São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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Produção do filme foi anárquica e caótica

ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

O simples fato de "As Panteras" ter sido finalizado foi um milagre. Tudo porque o filme, desde o primeiro dia, foi desenvolvido em meio a condições anárquicas e caóticas de produção.
Para começar, não havia -e até o último dia de filmagem não houve- um roteiro final.
Mais de 20 escritores foram chamados em um período de três anos para pincelar o roteiro -entre eles, alguns tirados de séries de TV como "Seinfeld" e "The Larry Sanders Show"- e, ainda assim, não se chegou a uma conclusão para o tipo de filme que esse seria.
Havia um começo, com o qual todos concordavam, mas faltavam meio e fim. Por isso, e antes mesmo que o filme pudesse entrar na sala de edição, constantes boatos de brigas e desentendimentos entre atores, produtores e diretor no set de filmagem chegavam semanalmente às páginas de jornais e revistas americanos.
"Quando você reúne pessoas inteligentes e de personalidade forte, dá nisso", disse à Folha o diretor estreante McG. "Fizemos questão de estabelecer e exercer uma democracia", disse a produtora Nancy Juvonen.
Mas o sistema democrático pode rapidamente se tornar anárquico, se não houver pelo menos um pulso forte. Com o comando de um projeto milionário entregue a jovens estreantes, não demorou para que isso acontecesse.
"Imagine estar no set, correndo contra o relógio, e não ter a cena no papel", disse McG. "Cada um vai querer fazer do seu jeito."
O diretor garante que a experiência foi divertida, e não violenta como se noticiou, mas assegura que jamais trabalharia assim novamente. O fato é que palpites vieram de todos os lados.
Bill Murray, o novo Bosley, que por pouco não saiu aos golpes de kung fu pelo set com Lucy Liu devido a idéias conflitantes para uma simples cena, fez questão de que seu personagem não fosse homossexual, como estava previsto no roteiro original.
Cameron Diaz quis acrescentar cenas de dança para sua Natalie. Drew tirou armas do roteiro e inseriu golpes de kung fu por todos os lados. McG insistiu para que Barrymore revisitasse sua casa em "E.T.". Até as Panteras antigas pareciam saber o que fazer.
"Farrah (Fawcett) me ligou para dizer que faria o filme desde que fosse a mulher de Charlie", disse o produtor Leonard Goldberg, que também produziu a série de TV nos anos 70. "Jaclyn Smith só faria se pudesse interpretar a vilã; somente Kate (Jackson) garantiu que ficaria feliz com qualquer ponta no filme", afirmou.
"Na verdade, queríamos que as três tivessem participado", disse a produtora Drew Barrymore. Mas a idéia, segundo Goldberg, era inserir as Panteras antigas em uma cena na qual, andando em direções opostas em um aeroporto qualquer, as seis se encontrariam, trocariam olhares e seguiriam seus caminhos. Só que o energético McG tinha outras intenções.
"Na minha cabeça, elas deveriam se encontrar dentro de um elevador", disse. "A câmera ficaria focada no rosto das seis, que nada diriam enquanto o elevador desceria ao som de "Garota de Ipanema"."
Mas Farrah Fawcett não abriu mão de ser a mulher da voz que comanda o trio, e, assim, as Panteras antigas saíram do roteiro antes mesmo de terem entrado nele.
Finalmente, US$ 92 milhões e seis meses depois, o filme era concluído. Apenas Bill Murray, que não apareceu para entrevistas nem para a première em Los Angeles, não se manifestou.


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