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CINEMA/ESTRÉIAS
"DANÇANDO NO ESCURO"
Björk arrebata mesmo os corações mais duros
DA REDAÇÃO
Se você sofre dos nervos, não
vá. Se tem estômago fraco,
não vá. Se você -como esta pobre colunista- não aguenta nem
filme de guerra, filmes com crianças, tramas de amores fracassados, desencontros, passe longe de
"Dançando no Escuro". Mas, se
você é -como esta colunista-
um orgulhoso fã de Björk, faça
um esforço, pegue o kleenex e rume ao cinema. Vale a pena? Vale,
mas o preço emocional é alto.
Vendo o filme, dá para entender
por que Björk brigou com o diretor Lars von Trier. O que ele faz
com ela -e com o espectador- é
praticamente uma sacanagem.
Lembre-se disso para tentar atenuar seu estresse: tudo sempre
pode piorar para Selma -e piora.
Nossa heroína sofre toda sorte de
injustiças e infortúnios. E dizer
que Selma "está ficando cega" é
eufemismo diante das cenas que a
mostram tateando no escuro em
uma floresta ou seguindo trilhos
com os pés para não se perder.
Alguém falou de cenas musicais, certo? Pois elas só fazem piorar. Nos momentos mais tensos,
corta para uma cena mais improvável que o mais alienante número de Gene Kelly. São tristes os
versos das canções em que Selma
se liberta de sua realidade e sonha,
momentos de redenção para ela,
mas que aos olhos do espectador
reforçam ainda mais sua prisão.
Já sei: acha que é exagero meu
de mulherzinha, que a trama é inverossímil, que aquilo é só um filme, que aquelas são a Björk e a
Catherine Deneuve, e não duas
operárias sofridas numa fábrica
pobre? Tudo isso dá para pensar.
Mas é impossível não se envolver,
ao menos com a interpretação arrebatadora de Björk. Com seu
rosto único e familiar, não se sabe
onde termina Björk, onde começa
Selma. Daí o prêmio em Cannes.
Ela vai ao limite e empresta seu
amor pela música e toda a humanidade necessária para você entrar no dramalhão.
Bem, 134 minutos depois, a devastação continua, e o filme continua em sua mente. Restam ódio a
Lars von Trier e uma amorosa
cumplicidade com Björk. Como
se, agora, você soubesse um pouco mais da vida.
(ERIKA PALOMINO)
Avaliação:
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