São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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CINEMA/ESTRÉIAS
"DANÇANDO NO ESCURO"
Björk arrebata mesmo os corações mais duros

DA REDAÇÃO

Se você sofre dos nervos, não vá. Se tem estômago fraco, não vá. Se você -como esta pobre colunista- não aguenta nem filme de guerra, filmes com crianças, tramas de amores fracassados, desencontros, passe longe de "Dançando no Escuro". Mas, se você é -como esta colunista- um orgulhoso fã de Björk, faça um esforço, pegue o kleenex e rume ao cinema. Vale a pena? Vale, mas o preço emocional é alto.
Vendo o filme, dá para entender por que Björk brigou com o diretor Lars von Trier. O que ele faz com ela -e com o espectador- é praticamente uma sacanagem.
Lembre-se disso para tentar atenuar seu estresse: tudo sempre pode piorar para Selma -e piora. Nossa heroína sofre toda sorte de injustiças e infortúnios. E dizer que Selma "está ficando cega" é eufemismo diante das cenas que a mostram tateando no escuro em uma floresta ou seguindo trilhos com os pés para não se perder.
Alguém falou de cenas musicais, certo? Pois elas só fazem piorar. Nos momentos mais tensos, corta para uma cena mais improvável que o mais alienante número de Gene Kelly. São tristes os versos das canções em que Selma se liberta de sua realidade e sonha, momentos de redenção para ela, mas que aos olhos do espectador reforçam ainda mais sua prisão.
Já sei: acha que é exagero meu de mulherzinha, que a trama é inverossímil, que aquilo é só um filme, que aquelas são a Björk e a Catherine Deneuve, e não duas operárias sofridas numa fábrica pobre? Tudo isso dá para pensar. Mas é impossível não se envolver, ao menos com a interpretação arrebatadora de Björk. Com seu rosto único e familiar, não se sabe onde termina Björk, onde começa Selma. Daí o prêmio em Cannes.
Ela vai ao limite e empresta seu amor pela música e toda a humanidade necessária para você entrar no dramalhão.
Bem, 134 minutos depois, a devastação continua, e o filme continua em sua mente. Restam ódio a Lars von Trier e uma amorosa cumplicidade com Björk. Como se, agora, você soubesse um pouco mais da vida. (ERIKA PALOMINO)


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