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Produção do filme foi anárquica e caótica
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
O simples fato de "As Panteras"
ter sido finalizado foi um milagre.
Tudo porque o filme, desde o primeiro dia, foi desenvolvido em
meio a condições anárquicas e
caóticas de produção.
Para começar, não havia -e até
o último dia de filmagem não
houve- um roteiro final.
Mais de 20 escritores foram chamados em um período de três
anos para pincelar o roteiro -entre eles, alguns tirados de séries de
TV como "Seinfeld" e "The Larry
Sanders Show"- e, ainda assim,
não se chegou a uma conclusão
para o tipo de filme que esse seria.
Havia um começo, com o qual
todos concordavam, mas faltavam meio e fim. Por isso, e antes
mesmo que o filme pudesse entrar na sala de edição, constantes
boatos de brigas e desentendimentos entre atores, produtores e
diretor no set de filmagem chegavam semanalmente às páginas de
jornais e revistas americanos.
"Quando você reúne pessoas inteligentes e de personalidade forte, dá nisso", disse à Folha o diretor estreante McG. "Fizemos
questão de estabelecer e exercer
uma democracia", disse a produtora Nancy Juvonen.
Mas o sistema democrático pode rapidamente se tornar anárquico, se não houver pelo menos
um pulso forte. Com o comando
de um projeto milionário entregue a jovens estreantes, não demorou para que isso acontecesse.
"Imagine estar no set, correndo
contra o relógio, e não ter a cena
no papel", disse McG. "Cada um
vai querer fazer do seu jeito."
O diretor garante que a experiência foi divertida, e não violenta como se noticiou, mas assegura
que jamais trabalharia assim novamente. O fato é que palpites vieram de todos os lados.
Bill Murray, o novo Bosley, que
por pouco não saiu aos golpes de
kung fu pelo set com Lucy Liu devido a idéias conflitantes para
uma simples cena, fez questão de
que seu personagem não fosse
homossexual, como estava previsto no roteiro original.
Cameron Diaz quis acrescentar
cenas de dança para sua Natalie.
Drew tirou armas do roteiro e inseriu golpes de kung fu por todos
os lados. McG insistiu para que
Barrymore revisitasse sua casa em
"E.T.". Até as Panteras antigas pareciam saber o que fazer.
"Farrah (Fawcett) me ligou para
dizer que faria o filme desde que
fosse a mulher de Charlie", disse o
produtor Leonard Goldberg, que
também produziu a série de TV
nos anos 70. "Jaclyn Smith só faria
se pudesse interpretar a vilã; somente Kate (Jackson) garantiu
que ficaria feliz com qualquer
ponta no filme", afirmou.
"Na verdade, queríamos que as
três tivessem participado", disse a
produtora Drew Barrymore. Mas
a idéia, segundo Goldberg, era inserir as Panteras antigas em uma
cena na qual, andando em direções opostas em um aeroporto
qualquer, as seis se encontrariam,
trocariam olhares e seguiriam
seus caminhos. Só que o energético McG tinha outras intenções.
"Na minha cabeça, elas deveriam se encontrar dentro de um
elevador", disse. "A câmera ficaria focada no rosto das seis, que
nada diriam enquanto o elevador
desceria ao som de "Garota de
Ipanema"."
Mas Farrah Fawcett não abriu
mão de ser a mulher da voz que
comanda o trio, e, assim, as Panteras antigas saíram do roteiro antes mesmo de terem entrado nele.
Finalmente, US$ 92 milhões e
seis meses depois, o filme era concluído. Apenas Bill Murray, que
não apareceu para entrevistas
nem para a première em Los Angeles, não se manifestou.
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