São Paulo, quinta-feira, 24 de novembro de 2005

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CRÍTICA

Longa é bom, mas não leve as crianças

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Criticar o mais novo episódio da cinessérie baseada nos livros de Harry Potter no dia de sua pré-estréia no Brasil, depois que todos os meios de informação (este inclusive) e de semi-informação (blogs de fãs, em geral) já bombardearam seus consumidores com fatos e análises de todos os aspectos possíveis de cada vírgula e til é escrever sobre Nova York para o turista que nunca foi lá: tudo já foi dito, antes e melhor.
Ainda assim, há novidades.
A de "Harry Potter e o Cálice de Fogo" é a seguinte: não leve as crianças abaixo de 12 anos, nem acompanhadas (elas) nem amarrado (você). Eu fiz essa besteira. Fui com meus dois sobrinhos, Pedro, 12, e Gabriel, 7. O primeiro adorou; o segundo gostou, menos, mas saiu chocado, ficou pensativo e verteu uma única lagriminha que me dói até hoje.
Dos quatro filmes, este é o mais violento e adulto. Há mãos decepadas, insinuações sexuais e a morte gratuita de um personagem inocente. Há a tão esperada "personificação" de Voldemort (vivido com fúria por Ralph Fiennes, ainda que sem nariz), numa cena em que os menorzinhos na sala fechavam os olhos de pavor.
O deslumbrante universo de magia com alguns sobressaltos que embalava a série nos dois primeiros episódios começou a se tornar mais sombrio no terceiro, transformação que se completa agora. É a entrada do bruxinho na adolescência, um período sombrio e angustiante por definição. Mas não sem seu lado engraçado, inusitado e de novidades.
Pois assim pode ser definido "O Cálice de Fogo": um filme adulto, feito para adolescentes. Começam as competições na escola que parecem ser de vida ou morte (no caso de Hogwarts e do torneio tribruxo, são mesmo, com Potter tendo de enfrentar um dragão, um desafio no fundo do mar e um labirinto de plantas móveis), os primeiros flertes (entre Harry e Cho Chang, Hermione e um atleta), as primeiras decepções amorosas (entre Hermione e Ron), as amizades colocadas em risco.
Em geral, o britânico Mike Newell ("Quatro Casamentos e Um Funeral") se sai bem na direção, com um senão: ter passado literalmente voando pelo torneio de quadribol no começo ("Acabou o dinheiro", diria Newell depois, mesmo com um orçamento de US$ 140 milhões).
De resto, na comparação com os outros filmes, fico com a de Pedro: "O primeiro era para os fãs, o segundo era para os críticos, o terceiro era para os dois, e o quarto, bom, o quarto eu vou pensar, tio". Completo para ele: o terceiro, dirigido por Alfonso Cuaron, permanece insuperável, mas o de hoje fica atrás por pouco.


Harry Potter e o Cálice de Fogo
Harry Potter and the Goblet of Fire
   
Direção: Mike Newell
Produção: EUA, 2005
Quando: pré-estréias hoje, às 23h50, na Rede Cinemark, e às 24h, no Kinoplex Itaim; estréia amanhã em circuito


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