico. Sinto o
maior dos sentimentos. Não falo
isso pelo lado comercial. Numa
banda bem-sucedida como a nossa, a vendagem não é a juíza das
coisas. Se nossa música toca no
rádio e atinge o sentimento das
pessoas de alguma maneira, nosso trabalho está feito.
Com esse novo disco, acho que
o U2 atingiu uma excelência, uma
elevação.
Parece que, mesmo se você pegar músicas diferentes da banda,
como "New Year's Day", "Discothèque", "Beautiful Day", você
consegue enxergar a cor do U2.
Imagine que todo grupo de rock
pudesse ser associado a uma cor.
Como na pintura: se você fala Van
Gogh, o amarelo ou o laranja vêm
à mente, de modo natural. Quando você pensa em Picasso, você
pensa no vermelho. No rock,
grandes grupos despertam uma
cor.
Os Rolling Stones, você consegue dar uma cor a eles. O Radiohead tem a sua, o Oasis também.
Os Beatles têm umas três ou quatro cores a que você associa suas
canções.
Agora, acho que o U2, com esse
novo álbum fechando o ciclo de
20 anos da banda, conseguiu esticar seu espectro de cores. A banda
tem uma cor, mas com vários
tons. Sei lá, imagino o U2 vermelho. Que pode ser imaginado laranja nos tempos do "Boy",
"War" e que vem até o violeta,
agora.
Penso dessa maneira. Filosofei
demais?
Folha - Como estão os preparativos para a próxima turnê? O Brasil
está nos planos?
Mullen - Nossa turnê mundial
começa em abril. Não há nada
muito planejado ainda. Há uma
intenção da banda de tocar em lugares menores, de fazer uma coisa
mais simples do que foi a PopMart Tour.
O Brasil, claro, está nos planos.
Não temos um calendário ainda,
mas talvez vamos tocar aqui no final do ano que vem, talvez em
2002.
Folha - Olhando para trás, para
1998, o que vocês lembram dos
shows do Brasil, os dois de São Paulo e aquele que parou o Rio de Janeiro?
Bono - Não vou mentir. Não tenho sentimentos bons quando
me lembro do show do Rio. Em
São Paulo foi incrível, achei a cidade espetacular. A segunda
apresentação lá eu considero mágica, rara.
Mas, no Rio, tive a sensação de
roubar nossos fãs. As pessoas que
ficaram com ingresso na mão sem
conseguir chegar até nós. Os que
ouviam nosso show da estrada...
Embora saiba que não era nossa
culpa, mesmo depois de ver os
responsáveis discutirem sem saber o que fazer, me sinto culpado
por aquele dia.
É em parte por isso que escolhemos o Rio de Janeiro para esse
evento da TV e é por isso também
que, toda vez que tivermos uma
boa desculpa para vir ao Brasil,
estaremos aqui.
Aqueles shows em 1998 foram
especiais para a banda. Estávamos diante de pessoas que nunca
tínhamos visto na vida e, mesmo
assim, nos sentimos confortáveis
como se estivéssemos em casa.
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